Cabo Verde: Tribunal decide pela extradição de Alex Saab
Lusa
5 de janeiro de 2021
A decisão do Tribunal da Relação de Barlavento "não é surpreendente e apenas dá continuidade a um deplorável conjunto de decisões", diz a defesa do empresário colombiano detido em Cabo Verde.
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O Tribunal da Relação do Barlavento decidiu a favor da extradição de Alex Saab, considerado pelos Estados Unidos como um "testa-de-ferro" do Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, divulgou esta terça-feira (05.01) a defesa do empresário.
Em comunicado enviado à agência Lusa, a assessoria da defesa internacional do colombiano, que é liderada pelo antigo juiz espanhol Baltasar Garzón, refere que aquele tribunal decidiu na segunda-feira (04.01), "a favor da extradição" de Saab, pedida pelos Estados Unidos da América (EUA), anunciando que vai recorrer da decisão.
"A defesa vai recorrer para o Supremo Tribunal de Justiça e impugnará da maneira mais enérgica possível a injusta decisão de hoje", lê-se no comunicado.
Acrescenta que esta decisão da Relação representa um "desafio direto à ordem" do tribunal regional da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), de dezembro, de "suspender o procedimento de extradição" de Alex Saab até à audiência principal naquela instância regional, após participação apresentada pela equipa de defesa, que entre outros argumentos se queixa da violação dos direitos humanos na detenção do empresário em Cabo Verde.
O procurador-geral da República de Cabo Verde afirmou em dezembro que o arquipélago não ratificou o protocolo que dá competências ao Tribunal da CEDEAO em matéria de direitos humanos, pelo que não pode decidir sobre as medidas de coação do empresário colombiano Alex Saab.
Decisão não surpreende
"A decisão do tribunal da Relação não é surpreendente e apenas dá continuidade a um deplorável conjunto de decisões em que os tribunais cabo-verdianos se recusaram a tratar sistematicamente os argumentos apresentados pela defesa do Enviado Especial, em violação da lei e da Constituição", acrescenta o mesmo comunicado.
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A defesa de Alex Saab, que avançou em dezembro com novo recurso para tentar a libertação do empresário, sustentou no recurso anterior que o "período máximo de prisão preventiva" permitido pela lei cabo-verdiana é de 80 dias e que o empresário está detido "há mais de 100 dias", pelo que "a sua detenção é ilegal".
O Tribunal da Relação do Barlavento, na ilha de São Vicente, a quem competia a decisão de extradição formalmente requerida pelos Estados Unidos, aprovou esse pedido a 31 de julho, mas a defesa de Saab recorreu para o Supremo Tribunal do país, tendo o processo voltado à instância anterior.
Alex Saab foi detido a 12 de junho pela Interpol e pelas autoridades cabo-verdianas durante uma escala técnica no Aeroporto Internacional Amílcar Cabral, na ilha do Sal, com base num mandado de captura internacional emitido pelos Estados Unidos da América. O Governo da Venezuela afirmou que Saab viajava com passaporte diplomático daquele país, enquanto "enviado especial", pelo que não podia ter sido detido.
Os EUA acusam Alex Saab de ter branqueado 350 milhões de dólares (295 milhões de euros) para pagar atos de corrupção do Presidente venezuelano, Nicolás Maduro, através do sistema financeiro norte-americano.
África em 2021: Ano novo, vida nova... ou nem por isso?
A luta contra a Covid-19, eleições em vários países, conflitos não resolvidos e a maior zona de comércio livre do mundo. Eis a agenda que irá marcar o ano de 2021 no continente africano.
Foto: Isaac Kasamani/AFP
Lançamento da maior zona de comércio livre do mundo
No primeiro dia de 2021, as economias africanas vão entrar numa nova era: o lançamento oficial da Área de Comércio Livre Continental Africana (AfCFTA). Será criada nos próximos meses e anos a maior zona de comércio livre do mundo, semelhante ao mercado único europeu. Os peritos acreditam que o acordo tem um enorme potencial, mas a pandemia de Covid-19 está a dificultar a sua implementação.
Foto: Getty Images/AFP/S. Kambou
"Showdown" político no Uganda
Operações policiais contra a oposição, tiroteios, protestos com dezenas de mortos: As imagens da campanha eleitoral do Uganda estão a causar preocupação em todo o mundo. A 14 de Janeiro, o povo vai votar entre o Presidente no poder desde 1986, Yoweri Museveni, e o músico, Robert Kyagulanyi, também conhecido por Bobi Wine. No entanto, os analistas duvidam que as eleições sejam livres e justas.
Foto: Lubega Emmanuel/DW
Ano fatídico no Corno de África
Estarão os etíopes unidos após a campanha do governo contra a Frente Popular de Libertação do Tigray (TPLF)? Ou será que o país se vai dividir devido aos seus muitos conflitos internos? 2021 poderá determinar se o primeiro-ministro, Abiy Ahmed Ali, pode trazer um equilíbrio democrático à Etiópia. Há eleições (ainda sem data definida) para o início do verão.
Foto: Amanuel Sileshi/AFP
Crises de refugiados
Uma consequência do conflito em Tigray é clara: dezenas de milhares de pessoas fugiram da região para o Sudão, cujo governo recém-criado está a lutar pelo sustento dos deslocados. Noutros lugares, também se teme que os conflitos em curso em 2021 conduzam a novas crises de refugiados e deixem as antigas por resolver: nos Camarões, no norte da Nigéria e na República Democrática do Congo.
Foto: Mohamed Nureldin Abdallah/REUTERS
Eleições num ambiente difícil
Uganda, Etiópia, Benim, Somália, Sul do Sudão, Zâmbia, Cabo Verde, Chade e Gâmbia elegerão novos chefes de Estado ou governo em 2021. Enquanto em alguns lugares se espera que as eleições sejam comparativamente calmas, a situação na Somália e no Sul do Sudão, por exemplo, já está tensa devido à difícil situação de segurança no terreno.
Foto: Cellou Binani/AFP
Esperança na vacina para a Covid-19
Embora os países africanos estejam a atravessar a pandemia melhor do que o esperado, as consequências sanitárias e económicas são inúmeras. As vacinas alimentam esperanças, mas África ainda não está preparada para a "maior campanha de vacinação de sempre", disse Matshidiso Moeti, da OMS. Os peritos não esperam que a vacinação comece antes de meados de 2021, devido a dificuldades logísticas.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Mednick
O corte da dívida será uma realidade?
As consequências da pandemia não desaparecerão, mesmo após uma imunização bem sucedida: o iminente incumprimento soberano de alguns países africanos. Embora o G-20 tenha iniciado o alívio da dívida no início da crise, as ONG estão a pedir um corte abrangente da dívida para amortecer as consequências humanitárias da crise da Covid-19.
Foto: Getty Images/AFP/T. Karumba
A crise climática em África
Secas, pragas de gafanhotos, inundações: nenhum continente sofre tanto com a crise climática como África. Mas jovens ativistas como Vanessa Nakate (foto), do Uganda, já não querem aceitar o serviço pago pelo norte global. Ela está a lutar para que o seu continente seja ouvido. Um exemplo será a Cimeira Mundial das Nações Unidas sobre o Clima, que deverá ter lugar em novembro de 2021.