Cabo Verde: PAICV inicia congresso com foco nas eleições
Lusa | cvt
1 de fevereiro de 2020
Presidente do partido, Janira Hopffer Almada, disse que o PAICV está "em franca recuperação" e quer "ganhar pontos" para conquistar as próximas eleições, esta sexta-feira (31.01) na abertura do XVI Congresso Ordinário.
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"O PAICV hoje está em franca recuperação, pelo trabalho feito, de forma árdua, abnegada, séria, honesta e com convicção e determinação", disse a líder do Partido Africano da Independência de Cabo Verde, no seu discurso na abertura do XVI congresso ordinário do partido, que arrancou na noite desta sexta-feira (31.01) na cidade da Praia.
Janira Hopffer Almada sustentou a sua afirmação, apontando a reorganização das estruturas, renovação dos órgãos das dez regiões políticas, dos 19 setores ao nível nacional e dos dez setores na diáspora.
A líder partidária apontou ainda a renovação da Juventude (JPAI) e da Federação das Mulheres do partido, o relançamento da associação dos autarcas, investimento numa agente internacional que permitiu ao PAICV retomar e reforçar os laços com fundações estrangeiras.
Atenção voltada para as eleições
No seu discurso na abertura do congresso, realizado na Assembleia Nacional de Cabo Verde, Janira Hopffer Almada afirmou que a prioridade do partido, que já governou o país, é "conquistar o futuro", mas para isso voltou a pedir união na defesa dos interesses do país.
"É essa a união que proponho, em torno da causa comum que é Cabo Verde. O PAICV deve trabalhar sempre e continuadamente na construção de uma coesão interna, estribada naquilo que podemos fazer para as pessoas e para todos os cabo-verdianos", afirmou.
Na apresentação das propostas que serão socializadas, a presidente disse que espera "ganhar pontos" durante a reunião magna do partido para conquistar as próximas eleições.
Janira Hopffer Almada fez ainda uma "avaliação crítica" da situação atual do país, nos mais diversos setores, entendendo que Cabo Verde, governado pelo Movimento para a Democracia (MpD), precisa de uma visão estratégica e de reformas para dar o salto que precisa.
Pauta do XVI Congresso do PAICV
Com momentos musicais, a abertura do congresso contou com sala cheia na Assembleia Nacional de militantes, simpatizantes, representantes de partidos políticos nacionais, corpo diplomático, sociedade civil e dois antigos presidente do partido, Pedro Pires e José Maria Neves.
O XVI congresso do PAICV, que se prolonga até domingo (02.02), contará com 364 delegados, do país e da diáspora cabo-verdiana, e convidados de partidos de Angola, São Tomé e Príncipe e Portugal, Senegal, China e Guiné-Bissau.
Durante a reunião magna, que vai decorrer sob o lema "Cabo Verde: A Nossa Escolha", o partido vai ainda eleger os novos membros dos seus órgãos, nomeadamente o Conselho Nacional e a Comissão Nacional de Jurisdição e Fiscalização.
O congresso vai igualmente apreciar vários outros instrumentos do partido e será ainda debatida a Moção de Estratégia e de Orientação Política Nacional, sufragada nas eleições internas de dezembro, que reconduziram Janira Almada a mais um mandato à frente do partido.
Marginalização: Onde vivem os afrodescendentes em Lisboa
Em Lisboa, vivem dispersas várias comunidades, entre as quais a africana e de afrodescendentes. Ao longo dos anos, foram submissas a uma posição social que contribuiu para a sua marginalização.
Foto: DW/J. Carlos
O caso extremo da Jamaica
Jamaica é um exemplo de marginalidade no Vale de Chícharros, situado no Seixal, no distrito de Setúbal. "As condições são incríveis. Nem se acredita", lamenta a arquiteta italiana, Elena Taviani. O realojamento das famílias, de acordo com a autarquia local, ficará completo em dezembro, antecipando o calendário para a sua conclusão em 2022. Aqui vai nascer um parque urbano e uma zona comercial.
Foto: DW/J. Carlos
Mapeamento dos bairros
A arquiteta italiana Elena Taviani decidiu fazer o mapeamento dos bairros residenciais onde é assinalável a presença de africanos e afrodescendentes para avaliar o índice de marginalização no espaço urbano na Área Metropolitana de Lisboa. O estudo em curso pretende mostrar que tais comunidades foram "empurradas" pelas estruturas do poder a ocupar uma posição marginal em Lisboa.
