Banco de Cabo Verde avançou com venda da maior parte da atividade do Novo Banco para o segundo maior banco do país. O caso ganha contornos políticos com recados entre os dois principais partidos.
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A resolução e venda da maior parte da atividade do Novo Banco (NB) para a Caixa Económica de Cabo Verde está a marcar a atualidade do país. A medida, que poderá custar ao Estado cabo-verdiano cerca de 16 milhões de euros só em perdas, está a merecer a atenção tanto do Governo, como da oposição, além dos principais envolvidos, como são os 65 trabalhadores da instituição.
Presidente recebe trabalhadores
O Banco Central e o Executivo já anunciaram que, depois da liquidação administrativa do Novo Banco, os trabalhadores vão ser indemnizados e dispensados. Com o objetivo de lutar pelos seus direitos, os trabalhadores formaram uma comissão e têm-se desdobrado em contactos com diversas entidades. Neste âmbito, vão ser recebidos esta terça-feira (14.03.) pelo Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca.
"Receberei em audiência uma delegação de trabalhadores do Novo Banco. Nessa altura estarei em melhores condições para fazer uma avaliação mais objetiva do impacto desta decisão sobre os direitos e as expetativas dos trabalhadores", deu conta Jorge Carlos Fonseca, acrescentando que, pela informação que tem, "não havia alternativas quanto à resolução em si. Quanto ao impacto sobre os 65 trabalhadores, tem que se admitir que são 65 famílias."
Troca de acusações entre partidos
Esta segunda-feira, a comissão dos trabalhadores do Novo Banco já reuniu com Janira Hopffer Almada, presidente do principal partido da oposição (PAICV).
Para Nuias Silva, vice-presidente deste partido, o Governo abriu caminho para o processo de extinção do Novo Banco de forma "deliberada, intencional e consciente". Segundo Nuias Silva, o Executivo tem interesse "deliberado que o Novo Banco caia para depois constituir um novo NB". "Agora pergunto: com o dinheiro que se vai gastar na implementação de um novo NB não se poderia recuperar o Novo Banco, ainda que o Governo tivesse que recentrar os objetivos, os conselhos de administração, os planos de negócio, mas salvaguardando os interesses nacionais e eventuais perdas?"
130317 CV Novo Banco - MP3-Mono
Olavo Correia, ministro das Finanças e vice-presidente do Movimento para a Democracia (MpD), já tinha pedido a responsabilização política de todos os envolvidos neste caso, numa clara referência ao anterior Governo. Para o governante "a culpa não pode morrer solteira": "Existem responsabilidades políticas a serem assacadas. As instituições da república devem atuar, quer o Parlamento como as instâncias judiciais. Tal qual já anunciado pelo Banco de Cabo Verde, todos os ex-membros do Conselho de Administração do Novo Banco com responsabilidades diretas sobre a deterioração da situação financeira da instituição também serã responsabilizados", assevera.
É "uma boa medida" diz UCID
Já o deputado e dirigente da União Cabo-Verdiana Independente e Democrática (UCID), João Santos Luís, elogia a decisão do Banco Central. "O caso do Novo Banco não é surpresa para nenhum de nós. No nosso ponto de vista, o Banco de Cabo Verde tomou uma boa medida antes que se chegasse a uma situação de total descalabro", afirma.
A resolução e venda da maior parte da atividade do Novo Banco para o segundo maior banco do país é o primeiro passo para a sua liquidação administrativa.
O Novo Banco é uma instituição de capitais quase exclusivamente públicos com mais de 13 mil depositantes e vocacionada para o financiamento de pequenos negócios.
O Banco Central acusa-o de se ter desviado do modelo de negócio para o qual foi criado.
2016 em imagens: O que moveu África?
Entre o terror, a democracia e a imprevisibilidade, o ano no continente africano fica marcado por momentos de viragem. Acompanhe a DW África nesta viagem pelos acontecimentos mais marcantes de 2016.
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Terror imprevisível
A África Ocidental ainda recuperava de um ataque a um hotel em Bamako, no Mali, quando os extremistas islâmicos voltaram a atacar: a 15 de janeiro, dezenas de pessoas morreram num atentado da Al Qaida no Magrebe Islâmico num hotel em Ouagadougou, no Burkina Faso. O cenário repete-se em março, com cerca de 20 mortos num ataque à estância balnear de Grand Bassam, na Costa do Marfim (na foto).
