O Parlamento cabo-verdiano debateu, esta sexta-feira (28.07), o Estado da Nação. O partido no poder e a oposição voltaram a ter leituras díspares sobre a situação política, económica e social de Cabo Verde.
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Foram cinco horas de debate em que a oposição pintou o país de preto e a situação de branco a roçar a rosa. Afirmando que o "balanço deste Governo é clara e francamente fraco", a líder do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), Janira Hopffer Almada, apontou o dedo ao partido no poder falando de "falta de visão e de estratégia". O "Governo prometeu muito mas faz pouco, muita conversa para pouca ação que é o que os cabo-verdianos esperam. Há que haver uma visão estratégica de médio e longo prazo, não podemos dar-nos ao luxo e arrogante prazer de desperdiçar energias, vontades e competências nacionais".
Para Janira Hopffer Almada, o "crescimento e o progresso só se alcançam com persistência e a contribuição de todos e não na fácil negação do quanto já foi possível fazer. O país não está no bom caminho”.
Ja o presidente da União Caboverdiana Independente e Democrática (UCID), António Monteiro, pôs tónica no sentimento de insegurança no seio dos cabo-verdianos e no aumento de desemprego. "O povo quer como lotaria, nada mais, nada menos de que trabalho - que lhe permite ter rendimentos e gerar a sua própria riqueza, sustentar a família e ter recursos para se sentir gente nestas terras da morabeza, morna, funaná, batuque e coladeira-, ao invés dos despedimentos anunciados na TACV (Transportes Aéreos de Cabo Verde) e consumados no Novo Banco com o encerramento de quase todas as lanchonetes em São Vicente e, consequente, desemprego", afirmou. António Monteiro acrescentou ainda que "o povo das ilhas quer mais emprego, que tarda em aparecer. A taxa de desemprego ronda, segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística, os 15 por cento”.
Uma nação mais positiva
O Primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, ressaltou, em resposta a todas estas criticas, que Cabo Verde é hoje uma nação mais positiva com ”rumo ao desenvolvimento sustentável”. ”Há claramente mais confiança na economia, derivada de uma nova atitude do Governo na relação com as empresas e com os investidores, de medidas fiscais e financeiras e de estímulos ao financiamento da economia”, assevera Ulisses Correia da Silva, e justifica: ”Este aumento de confiança mede-se pelo elevado número de novos empreiteiros que iniciaram as suas atividades através de alvarás de licenças de construção, pelo número de empresas que estão a implementar projetos de expansão das suas atividades, pela participação de fundos de investimentos estrangeiros, por um aumento significativo de investimento direto estrangeiro nos setores do turismo e da indústria e dos transportes marítimos. Este aumento de confiança mede-se ainda pelo aumento da procura de emprego registada em 2016”.
Admitindo que o país enfrenta "importantes desafios" e "extremas vulnerabilidades" em vários setores, Ulisses Correia e Silva deu conta que o Governo quer colocar Cabo Verde "na rota do desenvolvimento sustentável". "Podemos e queremos garantir o desenvolvimento acelerado e sustentável de Cabo Verde. Este é o grande desígnio nacional", afirmou.
Cabo Verde-Estado da Nação - MP3-Mono
No seu discurso, o governante admitiu que a situação da transportadora aérea pública é um "grande problema" herdado do anterior Governo, mas que o atual está a transformar em "oportunidade". Relativamente à segurança, disse que é um grande problema e um grande desafio, sobretudo nos grandes centros urbanos, apesar da redução da criminalidade nos primeiros sete meses do ano. No campo da política externa, o governante reforçou a opção do Governo de inserir Cabo Verde em "espaços económicos dinâmicos" e posicionar o país como um "aliado credível" para a segurança cooperativa e como uma plataforma de circulação económica no Atlântico Médio. Para o chefe do Governo, Cabo Verde está no "caminho certo".
O olhar positivista do Primeiro-ministro foi reforçado pelo líder parlamentar do Movimento para a Democracia (MpD) , Rui Figueiredo Soares, que afirmou que "o pessimismo deu lugar a confiança e ao otimismo. A esperança reergue-se das cinzas e o entusiasmo outrora ausente volta ao olhar dos cabo-verdianos”.
O debate sobre o Estado da Nação marca o fim do presente ano parlamentar. Os deputados vão agora de férias até outubro, mês em que retomam os trabalhos em sessão plenária para o debate sobre o Estado da Justiça.
Dessalinização de água com tecnologia europeia em Cabo Verde
Em Cabo Verde, as reservas naturais de água são escassas e a estação chuvosa dura apenas três meses por ano. Governo aposta na dessalinização da água do mar para abastecer a população. Mais de 55% da produção perde-se.
