Avultadas dívidas de Cabo Verde à CEDEAO terão inviabilizado a eleição e comissão será liderada pela Costa do Marfim. Mas o Presidente cabo-verdiano atribui a derrota a "arranjos políticos".
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Cabo Verde acaba de perder um dos seus maiores objetivos diplomáticos para 2017: a sua eleição para a presidência da Comissão da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).
Tendo em conta o critério de rotatividade alfabética, esta devia ser a vez de Cabo Verde presidir à Comissão da CEDEAO. No entanto, segundo apurou a DW África junto de fonte diplomática cabo-verdiana, a Costa do Marfim argumentou que o arquipélago tem avultadas dívidas relacionadas com as taxas comunitárias e as quotas, o que acabou por inviabilizar a eleição, pela primeira vez, de um país lusófono para a presidência da Comissão da CEDEAO.
Assim sendo, a 52ª Sessão Ordinária dos Chefes de Estado e de Governo da CEDEAO, que decorre durante este sábado (16.12) em Abuja, na Nigéria, acabou por escolher a Costa do Marfim para a presidência da Comissão da comunidade oeste-africana. O nome da personalidade vai ser indicado nas próximas horas.
De acordo com a fonte da diplomacia cabo-verdiana, o Presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, argumentou durante seis intervenções junto dos seus pares, lembrando que quase todos os Estados têm dívida na CEDEAO e que, portanto, o caso do seu país não é o único.
Dívidas estão a ser pagas, dizem autoridades
Tanto Jorge Carlos Fonseca como o ministro cabo-verdiano dos Negócios Estrangeiros, Luís Filipe Tavares, disseram aos líderes da África Ocidental que Cabo Verde já pagou todas as dívidas de 2017 na CEDEAO e apresentou à organização um plano de pagamento dos atrasados em cinco anos.
Nos últimos 13 anos, Cabo Verde acumulou uma dívida estimada em 20 milhões de euros, entre taxa comunitária e quotas.
Num comunicado emitido na noite deste sábado pela Presidência da República, o Chefe de Estado cabo-verdiano repudiou a forma como esta questão foi tratada e considerou “inaceitável o não cumprimento de regras estabelecidas”. Jorge Carlos Fonseca solicitou que tal posição fizesse parte da acta final da Cimeira.
No mesmo comunicado lê-se que “o Presidente da República desde o início do debate e durante todas as suas intervenções defendeu sempre a posição de Cabo Verde, e esteve convicto de que esta seria a vez de Cabo Verde assumir o posto de Presidente da Comissão da CEDEAO”.
Jorge Carlos Fonseca insistiu durante essas intervenções que "a razão e o direito estão do lado de Cabo Verde, uma vez que o critério principal para os órgãos da CEDEAO é permitir que todos os Estados membros tenham possibilidades iguais de estar à frente dos destinos de uma organização que é de todos".
O Chefe de Estado cabo-verdiano também sublinhou que numa organização todos são iguais, não há grandes e pequenos, numa referência implícita à dimensão de Cabo Verde.
Presidente fala em "arranjos políticos"
Em entrevista à Televisão de Cabo Verde (TCV), o Presidente Jorge Carlos Fonseca atribuiu a derrota na corrida à presidência da comissão da CEDEAO a "arranjos políticos", considerando que quem perdeu com isso foi a própria organização, que não respeitou as suas próprias regras.
"Fizemos saber que conceder a presidência à Costa do Marfim iria contra as disposições estatutárias da CEDEAO e representaria uma machadada do ponto de vista da aprovação das regras de direito na nossa organização, mas que nos manteríamos enquanto membros a batalhar e a lutar para que houvesse sempre a primazia do direito e das regras estatutárias contra arranjos políticos", disse, em entrevista à Televisão de Cabo Verde (TCV), o Presidente da República cabo-verdiano, Jorge Carlos Fonseca.
Dessalinização de água com tecnologia europeia em Cabo Verde
Em Cabo Verde, as reservas naturais de água são escassas e a estação chuvosa dura apenas três meses por ano. Governo aposta na dessalinização da água do mar para abastecer a população. Mais de 55% da produção perde-se.
