Cabo Verde: PR acusado de "ofensivas" contra Câmara da Praia
Lusa
9 de agosto de 2021
As acusações foram feitas pelo autarca da capital depois de Jorge Carlos Fonseca se reunir com oito dos nove municípios da ilha de Santiago. O chefe de Estado nega que não reconhece o resultado das eleições de outubro.
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O Presidente cabo-verdiano, Jorge Carlos Fonseca, mostrou "estupefação, incómodo e tristeza" pelas declarações do autarca da Praia, Francisco Carvalho, que acusou o chefe de Estado de ser parte de "concertação" para atacar a Câmara Municipal da Praia.
A reação de Jorge Carlos Fonseca surge nesta segunda-feira (09.08), um dia após o presidente da Câmara Municipal da Praia, Francisco Carvalho, ter acusado o chefe de Estado.
Segundo Carvalho, citado pela imprensa cabo-verdiana, o motivo dos ataques a autarquia seria porque “não aceitam o resultado que saiu das urnas”. Ele diz que os “responsáveis políticos a nível da concelhia do Movimento para a Democracia” e “deputados da Nação do MpD” são os atores a realizar as ofensivas.
Em causa está um encontro promovido pelo Presidente da República com os profissionais do setor de saneamento básico da ilha de Santiago, que contou com a presença de oito dos nove municípios da ilha, exceto a Praia, segundo o autarca. “Achamos que a Presidência da República não podia, de forma nenhuma, entrar neste tipo de concertações porque os resultados das eleições autárquicas têm que ser respeitados, assim é que manda a democracia.”, declara.
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Presidência reconhece resultado das eleições
Jorge Carlos Fonseca mostrou estar surpreso com as declarações, explicando que as relações com o autarca do maior município cabo-verdiano são cordiais. O presidente felicitou Francisco Carvalho pessoalmente no dia seguinte às eleições autárquicas e recebeu o autarca para uma visita de cortesia.
Jorge Carlos Fonseca salientou ainda que, normalmente, reúne-se com camponeses, jovens, políticos, sindicalistas, empresários, homens de cultura, entre outros. Por isso justifica-se que para o mais alto magistrado da Nação cabo-verdiana, "há qualquer coisa que escapa e que gera, naturalmente, estranheza e perplexidade".
Apesar da “tristeza e embaraço” causados pelo episódio, Fonseca ainda ressalta que “as portas do Palácio Presidencial e todos os outros canais de comunicação manter-se-ão permanentemente abertos” para o presidente da Câmara Municipal.
Eleições
Francisco Carvalho foi eleito nas autárquicas de outubro último pelas listas do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), partido na oposição governamental, que por sua vez é suportado pelo MpD, que desde 2008 tinha liderado os destinos da Câmara Municipal da Praia.
Jorge Carlos Fonseca vai terminar em outubro o seu segundo e último mandato de cinco anos cada permitido por lei como Presidente da República, em que foi apoiado pelo MpD.
A comissão política concelhia da Praia do MpD marcou para quarta-feira (11.08) uma conferência de imprensa para reagir às "infelizes e gravíssimas declarações" do presidente da Câmara Municipal da Praia.
Cabo Verde: A vida no bairro de Safende
Safende é um dos mais conhecidos e antigos bairros da Praia, a capital cabo-verdiana. Começou a ser povoado nos anos 70 por pessoas vindas do interior de Santiago e de outras ilhas, que cuidam do seu bairro com esmero.
Foto: Ângelo Semedo/DW
Os primeiros habitantes
Safende é o sexto maior bairro periférico da cidade da Praia. Começou a ser povoado nos anos 70. Os primeiros moradores eram provenientes, essencialmente, do interior da Ilha de Santiago. O bairro é, hoje, um dos mais procurados por cidadãos com poucos recursos, que chegam de vários pontos do país à procura de melhores condições de vida na Praia.
Foto: Ângelo Semedo/DW
Fragilidades
Muitas casas no bairro foram construídas nas encostas e em linhas de água, sem planejamento adequado e observância de regras de segurança. Em tempos de chuvas, as famílias enfrentam situações muito difíceis, porque as moradias são invadidas por enxurradas.
Foto: Ângelo Semedo/DW
Construções espontâneas
Diariamente, nascem aqui novas construções nas encostas e nos leitos das ribeiras. As pessoas optam por construir nestas áreas por falta de condições económicas para arrendar ou comprar casas, ou mesmo adquirir terrenos para a construção de moradias em áreas seguras.
Foto: Ângelo Semedo/DW
Défice das infra-estruturas sociais
A carência de infra-estruturas sociais é outro problema que afeta a zona. Estas crianças improvisaram um campo de futebol no meio da estrada, que também serve de via de acesso a uma das cinco subzonas do bairro, Alto Safende.
Foto: Ângelo Semedo/DW
Água, um bem escasso no bairro
Também a escassez de água é um problema para os moradores. Muitas famílias não têm acesso a água potável canalizada. E as que têm também sofrem, porque nem sempre a água chega de forma regular. Esta situação deixa as pessoas aflitas, sobretudo em tempos de pandemia.
Foto: Ângelo Semedo/DW
Uma lata de cada vez
Transportar água à cabeça é ainda uma realidade em muitas subzonas do bairro. Quando não há água em casa, uma das alternativas é pegar em latas e galões para ir à procura. Cada galão de água que se consegue é motivo de alegria e alívio.
Foto: Ângelo Semedo/DW
Iluminação pública deficiente
Em muitas partes de Safende a iluminação pública é deficiente. O bairro tem problemas de segurança. Por isso os moradores reclamam e exigem que a iluminação seja reforçada, para que se possam sentir mais seguros à noite.
Foto: Ângelo Semedo/DW
Soluções para os problemas
Associações locais têm trabalhado para criar soluções para os problemas da comunidade. Acabam de inaugurar uma biblioteca e um museu comunitários para tirar crianças de rua. O museu, inédito em Cabo Verde, almeja preservar a memória histórica do bairro que, nos anos 70, recebeu vários refugiados da guerra civil de Angola. Em Praia, Safende já é visto como um novo conceito de bairro.
Foto: Ângelo Semedo/DW
Sonhos dos moradores
Ter um bairro desenvolvido, amigo e acolhedor, são alguns dos maiores sonhos dos moradores de Safende, que completa 51 anos de existência em setembro.