Foto: DW/C. Teixeira
Água fresca para os cabo-verdianos
Em Cabo Verde, a dessalinização garante água fresca para cerca de 80% da população. O país aposta no sistema de osmose inversa para produzir água doce. A Electra, Empresa Pública de Electricidade e Água, é responsável pela produção e distribuição da água dessalinizada nas ilhas de São Vicente, Sal e na Cidade da Praia. Na foto, visão parcial da central dessalinizadora da Electra na capital.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Dessalinização por osmose inversa
O processo de dessalinização por osmose inversa é uma moderna tecnologia de purificação da água que consiste em diversas etapas de filtragem. Logo após a captação, a água do mar passa pelos filtros de areia, que têm por finalidade eliminar impurezas e resíduos sólidos maiores. Na foto, os dois grandes cilindros são os filtros de areia de uma das unidades de dessalinização na Cidade da Praia.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Várias etapas de filtragem
Depois, a água é novamente filtrada, desta vez por micro filtros. Os dois cilindros azuis que se podem ver na foto possuem uma alta eficiência na remoção de resíduos sólidos minúsculos - como moléculas e partículas. Essas duas pré-filtragens preparam a água para passar pelo processo de osmose inversa.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Sob alta pressão
O aparelho azul (na foto) é uma bomba de alta pressão. Aplica uma forte pressão na água do mar, que é distribuída pelos cilindros brancos. No interior, encontram-se membranas semipermeáveis por onde a água é forçada a passar. Neste processo de filtragem, consegue-se a retenção de sais dissolvidos. Obtém-se a água doce e a salmoura - solução com alta concentração de sal - que é devolvida ao mar.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Volume do abastecimento
Na Cidade da Praia, funcionam duas unidades dessalinizadoras da Electra, com capacidade para produzir 15.000m3 de água doce por dia. Pelo menos 60% da população da capital recebe a água dessalinizada da Electra. Na foto, uma visão parcial da unidade mais moderna de Santiago, em funcionamento desde 2013. A Electra é reponsável pelo abastecimento de água de mais de metade da população do país.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Controlo de qualidade
A água doce produzida é analisada num laboratório onde é feito o controlo de qualidade. De acordo com a Electra, a transferência da água para consumo só é autorizada se apresentar as condições estabelecidas nos protocolos da Organização Mundial da Saúde (OMS). Na foto, a engenheira bioquímica Elisângela Moniz mostra as placas utilizadas para a contagem de coliformes totais e fecais.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Moderna tecnologia europeia
Cabo Verde utiliza tecnologias europeias, espanhola e austríaca, para a dessalinização da água do mar. Na foto, o reservatório de água da empresa austríaca Uniha, que tem capacidade para armazenar 1.500 m3 de água. A água dessalinizada não fica parada aqui: é constantemente bombeada para os reservatórios de distribuição existentes ao longo da Cidade da Praia.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Grandes perdas
Esses equipamentos são responsáveis por bombear a água para os tanques de distribuição da Cidade da Praia. No entanto, cerca de 55% de toda a produção é perdida durante este processo. As perdas são causadas por fugas de água em tubulações e reservatórios antigos para onde a água é enviada antes de chegar ao consumidor.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Desafios e esforços para produzir água
O engenheiro António Pedro Pina, diretor de Planeamento e Controlo da Electra, diz que os maiores desafios da empresa são "garantir a continuidade na produção, estabilidade na distribuição e combater as perdas que, neste momento, estão em cifras proibitivas". Pina defende, no entanto, que "tem sido feito um esforço enorme para garantir a continuidade da distribuição da água" em Cabo Verde.
Foto: DW/C.V. Teixeira
Recurso natural abundante
Terminado o processo de dessalinização, a água com alta concentração de sal, denominada salmoura, é devolvida ao mar. Composto por 10 ilhas, o arquipélago cabo-verdiano encontra-se cercado por uma fonte inesgotável para a produção de água potável. Os cabo-verdianos têm assim o recurso natural abundante para garantir à população o abastecimento de água dessalinizada e limpa, constantemente.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Preço da água ainda é alto
A água dessalinizada pela Electra em Santiago abastece os moradores da Cidade da Praia. Na foto, moradores do bairro Castelão, na capital cabo-verdiana, compram água no chafariz público - um dos poucos que ainda restam no país. Cada bidão de cerca de 30 litros de água custa 20 escudos cabo-verdianos (cerca de 0,20 euros). O valor é considerado alto por muitos cabo-verdianos.