Cafunfo: Detido militar que alegadamente matou jovem
Lusa
9 de fevereiro de 2021
Após os incidentes do passado dia 30 de janeiro, um jovem voltou a ser mortalmente atingido a tiro, esta segunda-feira (08.02), por um militar fardado, em Cafunfo, Angola.
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O Ministério do Interior na Lunda Norte confirmou, esta terça-feira (09.08), que encontra-se detido o militar das Forças Armadas Angolanas acusado de ter morto a tiro um jovem, esta segunda-feira (08.02), no bairro Bala Bala em Cafunfo,.
Num comunicado enviado à imprensa, o Ministério do Interior informa que o alegado autor do crime de homicídio encontrava-se fardado na via pública, na companhia de um colega, em missão particular, quando interpelaram dois jovens que circulavam numa motorizada.
"Sem motivo aparente, produziram disparos de armas de fogo do tipo AKM", alvejando mortalmente um jovem de 25 anos, Garcia João Zeca, e provocando graves ferimentos num outro, de 27 anos, Lino António Fernandes, lê-se no documento.
"Após denúncia, o Serviço de Investigação Criminal deteve os supostos prevaricadores e foram encaminhados ao Ministério Público para prosseguimento dos trâmites processuais, visando a sua responsabilização criminal", acrescenta o comunicado.
A delegação provincial do Ministério do Interior condenou ainda o "ato bárbaro" e apela "aos órgãos afins para que os implicados sejam severamente punidos nos termos dos dispositivos legais", endereçando condolências à família.
Em declarações à Lusa, João Zito Zecamutchima, pai do jovem, disse nada saber sobre as circunstâncias e os motivos que levaram ao assassinato. Acrescentou que a polícia lhe garantiu que os responsáveis seriam penalizados.
"Acaba de me matar": jovens angolanos protestam contra o Governo nas redes sociais
Devido à falta de estrutura para lidar com os efeitos da chuva, pelo menos dez pessoas morreram em Luanda. Esta situação levou os cidadãos a iniciarem no Facebook uma onda de protestos denominada "Acaba de me matar".
Foto: Guenilson Figueiredo
Perdas após mau tempo
A morte de uma criança de quatro anos desencadeou a onda de protestos nas redes sociais, com os cidadãos a partilhar imagens fingindo-se de mortos e com a mensagem "Acabam de nos matar", uma forma de repudiar a não resolução dos problemas da população por parte do Governo. Ariano James Scherzie, 19 anos, participou na campanha que rapidamente se tornou viral.
Foto: Ariano Scherzie
Sonhos estão a morrer
Botijas de gás, livros, computadores e blocos de cimento estão entre os objetos usados pelos jovens para protestar contra o que dizem ser más políticas públicas. Indira Alves, 28 anos, lamenta a situação do seu país. "Estou a morrer. Desde as condições de vida até aos sonhos, não é possível o que temos vivido nesta Angola", conta a jovem que abandonou os estudos para trabalhar.
Foto: Indira Alves
Chamar atenção das autoridades
Anderson Eduardo, 24 anos, quis "atingir pacificamente a atenção de alguém de direito a fim de acudir-nos". Decidiu participar no protesto devido ao descontentamento com a governação em Angola. "Eles nos pedem para apertar o cinto, se contentar com o bem pouco, e ao mesmo tempo tudo sobe de preço, alimentos, vestuários, electrodomésticos, e o salário não sobe”, conta o engenheiro informático.
Foto: Anderson Eduardo
Em nome dos colegas e pacientes
Cólua Tremura, 24 anos, conta o porquê de ter participado no protesto: "A minha motivação foram os meus colegas que cancelaram a faculdade por causa da crise, os colegas que morreram antes de realizarem o sonho de serem médicos, os pacientes que apenas vão ao hospital quando estão graves. Acredito que [o protesto] não alcançou os resultados previstos, que era chamar a atenção do Governo".
Foto: Cólua Tremura
Sem reações
Lucas Nascimento, 20 anos, viu no mau tempo e na falta de estrutura razões para aderir ao protesto. O jovem quis dar apoio a uma jovem da região que perdeu a casa num desabamento provocado pelo mau tempo. "Acaba de me matar quer dizer que nós já estamos mal e o Governo está acabando de nos matar", explica. "Até aqui, não notamos nenhuma reação do Governo, talvez possa ser ignorância ou desleixo".
Foto: Lucas Nascimento
Falta justiça
Guenilson Figueiredo, 20 anos, entrou na onda de protestos e teme as consequências que ela pode trazer aos cidadãos que participaram. "Não posso falar muito sobre este protesto, porque nós vivemos num país onde a justiça só funciona contra os pobres".