O movimento Sokols foi às ruas do Mindelo, este sábado (13.01), pedir mais autonomia e democracia participativa. E ameaça "greve geral" caso o "grito do povo" não seja ouvido pelas autoridades.
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Em Cabo Verde, o movimento Sokols escolheu o feriado nacional do 13 de janeiro, Dia da Liberdade e Democracia, para realizar na cidade do Mindelo, na ilha de São Vicente, a sua segunda manifestação popular, depois da primeira realizada em 5 de julho de 2017.
"Uma descentralização que permita autonomia e felicidade a todos os cabo-verdianos" foi o lema da manifestação que juntou centenas de pessoas com cartazes, dísticos e palavras de ordem como "basta", "autonomia já" e "vamos pôr os políticos ‘manhentos' no seu devido lugar", entre outras.
O jovem desempregado António Santos disse estranhar a passividade da Câmara Municipal de São Vicente na defesa dos interesses da ilha, enquanto outro manifestante ao lado afirmava, em tom reivindicativo, que a ilha de Santiago alberga quase todos os investimentos e meios públicos no país.
Anilda Teixeira mostrou-se contra o "centralismo" da Cidade da Praia, a capital cabo-verdiana, dando como exemplo o Orçamento de Estado para 2018, onde boa parte do bolo fica na capital. A cidadã reivindica maior descentralização entre as ilhas, aspeto também sublinhado pelo porta-voz do movimento cívico Sokols, Salvador Mascarenhas, que pediu "uma mudança de rumo na governação do país e mais autonomia para as ilhas periféricas".
Mais reivindicações e ameaça de greve
Além de maior descentralização e autonomia, os manifestantes exigiram que se ponha a meritocracia em primeiro plano no acesso aos cargos públicos. Outra das reivindicações é a eleição de cidadãos como deputados através de listas uninominais.
Sobre a manifestação deste 13 de janeiro, Salvador Mascarenhas disse aos jornalistas que esta ultrapassou as expetativas do movimento e espera agora que o primeiro-ministro Ulisses Correia e Silva e o presidente de Câmara Municipal de São Vicente, Augusto Neves, tenham ouvido a mensagem dada, mais uma vez, pelo povo.
"O povo foi mais uma vez firme ao dizer ‘basta'. Agora o Governo e a Câmara têm que responder a esse 'basta' senão a nossa luta vai continuar", realçou Mascarenhas, afirmando que têm "formas mais duras de luta, nomeadamente greve geral, se for necessário".
PM diz que manifestação não tem a ver com o seu Governo
No final da sessão solene comemorativa do 13 de janeiro que aconteceu na Assembleia Nacional, na Cidade da Praia, o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, sacudiu a água do seu capote ao considerar que a manifestação não tem nada a ver com o seu Governo.
"Acho que esta manifestação não tem nada a ver com este Governo. Somos o Executivo que mais descentralização tem estado a fazer, um Governo engajado na regionalização, que tem estado a transferir mais recursos para os municípios, numa atitude de parceria, por isso acho que não tem nada a ver conosco", declarou Ulisses Correia e Silva, adiantando aos jornalistas que a manifestação é um direito que as pessoas têm.
O movimento cívico Sokols é formado por um grupo de cidadãos que se dizem apartidários, livres e independentes e que definem como objetivo intervir junto da sociedade civil para a sua consciencialização social e política.
Sokols inspira-se no movimento de cultura cívica e intelectual que surgiu em São Vicente nos meados de 1932.
Dessalinização de água com tecnologia europeia em Cabo Verde
Em Cabo Verde, as reservas naturais de água são escassas e a estação chuvosa dura apenas três meses por ano. Governo aposta na dessalinização da água do mar para abastecer a população. Mais de 55% da produção perde-se.