Foto: Getty Images/AFP/S. Kambou
Reconhecimento do genocídio
Depois de vários anos de indefinição e após a resolução sobre a Arménia no Parlamento alemão, Berlim classifica também como genocídio a morte de dezenas de milhares de pessoas Nama e Herero na Namíbia, no período colonial. Mantêm-se as divergências entre os dois países sobre reparações. As negociações são adiadas para 2017. Na foto: manifestantes na Namíbia lembram os crimes do passado colonial.
Foto: picture-alliance/dpa/W. Gebert
Todos contra o TPI
Depois do julgamento do Presidente do Quénia, Uhuru Kenyatta, o Tribunal Penal Internacional chega a um impasse também no processo contra o seu vice, por falta de provas. Na União Africana, Kenyatta relança a campanha anti-TPI. Com sucesso: o Burundi, a Gâmbia e a África do Sul anunciam que vão abandonar o TPI. No entanto, enquanto forem membros, têm de continuar a cooperar com Haia.
Foto: Getty Images/AFP/M. Beekman
Ex-ditadores não são intocáveis
De Kenyatta, no Quénia, a Al-Bashir, no Sudão: os chefes de Estado são os pesos pesados na mira do TPI. A condenação do ex-ditador do Chade, Hissène Habré (na foto), em maio, lança um aviso a outros ditadores da região. Habré é condenado a prisão perpétua e a decisão parte de um tribunal especial no Senegal, criando-se a estrutura para julgar outros ditadores no futuro, sem depender do TPI.
Foto: picture-alliance/dpa
Herança cultural não deve ser subestimada
Em 2012, extremistas islâmicos destruíram a mesquita de Sidi Yahya, em Tombuctu. Só a restauração da porta demorou cinco meses. Em setembro de 2016, a mesquita é reaberta - um sinal de esperança para o Mali. O julgamento no Tribunal Penal Internacional também serve de aviso: Ahmad Al Mahdi é condenado em outubro a nove anos de prisão pela destruição de património mundial.
Foto: Getty Images/AFP/S. Rieussec
Braços cruzados podem custar vidas na Etiópia
No Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, após cruzar a meta da maratona, o etíope Feyisa Lilesa protesta com os braços cruzados. Na Etiópia, o gesto de oposição ao regime é perigoso. Em outubro, em Bishoftu, a polícia dispersa um protesto e dezenas de pessoas morrem num tumulto. O grupo étnico Oromo diz-se marginalizado pelo Governo da Frente Democrática Revolucionária Popular da Etiópia (EPRDF).
Foto: picture-alliance/AP Photo
"Meninas de Chibok": a persistência compensa
Depois de dois anos e meio de incerteza, os pais de 21 alunas sequestradas em Chibok recebem as suas filhas de volta, em outubro. É o resultado das negociações do Governo da Nigéria com os extremistas islâmicos do Boko Haram. No entanto, quase 200 meninas continuam detidas. O Executivo de Muhammadu Buhari garante que vai libertar as estudantes que permanecem em cativeiro.
Foto: Picture-Alliance/dpa/EPA/STR
#ThisFlag: desafiar o poder
Com o seu movimento #ThisFlag ("Esta Bandeira"), o pastor Evan Mawarire torna-se a cara da contestação popular no Zimbabué. Mas Robert Mugabe anuncia que pretende recandidatar-se à Presidência em 2018 e continua a reprimir protestos. Na República Democrática do Congo, as eleições são adiadas e Joseph Kabila tenta manter-se no poder até 2018, contra a Constituição.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T.Mukwazhi
Polémicas não demovem chefes de Estado
É "o Presidente dos escândalos" na África do Sul: acusações de violação e negação do HIV marcam os mandatos de Jacob Zuma, no poder desde 2009, juntamente com a restauração milionária da sua residência com fundos públicos. Mas Zuma mantém-se no poder, mesmo depois da divulgação de um relatório que levanta uma série de suspeitas de ligações entre a Presidência e a influente família indiana Gupta.
Foto: Reuters/P. Bulawayo
Presidenciais surpreendentes
Em Cabo Verde e no Benim, os cidadãos apostam na continuidade. Mas em outros países, como no Gana, vence a oposição: John Mahama aceita a vitória de Nana Akufo-Addo e promete uma transição pacífica. Na Gâmbia, o cenário parece, à partida, semelhante: Adama Barrow (na foto) vence as eleições. Após 22 anos no poder, Yahya Jammeh admite a derrota. Mais tarde, Jammeh recua e rejeita os resultados.
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Adeus a Papa Wemba
Com 66 anos, "o rei da rumba congolesa" morre em abril,depois de perder os sentidos num concerto em Abidjan, na Costa do Marfim, tal como Miriam Makeba, oito anos antes. O mundo despede-se de um músico que dizia que não fazia música congolesa ou africana, "apenas música".