Foto: DW/J. Carlos
"6 de maio" em fase de extinção
No bairro "6 de maio", na Damaia, também construído por imigrantes africanos, ainda restam estruturas num raio de dois quilómetros. A forma como foram realizadas as demolições e o realojamento das pessoas que ali moravam ainda estão a ser objeto de grande debate e conflito entre a população e a Câmara Municipal.
Foto: DW/J. Carlos
Cova da Moura e o estigma da criminalidade
A Cova da Moura, no concelho da Amadora, mantém o seu traçado arquitetónico peculiar, onde é muito forte a identidade cultural africana, em particular a cabo-verdiana. Um dos bairros informais outrora rotulado de "problemático" pela imprensa "é um dos sítios onde as pessoas ainda evitam ir pelo seu forte estigma de negatividade e criminalidade", refere Elena Taviana.
Foto: DW/J. Carlos
Sinais de degradação no Bairro Amarelo
No Monte da Caparica, em Almada, fica o Bairro Amarelo. O também conhecido Bairro do Pica Pau Amarelo acolheu grupos de pessoas oriundas dos PALOP que viviam em barracas espalhadas pelo município. O bairro está minimamente dotado de infraestruturas sociais, mas notam-se sinais de degradação dos edifícios e falta de higienização nalgumas das áreas circundantes e do interior.
Foto: DW/J. Carlos
Protestos por uma melhor habitação
Ricardina Cuthbert, do precário Bairro da Torre em Camarate (Sacavém), é uma das vozes que, desde 2012, tem reclamado melhores condições de habitação para cerca de 40 famílias que lá vivem. "Tem sido um processo muito lento", lamenta a dirigente da Associação Torre Amiga.
Foto: DW/J. Carlos
Trajetória espacial dos afrodescendentes
Elena Taviani quer aprofundar o estudo sobre esses bairros para a sua tese de doutoramento a apresentar, em 2021, no Gran Sasso Science Institute (Itália). Em junho, a arquiteta publicou uma análise relativa à trajetória espacial dos afrodescendentes na revista científica de Estudos Urbanos "Cidades, Comunidades e Territórios", editada pelo Instituto Universitário de Lisboa.
Foto: DW/J. Carlos
Mouraria em transição
A Mouraria, onde vive Taviani com o marido cabo-verdiano e a filha, está numa fase de profunda renovação por força da especulação imobiliária. No passado, tinha o estereótipo de um lugar central, mas degradado, com rendas muito baixas, o que atraiu muitos imigrantes, entre os quais africanos. De acordo com a sua pesquisa, cerca de 25% dos que moram em Mouraria são originários dos PALOP.
Foto: DW/J. Carlos
Uma das zonas de referência
Apesar da inflação dos preços provocada pela valorização urbana e pelo turismo, o bairro da Mouraria ainda tem alguma presença de africanos e afrodescendentes. Ainda antes dos asiáticos, introduziram aqui o comércio de produtos oriundos de África, acabando por ser hoje uma zona de referência na capital para negócios e para quem quer fazer compras ou procurar gastronomia dos países de origem.
Foto: DW/J. Carlos
Sem razões de queixa
Januário morava numa barraca em Algés. Veio para Portugal com 16 anos e fixou-se na Outurela quando tinha 39 anos de idade. Natural de Cabo Verde, ele está em Portugal há 45 anos, já com nacionalidade portuguesa. Gosta do bairro e do convívio entre as pessoas. Os transportes funcionam bem, tem autocarros à porta. Não tem razões de queixa.
Foto: DW/J. Carlos
O bom exemplo de Outurela
Outurela – onde existe uma forte comunidade cabo-verdiana – é considerado "um caso bem sucedido" no âmbito do programa de realojamento da Câmara Municipal de Oeiras. "Os moradores dizem que tiveram sorte de serem realojados ali", afirma Elena Taviani, que menciona também o Casal da Mira, na Amadora, como um sítio onde as coisas vão melhorando, apesar do forte estigma negativo.
Foto: DW/J. Carlos
Arte urbana na Quinta do Mocho
A Quinta do Mocho, em Loures, passou a designar-se Terraços da Ponte, depois de construído. É uma das "ilhas" com grandes problemas de marginalidade. O bairro, que sempre teve uma imagem negativa, foi transformado na maior galeria de arte urbana a céu aberto da Europa com mais de cem grafittis nas suas fachadas cegas. Essa é uma tentativa de criar um novo pólo de atração turística.