Cabo Verde: "Manifestações de polícias foram ilegais"
Lusa | tms
30 de dezembro de 2017
O Sindicato da Polícia Nacional não comunicou a realização de manifestações ou marchas, acusam as autoridades cabo-verdianas. Medidas legais devem ser adotadas contra os manifestantes.
Durante os três dias de greve, os manifestantes percorreram as principais ruas da cidade da PraiaFoto: Inforpress/J. M. Borges
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Em Cabo Verde, a Direção da Polícia, a Câmara Municipal da Praia e o Governo classificaram a greve geral de três dias dos polícias, encerrada esta sexta-feira (29.12), como "ilegal".
Segundo o ministro da Presidência do Conselho de Ministros, Fernando Elísio Freire, quase metade dos mais de 1.800 polícias escalados para os três dias de greve da Polícia Nacional desrespeitaram a requisição civil do Governo, que definia os serviços mínimos durante a paralisação.
"Somos um país democrático e em todas as democracias existe o direito à greve e a requisição civil e quem não a cumprir, ainda mais quem tem obrigação de fazer cumprir a legalidade, é uma desobediência, é um desafio à autoridade, é não cumprimento da lei", disse Elísio Freire durante conferência de imprensa, esta sexta-feira, na capital cabo-verdiana.
O ministro assegurou, por isso, que "o Governo atuará de forma consistente na defesa da legalidade, do Estado de direito democrático e da coesão nacional".
O diretor da Polícia Nacional, Emanuel Estaline Moreno, que também critica a forma como foi realizada a greve, assegura, porém, que os serviços mínimos foram garantidos e que a polícia funcionou normalmente, apesar do número reduzido de agentes durante os três dias de greve.
Medidas contra os manifestantes
Polícias reivindicam aumento salarial e redução da carga horária, entre outros pontosFoto: DW/N. dos Santos
Emanuel Estaline Moreno afirmou, contudo, que "a Direção Nacional não foi comunicada de que o SINAPOL [Sindicato da Polícia Nacional] iria fazer marcha ou manifestação". Por isso, sublinha o diretor, "acabaram por fazer uma manifestação ilegal".
Moreno, que disse que a manifestação "belisca" a imagem da instituição, garantiu que responsabilidades "serão equacionadas a seu tempo".
À agência de notícias Lusa, o vereador do Urbanismo da Câmara Municipal da Praia, Rafael Fernandes, também disse que o SINAPOL não fez qualquer pedido para realizar as marchas pelas ruas da capital cabo-verdiana.
Ainda de acordo com o vereador, os polícias comportaram-se de forma "arruaceira” - invadindo espaços públicos e prejudicando o trânsito, ao bloquear várias vias da cidade.
"É algo que não parece ser de polícias, que devem respeitar a lei. A Câmara Municipal da Praia repudia veementemente esta forma de exercício de poder, que não é liberdade, mas sim libertinagem", criticou o vereador, que afirmou acionar meios judiciais para punir os responsáveis pelas manifestações.
Reivindicações
Os policias reivindicam, entre outros pontos, atualização salarial em 2018, redução da carga horária e atribuição de subsídios. Eles também acusam o ministro da Administração, Paulo Rocha, de não cumprir o memorando, assinado em março e que levou ao cancelamento de uma greve que estava a ser organizada naquela altura.
Fernando Elísio Freire: "Governo ainda não compreende motivos da greve"Foto: Daniel Almeida
Durante as manifestações que decorreram durante os três dias de paralisação em várias ilhas, foi pedida a demissão de Paulo Rocha, com quem o SINAPOL assegura que não há condições para negociar.
Elísio Freire elogiou o trabalho do colega e adiantou que o ministro mantém a confiança do primeiro-ministro e a solidariedade de todo o Executivo, adiantando que "não cabe ao sindicato escolher interlocutores".
Elísio Freire, que fez em representação do Governo o balanço dos três dias de paralisação da Polícia Nacional, disse que o Governo continua sem compreender os motivos que levaram à greve.
"O Governo dialogou, dialoga e mostrou disponibilidade para continuar a dialogar. Cumpriu todos os pontos do memorando [assinado em março] e mesmo assim o sindicato anunciou uma greve e o Governo ainda está à espera que expliquem ao país o porquê da greve", disse.
Dessalinização de água com tecnologia europeia em Cabo Verde
Em Cabo Verde, as reservas naturais de água são escassas e a estação chuvosa dura apenas três meses por ano. Governo aposta na dessalinização da água do mar para abastecer a população. Mais de 55% da produção perde-se.
