Cabo Verde promete investigar escândalo de paraísos fiscais
Frejus Quenum | Philipp Sandner | tms
25 de maio de 2018
Empresário italiano com negócios em São Vicente é citado numa investigação sobre paraísos fiscais na África Ocidental. Primeiro-ministro cabo-verdiano diz que, "se for o caso", Gilberto Pacchiotti será investigado.
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Cabo Verde está entre os países no centro das investigações do "West Africa Leaks", um trabalho de pesquisa jornalística sobre empresários, políticos e poderosas corporações que atuam na África Ocidental. O objetivo é identificar paraísos fiscais através da análise de dezenas de dados de outras investigações jornalísticas, como os Panama Papers, Paradise Papers e SwissLeaks, e acontece em parceria com o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (CIJI).
De acordo com o portal Cenozo, do grupo de jornalistas investigativos, o empresário italiano Gilberto Pacchiotti será o responsável pela entrada do país africano no maior escândalo de contas em offshores da Suíça.
Segundo a investigação do West Africa Leaks, que verifica documentos do SwissLeaks, o dono da "Cabo Verde Importe, Lda", uma empresa importadora de alimentos situada em Madeiralzinho, na ilha de São Vicente, tem uma conta secreta na Suíça com mais de dois milhões de dólares. No entanto, questiona-se a atividade do empresário em Cabo Verde que justifique o montante numa conta offshore.
Ainda de acordo com o Cenozo, o empresário italiano não paga impostos, não declara rendimentos e troca de nacionalidade e de passaporte sem que isso seja notado pelas autoridades cabo-verdianas. Segundo a imprensa cabo-verdiana, o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, garantiu esta quinta-feira (24.05) que, "se for o caso", Gilberto Pacchiotti será investigado.
"Se for caso de polícia, será para as entidades policiais, se for caso de violação de regras financeira, também será devidamente investigado. Mas eu não quero associar Cabo Verde a este tipo de operações. São casos que as vezes acontecem, mas os protagonistas são devidamente responsabilizados", afirmou Ulisses Correia e Silva, citado pelo jornal "A Semana".
Níger e Costa do Marfim na lista
Além de Cabo Verde, o West Africa Leaks também denuncia empresas e pessoas ligadas a outros países da África Ocidental. No Níger, investiga-se a construção de um matadouro, que terá custado milhares de dólares aos cofres do Estado, mas a obra nunca saiu do papel.
O jornalista Moussa Aksar aponta o período pós-golpe, em 2010, quando os militares assumiram o Governo de transição no país. "Verificamos que o dinheiro previsto para esta construção foi gasto durante a transição. O regime atual não pretende auditar este período, o que explica este caso e prova a má governação a todos os níveis", diz.
Cabo Verde promete investigar escândalo de paraísos fiscais
Na Costa do Marfim, o empresário e político Noel Akossi Bendjo, secretário-executivo do Partido Democrata, na coligação do partido no poder, é acusado de ter capitais nas Bahamas. Ele ameaça processar o jornalista Diebri Anderson, editor do site de notícias "eburnietoday.com".
"Descobrimos que o senhor Akossi Bendjo detém uma sociedade em paraísos fiscais, incluindo as Bahamas. E vemos que a empresa foi criada em 1997, o mesmo ano em que foi nomeado diretor-geral da Sociedade de Refinaria da Costa do Marfim", observa o repórter.
Políticos envolvidos
Os jornalistas africanos trabalham ainda em investigações na Libéria, Senegal, Nigéria e Gana, entre outros países. Em muitos casos, há políticos envolvidos nas denúncias. No Mali, por exemplo, o candidato presidencial Hamadoun Touré também é apontado como dono de uma empresa offshore.
"Há uma grande diferença entre as informações disponíveis publicamente e o que os jornalistas são capazes de descobrir quando investigam a fundo quase 30 milhões de documentos", salienta em entrevista à DW Will Fitzgibbon, coordenador da parceria entre os jornalistas africanos e o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação. "Revelam não apenas que os políticos possuem empresas offshore, mas também como essas figuras têm usado as empresas".
Sancionar os corruptos
Após a votação pública dos 15 casos "mais simbólicos de grande corrupção", a ONG Transparência Internacional selecionou e anunciou esta quarta-feira (10.02) os 9 casos que passaram para a "Fase de Sanção Social".
Foto: picture alliance / AP Photo
Isabel dos Santos
Depois da votação pública dos 15 casos "mais simbólicos de grande corrupção" da Transparência Internacional, 9 casos foram destacados pela organização. A filha mais velha do Presidente angolano não faz parte, apesar dos 1418 votos. Segundo a TI, a seleção dos 9 foi baseada não só nos votos, mas também no impacto nos direitos humanos e na necessidade de destacar o lado menos visível da corrupção.
Foto: Nélio dos Santos
Teodoro Nguema Obiang
Conhecido pelo seu estilo de vida luxuoso, o filho do Presidente da Guiné Equatorial é, desde 2012, o segundo Vice-Presidente da República. A Guiné Equatorial é o país mais rico de África, per capita, apesar do Banco Mundial alegar que mais de 75% da população vive na pobreza. Teodoro somou apenas 82 votos e - como Isabel dos Santos - não foi nomeado para a fase de sanção social.
