Assembleia Nacional de Cabo Verde deverá aprovar voto de pesar pela morte do músico Jorge Neto. O artista morreu nesta quinta-feira (20.02) em Portugal. Ele teve um AVC no final de 2019 e estava internado.
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O cantor Jorge Neto morreu aos 55 anos nesta quinta-feira (20.02) no hospital Egas Moniz. O artista sofreu um AVC em sua casa em Lisboa no dia 30 de Dezembro e estava desde então internado em coma profundo, segundo comunicado da embaixada de Cabo Verde.
O cantor nasceu em São Tomé e Príncipe em 1964, sendo filho de mãe cabo-verdiana. Estudou em Portugal e emigrou depois para a Holanda, país com forte presença da comunidade cabo-verdiana e onde fez sucesso na música, enquanto vocalista da banda Livity.
Depois de 11 anos sem gravar um disco, Jorge Neto lançou em 2016 "Nha Palco", o seu nono álbum. Ao longo dos mais de 30 anos de carreira, fez sucesso em vários países, junto da comunidade emigrante cabo-verdiana, na Europa, África e América.
A morte do cantor provocou forte comoção dos fãs cabo-verdianos pelas redes sociais. Pelo Twitter também houve várias manifestações.
No Facebook, pessoas de todas as idades manifestaram o pesar pelo falecimento de Jorge Neto na página "Jorge Neto para sempre". O Presidente cabo-verdiano, Jorge Carlos Fonseca, lembrou que o cantor Jorge Neto como "um dos grandes" da música do país e destacou a sua "arte ímpar" de estar no palco, a singularidade dos rituais e a postura com os outros. "A notícia da morte de Jorge Neto deixa-me, rigorosamente, muito triste. Um dos grandes, verdadeiramente. Um artista, no pleno sentido da palavra", escreveu o Presidente numa mensagem publicada na rede social.
O chefe de Estado recordou que teve o privilégio de contar com a amizade do cantor, "num relacionamento forte e cúmplice", que terá nascido na Assomada, no ano de 1996. "Felizmente que ficam a voz ritmada, a arte ímpar de estar no palco, a singularidade dos rituais e da postura no estar com os outros", prosseguiu o Presidente na sua mensagem, em que também manifesta o seu "sentimentos de pesar e de conforto aos familiares, mas também aos amigos e aos admiradores de Neto".
Voto de pesar
Numa declaração na sua conta oficial na rede social Facebook, o primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, recorda Jorge Neto como um artista que "soube conquistar o coração da nação, não só pelo seu imenso talento e pela sua obra, como pela sua grandiosa humildade".
Também o ministro da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde, Abraão Vicente, considerou o cantor como "uma referência para as futuras gerações" de cabo-verdianos.
O presidente da Assembleia Nacional de Cabo Verde, Jorge Santos, anunciou que nesta sexta-feira (21.02) será aprovado naquele órgão um voto de pesar pela morte Jorge Neto, que recordou como uma figura que "uniu a nação" cabo-verdiana.
"Foi um grande artista, foi um homem que uniu a nossa nação na sua juventude e até hoje", declarou o presidente da Assembleia Nacional durante os trabalhos da segunda sessão parlamentar de fevereiro.
Santos apelou aos três partidos para, "em consenso", apresentarem o voto de pesar. Os partidos retorquiram afirmativamente, descrevendo Jorge Neto como um "grande vulto da música cabo-verdiana" ou, entre outras qualificações, um "herói da cultura nacional".
Marginalização: Onde vivem os afrodescendentes em Lisboa
Em Lisboa, vivem dispersas várias comunidades, entre as quais a africana e de afrodescendentes. Ao longo dos anos, foram submissas a uma posição social que contribuiu para a sua marginalização.
Foto: DW/J. Carlos
O caso extremo da Jamaica
Jamaica é um exemplo de marginalidade no Vale de Chícharros, situado no Seixal, no distrito de Setúbal. "As condições são incríveis. Nem se acredita", lamenta a arquiteta italiana, Elena Taviani. O realojamento das famílias, de acordo com a autarquia local, ficará completo em dezembro, antecipando o calendário para a sua conclusão em 2022. Aqui vai nascer um parque urbano e uma zona comercial.
Foto: DW/J. Carlos
Mapeamento dos bairros
A arquiteta italiana Elena Taviani decidiu fazer o mapeamento dos bairros residenciais onde é assinalável a presença de africanos e afrodescendentes para avaliar o índice de marginalização no espaço urbano na Área Metropolitana de Lisboa. O estudo em curso pretende mostrar que tais comunidades foram "empurradas" pelas estruturas do poder a ocupar uma posição marginal em Lisboa.