Foto: DW/C. Teixeira
Água fresca para os cabo-verdianos
Em Cabo Verde, a dessalinização garante água fresca para cerca de 80% da população. O país aposta no sistema de osmose inversa para produzir água doce. A Electra, Empresa Pública de Electricidade e Água, é responsável pela produção e distribuição da água dessalinizada nas ilhas de São Vicente, Sal e na Cidade da Praia. Na foto, visão parcial da central dessalinizadora da Electra na capital.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Dessalinização por osmose inversa
O processo de dessalinização por osmose inversa é uma moderna tecnologia de purificação da água que consiste em diversas etapas de filtragem. Logo após a captação, a água do mar passa pelos filtros de areia, que têm por finalidade eliminar impurezas e resíduos sólidos maiores. Na foto, os dois grandes cilindros são os filtros de areia de uma das unidades de dessalinização na Cidade da Praia.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Várias etapas de filtragem
Depois, a água é novamente filtrada, desta vez por micro filtros. Os dois cilindros azuis que se podem ver na foto possuem uma alta eficiência na remoção de resíduos sólidos minúsculos - como moléculas e partículas. Essas duas pré-filtragens preparam a água para passar pelo processo de osmose inversa.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Sob alta pressão
O aparelho azul (na foto) é uma bomba de alta pressão. Aplica uma forte pressão na água do mar, que é distribuída pelos cilindros brancos. No interior, encontram-se membranas semipermeáveis por onde a água é forçada a passar. Neste processo de filtragem, consegue-se a retenção de sais dissolvidos. Obtém-se a água doce e a salmoura - solução com alta concentração de sal - que é devolvida ao mar.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Volume do abastecimento
Na Cidade da Praia, funcionam duas unidades dessalinizadoras da Electra, com capacidade para produzir 15.000m3 de água doce por dia. Pelo menos 60% da população da capital recebe a água dessalinizada da Electra. Na foto, uma visão parcial da unidade mais moderna de Santiago, em funcionamento desde 2013. A Electra é reponsável pelo abastecimento de água de mais de metade da população do país.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Controlo de qualidade
A água doce produzida é analisada num laboratório onde é feito o controlo de qualidade. De acordo com a Electra, a transferência da água para consumo só é autorizada se apresentar as condições estabelecidas nos protocolos da Organização Mundial da Saúde (OMS). Na foto, a engenheira bioquímica Elisângela Moniz mostra as placas utilizadas para a contagem de coliformes totais e fecais.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Moderna tecnologia europeia
Cabo Verde utiliza tecnologias europeias, espanhola e austríaca, para a dessalinização da água do mar. Na foto, o reservatório de água da empresa austríaca Uniha, que tem capacidade para armazenar 1.500 m3 de água. A água dessalinizada não fica parada aqui: é constantemente bombeada para os reservatórios de distribuição existentes ao longo da Cidade da Praia.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Grandes perdas
Esses equipamentos são responsáveis por bombear a água para os tanques de distribuição da Cidade da Praia. No entanto, cerca de 55% de toda a produção é perdida durante este processo. As perdas são causadas por fugas de água em tubulações e reservatórios antigos para onde a água é enviada antes de chegar ao consumidor.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Desafios e esforços para produzir água
O engenheiro António Pedro Pina, diretor de Planeamento e Controlo da Electra, diz que os maiores desafios da empresa são "garantir a continuidade na produção, estabilidade na distribuição e combater as perdas que, neste momento, estão em cifras proibitivas". Pina defende, no entanto, que "tem sido feito um esforço enorme para garantir a continuidade da distribuição da água" em Cabo Verde.
Foto: DW/C.V. Teixeira
Recurso natural abundante
Terminado o processo de dessalinização, a água com alta concentração de sal, denominada salmoura, é devolvida ao mar. Composto por 10 ilhas, o arquipélago cabo-verdiano encontra-se cercado por uma fonte inesgotável para a produção de água potável. Os cabo-verdianos têm assim o recurso natural abundante para garantir à população o abastecimento de água dessalinizada e limpa, constantemente.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Preço da água ainda é alto
A água dessalinizada pela Electra em Santiago abastece os moradores da Cidade da Praia. Na foto, moradores do bairro Castelão, na capital cabo-verdiana, compram água no chafariz público - um dos poucos que ainda restam no país. Cada bidão de cerca de 30 litros de água custa 20 escudos cabo-verdianos (cerca de 0,20 euros). O valor é considerado alto por muitos cabo-verdianos.