Foto: DW/R. Graça
Banco Espírito Santo
As suspeitas de corrupção do BES (Banco Espírito Santo) começaram quando o grupo financeiro português entrou em bancarrota em 2014. Foram descobertas fortes evidências de corrupção, fraude e lavagem de dinheiro. Ricardo Salgado, ex-presidente do BES, já esteve preso e foi recentemente libertado sob fiança. O BES somou 193 votos e também não passou aos 9 maiores casos de grande corrupção do mundo.
Foto: DW/J. Carlos
Mohamed Hosni Mubarak
Presidente do Egito entre 1981 e 2011, Mohamed Hosni Mubarak somou 207 votos e encontra-se agora preso. Mesmo assim, não aparece na lista dos casos de grande corrupção que a Transparência Internacional quer sancionar socialmente. Também o comércio de jade do Myanmar e a China Communication Construction Company ficaram de fora com 47 e 43 votos, respetivamente.
Foto: picture-alliance/AP
Transparência Internacional
"Unmask the Corrupt" é um projeto da Transparência Internacional que após receber 383 submissões, nomeou os 15 casos mais simbólicos de corrupção. Após receberem mais de 170 mil votos, reduziram os 15 para 9 casos. A Transparency International quer promover uma campanha mundial para aplicar sanções sociais e políticas nestes exemplos de corrupção. A DW África mostra-lhe os 9 casos nomeados.
Estado americano de Delaware
O Estado norte-americano de Delaware está entre os 9 casos mais simbólicos de corrupção. O jornal The New York Times chegou mesmo a apelidar o Estado como "paraíso fiscal corporativo" pela possibilidades que oferece às empresas. Somou 107 votos. "Está na hora da justiça e das pessoas mostrarem o poder das multidões", afirmou em comunicado de imprensa José Ugaz da Transparência Internacional.
Foto: Getty Images/M. Makela
Zine al-Abidine Ben Ali
Com 152 votos está o ex-Presidente da Tunísia, que governou entre 1987 e 2011. É acusado de roubar mais de dois mil milhões de euros à população tunisina e de beneficiar amigos e companheiros a escapar à justiça. É conhecido pelo seu estilo de vida extravagante e saiu do Governo em 2011, na sequência de protestos nas ruas da Tunísia conhecidos como a Revolução de Jasmim ou Primavera Árabe.
Foto: picture-alliance/dpa
Fundação Akhmad Kadyrov
A Fundação Akhmad Kadyrov tem como fim o desenvolvimento social e económico da Chechénia. Mas é acusada de gastar as verbas a entreter e oferecer presentes a estrelas de Hollywood e para o benefício de Ramzan Kadyrov (na foto), presidente da região russa da Chechénia e filho do falecido Akhmad Kadyrov. Segundo a TI, Ramzan Kadyrov usou as verbas para comprar jogadores de futebol. Reuniu 194 votos.
Foto: imago/ITAR-TASS/Y. Afonina
Sistema político do Líbano
Com 606 votos, o sistema político no Líbano, nomeadamante o Governo, as autoridades e as instituições, encontram-se também na lista da Transparência Internacional. Segundo a filial libanesa da TI, a corrupção encontra-se em todos setores sociais e governamentais, existindo "uma cultura de corrupção" no país. Considera o Líbano um país "muito fraco" em termos de integridade.
Foto: picture-alliance/dpa
FIFA - Federação Internacional de Futebol
A Federação Internacional de Futebol, mais conhecida como FIFA, é acusada de ultrajar milhões de fãs. Os respoonsáveis pelos cargos mais elevados são acusados de roubar milhões de euros e estão a ser analisados 81 casos suspeitos de branqueamento de capitais um pouco por todo o mundo. Há suspeitas que várias eleições de países anfitriões de mundiais de futebol foram manipuladaa. Conta 1844 votos.
O senador da República Dominicana conta 9786 votações. Foi acusado de branqueamento de capitais, abuso de poder, prevaricação e enriquecimento ilícito no valor de vários milhões de dólares. Bautista já esteve em tribunal, mas nunca foi considerado culpado, o que originou vários protestos por parte da população dominicana.
Foto: unmaskthecorrupt.org
Ricardo Martinelli e companheiros
É ex-Presidente do Panamá e empresário. Ricardo Martinelli terminou com 10166 votos e possui atualmente uma rede de supermercados no país, entre outras empresas. Está envolvido numa polémica de espionagem política durante o seu mandato entre 2009 e 2014, utilizando alegadamente dinheiros públicos. Tem outras acusações em tribunal, incluindo vários crimes financeiros e subornos e perdões ilegais.
Foto: Getty Images/AFP/J. Ordone
Petrobras
A petrolífera Petrobras, empresa semi-estatal brasileira, ficou em segundo lugar com 11900 votos. As acusações de subornos, comissões e lavagens de dinheiro de mais de dois mil milhões de euros, conduziram, alegadamente, o Brasil a uma profunda crise política. O caso envolve mais de 50 políticos e 18 empresas. A população brasileira já protestou várias vezes nas ruas para exigir justiça.
Foto: picture alliance/CITYPRESS 24
Viktor Yanukovych
O ex-Presidente da Ucrânia foi o mais votado. Acumulou 13210 acusações e é acusado de "deixar escapar" milhões de ativos estatais em mãos privadas e de ter fugido para a Rússia antes de ser acusado de peculato. Yanukovych começou o seu mandato em 2010, foi reeleito em 2012 e cessou as suas funções no ano de 2014, quando foi destituído após vários protestos populares.