Foto: DW/J. Carlos
"6 de maio" em fase de extinção
No bairro "6 de maio", na Damaia, também construído por imigrantes africanos, ainda restam estruturas num raio de dois quilómetros. A forma como foram realizadas as demolições e o realojamento das pessoas que ali moravam ainda estão a ser objeto de grande debate e conflito entre a população e a Câmara Municipal.
Foto: DW/J. Carlos
Cova da Moura e o estigma da criminalidade
A Cova da Moura, no concelho da Amadora, mantém o seu traçado arquitetónico peculiar, onde é muito forte a identidade cultural africana, em particular a cabo-verdiana. Um dos bairros informais outrora rotulado de "problemático" pela imprensa "é um dos sítios onde as pessoas ainda evitam ir pelo seu forte estigma de negatividade e criminalidade", refere Elena Taviana.
Foto: DW/J. Carlos
Sinais de degradação no Bairro Amarelo
No Monte da Caparica, em Almada, fica o Bairro Amarelo. O também conhecido Bairro do Pica Pau Amarelo acolheu grupos de pessoas oriundas dos PALOP que viviam em barracas espalhadas pelo município. O bairro está minimamente dotado de infraestruturas sociais, mas notam-se sinais de degradação dos edifícios e falta de higienização nalgumas das áreas circundantes e do interior.
Foto: DW/J. Carlos
Protestos por uma melhor habitação
Ricardina Cuthbert, do precário Bairro da Torre em Camarate (Sacavém), é uma das vozes que, desde 2012, tem reclamado melhores condições de habitação para cerca de 40 famílias que lá vivem. "Tem sido um processo muito lento", lamenta a dirigente da Associação Torre Amiga.
Foto: DW/J. Carlos
Trajetória espacial dos afrodescendentes
Elena Taviani quer aprofundar o estudo sobre esses bairros para a sua tese de doutoramento a apresentar, em 2021, no Gran Sasso Science Institute (Itália). Em junho, a arquiteta publicou uma análise relativa à trajetória espacial dos afrodescendentes na revista científica de Estudos Urbanos "Cidades, Comunidades e Territórios", editada pelo Instituto Universitário de Lisboa.
Foto: DW/J. Carlos
Mouraria em transição
A Mouraria, onde vive Taviani com o marido cabo-verdiano e a filha, está numa fase de profunda renovação por força da especulação imobiliária. No passado, tinha o estereótipo de um lugar central, mas degradado, com rendas muito baixas, o que atraiu muitos imigrantes, entre os quais africanos. De acordo com a sua pesquisa, cerca de 25% dos que moram em Mouraria são originários dos PALOP.
Foto: DW/J. Carlos
Uma das zonas de referência
Apesar da inflação dos preços provocada pela valorização urbana e pelo turismo, o bairro da Mouraria ainda tem alguma presença de africanos e afrodescendentes. Ainda antes dos asiáticos, introduziram aqui o comércio de produtos oriundos de África, acabando por ser hoje uma zona de referência na capital para negócios e para quem quer fazer compras ou procurar gastronomia dos países de origem.
Foto: DW/J. Carlos
Sem razões de queixa
Januário morava numa barraca em Algés. Veio para Portugal com 16 anos e fixou-se na Outurela quando tinha 39 anos de idade. Natural de Cabo Verde, ele está em Portugal há 45 anos, já com nacionalidade portuguesa. Gosta do bairro e do convívio entre as pessoas. Os transportes funcionam bem, tem autocarros à porta. Não tem razões de queixa.
Foto: DW/J. Carlos
O bom exemplo de Outurela
Outurela – onde existe uma forte comunidade cabo-verdiana – é considerado "um caso bem sucedido" no âmbito do programa de realojamento da Câmara Municipal de Oeiras. "Os moradores dizem que tiveram sorte de serem realojados ali", afirma Elena Taviani, que menciona também o Casal da Mira, na Amadora, como um sítio onde as coisas vão melhorando, apesar do forte estigma negativo.
Foto: DW/J. Carlos
Arte urbana na Quinta do Mocho
A Quinta do Mocho, em Loures, passou a designar-se Terraços da Ponte, depois de construído. É uma das "ilhas" com grandes problemas de marginalidade. O bairro, que sempre teve uma imagem negativa, foi transformado na maior galeria de arte urbana a céu aberto da Europa com mais de cem grafittis nas suas fachadas cegas. Essa é uma tentativa de criar um novo pólo de atração turística.