Foto: DW/C. Teixeira
Água fresca para os cabo-verdianos
Em Cabo Verde, a dessalinização garante água fresca para cerca de 80% da população. O país aposta no sistema de osmose inversa para produzir água doce. A Electra, Empresa Pública de Electricidade e Água, é responsável pela produção e distribuição da água dessalinizada nas ilhas de São Vicente, Sal e na Cidade da Praia. Na foto, visão parcial da central dessalinizadora da Electra na capital.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Dessalinização por osmose inversa
O processo de dessalinização por osmose inversa é uma moderna tecnologia de purificação da água que consiste em diversas etapas de filtragem. Logo após a captação, a água do mar passa pelos filtros de areia, que têm por finalidade eliminar impurezas e resíduos sólidos maiores. Na foto, os dois grandes cilindros são os filtros de areia de uma das unidades de dessalinização na Cidade da Praia.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Várias etapas de filtragem
Depois, a água é novamente filtrada, desta vez por micro filtros. Os dois cilindros azuis que se podem ver na foto possuem uma alta eficiência na remoção de resíduos sólidos minúsculos - como moléculas e partículas. Essas duas pré-filtragens preparam a água para passar pelo processo de osmose inversa.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Sob alta pressão
O aparelho azul (na foto) é uma bomba de alta pressão. Aplica uma forte pressão na água do mar, que é distribuída pelos cilindros brancos. No interior, encontram-se membranas semipermeáveis por onde a água é forçada a passar. Neste processo de filtragem, consegue-se a retenção de sais dissolvidos. Obtém-se a água doce e a salmoura - solução com alta concentração de sal - que é devolvida ao mar.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Volume do abastecimento
Na Cidade da Praia, funcionam duas unidades dessalinizadoras da Electra, com capacidade para produzir 15.000m3 de água doce por dia. Pelo menos 60% da população da capital recebe a água dessalinizada da Electra. Na foto, uma visão parcial da unidade mais moderna de Santiago, em funcionamento desde 2013. A Electra é reponsável pelo abastecimento de água de mais de metade da população do país.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Controlo de qualidade
A água doce produzida é analisada num laboratório onde é feito o controlo de qualidade. De acordo com a Electra, a transferência da água para consumo só é autorizada se apresentar as condições estabelecidas nos protocolos da Organização Mundial da Saúde (OMS). Na foto, a engenheira bioquímica Elisângela Moniz mostra as placas utilizadas para a contagem de coliformes totais e fecais.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Moderna tecnologia europeia
Cabo Verde utiliza tecnologias europeias, espanhola e austríaca, para a dessalinização da água do mar. Na foto, o reservatório de água da empresa austríaca Uniha, que tem capacidade para armazenar 1.500 m3 de água. A água dessalinizada não fica parada aqui: é constantemente bombeada para os reservatórios de distribuição existentes ao longo da Cidade da Praia.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Grandes perdas
Esses equipamentos são responsáveis por bombear a água para os tanques de distribuição da Cidade da Praia. No entanto, cerca de 55% de toda a produção é perdida durante este processo. As perdas são causadas por fugas de água em tubulações e reservatórios antigos para onde a água é enviada antes de chegar ao consumidor.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Desafios e esforços para produzir água
O engenheiro António Pedro Pina, diretor de Planeamento e Controlo da Electra, diz que os maiores desafios da empresa são "garantir a continuidade na produção, estabilidade na distribuição e combater as perdas que, neste momento, estão em cifras proibitivas". Pina defende, no entanto, que "tem sido feito um esforço enorme para garantir a continuidade da distribuição da água" em Cabo Verde.
Foto: DW/C.V. Teixeira
Recurso natural abundante
Terminado o processo de dessalinização, a água com alta concentração de sal, denominada salmoura, é devolvida ao mar. Composto por 10 ilhas, o arquipélago cabo-verdiano encontra-se cercado por uma fonte inesgotável para a produção de água potável. Os cabo-verdianos têm assim o recurso natural abundante para garantir à população o abastecimento de água dessalinizada e limpa, constantemente.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Preço da água ainda é alto
A água dessalinizada pela Electra em Santiago abastece os moradores da Cidade da Praia. Na foto, moradores do bairro Castelão, na capital cabo-verdiana, compram água no chafariz público - um dos poucos que ainda restam no país. Cada bidão de cerca de 30 litros de água custa 20 escudos cabo-verdianos (cerca de 0,20 euros). O valor é considerado alto por muitos cabo-verdianos.
Foto: DW/C. Teixeira
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O chefe de Estado cabo-verdiano considerou que, apesar da derrota, Cabo Verde saiu com a dignidade reforçada. "Defendemos os nossos princípios, os nossos valores, batemo-nos por eles e estamos convencidos de que haverá um momento em que essas regras e esses valores se imporão naturalmente. Os valores da democracia, da transparência e do direito são as regras fundamentais e não outro tipo de convicções ou arranjos políticos", reforçou.