Foto: DW/C. Teixeira
Água fresca para os cabo-verdianos
Em Cabo Verde, a dessalinização garante água fresca para cerca de 80% da população. O país aposta no sistema de osmose inversa para produzir água doce. A Electra, Empresa Pública de Electricidade e Água, é responsável pela produção e distribuição da água dessalinizada nas ilhas de São Vicente, Sal e na Cidade da Praia. Na foto, visão parcial da central dessalinizadora da Electra na capital.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Dessalinização por osmose inversa
O processo de dessalinização por osmose inversa é uma moderna tecnologia de purificação da água que consiste em diversas etapas de filtragem. Logo após a captação, a água do mar passa pelos filtros de areia, que têm por finalidade eliminar impurezas e resíduos sólidos maiores. Na foto, os dois grandes cilindros são os filtros de areia de uma das unidades de dessalinização na Cidade da Praia.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Várias etapas de filtragem
Depois, a água é novamente filtrada, desta vez por micro filtros. Os dois cilindros azuis que se podem ver na foto possuem uma alta eficiência na remoção de resíduos sólidos minúsculos - como moléculas e partículas. Essas duas pré-filtragens preparam a água para passar pelo processo de osmose inversa.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Sob alta pressão
O aparelho azul (na foto) é uma bomba de alta pressão. Aplica uma forte pressão na água do mar, que é distribuída pelos cilindros brancos. No interior, encontram-se membranas semipermeáveis por onde a água é forçada a passar. Neste processo de filtragem, consegue-se a retenção de sais dissolvidos. Obtém-se a água doce e a salmoura - solução com alta concentração de sal - que é devolvida ao mar.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Volume do abastecimento
Na Cidade da Praia, funcionam duas unidades dessalinizadoras da Electra, com capacidade para produzir 15.000m3 de água doce por dia. Pelo menos 60% da população da capital recebe a água dessalinizada da Electra. Na foto, uma visão parcial da unidade mais moderna de Santiago, em funcionamento desde 2013. A Electra é reponsável pelo abastecimento de água de mais de metade da população do país.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Controlo de qualidade
A água doce produzida é analisada num laboratório onde é feito o controlo de qualidade. De acordo com a Electra, a transferência da água para consumo só é autorizada se apresentar as condições estabelecidas nos protocolos da Organização Mundial da Saúde (OMS). Na foto, a engenheira bioquímica Elisângela Moniz mostra as placas utilizadas para a contagem de coliformes totais e fecais.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Moderna tecnologia europeia
Cabo Verde utiliza tecnologias europeias, espanhola e austríaca, para a dessalinização da água do mar. Na foto, o reservatório de água da empresa austríaca Uniha, que tem capacidade para armazenar 1.500 m3 de água. A água dessalinizada não fica parada aqui: é constantemente bombeada para os reservatórios de distribuição existentes ao longo da Cidade da Praia.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Grandes perdas
Esses equipamentos são responsáveis por bombear a água para os tanques de distribuição da Cidade da Praia. No entanto, cerca de 55% de toda a produção é perdida durante este processo. As perdas são causadas por fugas de água em tubulações e reservatórios antigos para onde a água é enviada antes de chegar ao consumidor.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Desafios e esforços para produzir água
O engenheiro António Pedro Pina, diretor de Planeamento e Controlo da Electra, diz que os maiores desafios da empresa são "garantir a continuidade na produção, estabilidade na distribuição e combater as perdas que, neste momento, estão em cifras proibitivas". Pina defende, no entanto, que "tem sido feito um esforço enorme para garantir a continuidade da distribuição da água" em Cabo Verde.
Foto: DW/C.V. Teixeira
Recurso natural abundante
Terminado o processo de dessalinização, a água com alta concentração de sal, denominada salmoura, é devolvida ao mar. Composto por 10 ilhas, o arquipélago cabo-verdiano encontra-se cercado por uma fonte inesgotável para a produção de água potável. Os cabo-verdianos têm assim o recurso natural abundante para garantir à população o abastecimento de água dessalinizada e limpa, constantemente.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Preço da água ainda é alto
A água dessalinizada pela Electra em Santiago abastece os moradores da Cidade da Praia. Na foto, moradores do bairro Castelão, na capital cabo-verdiana, compram água no chafariz público - um dos poucos que ainda restam no país. Cada bidão de cerca de 30 litros de água custa 20 escudos cabo-verdianos (cerca de 0,20 euros). O valor é considerado alto por muitos cabo-verdianos.