Cai exportação de caju na Guiné-Bissau após golpe militar
9 de maio de 2012 Enquanto prosseguem as negociações para encontrar uma solução à crise, as necessidades da população da Guiné-Bissau são postas de lado, o pagamento dos salários aos funcionários foi adiado na falta de um governo, e a campanha de comercialização da castanha de caju, essencial para a economia e o sustento da população, tem sido perturbada – como referiu no seu relatório o representante do secretário geral das Nações Unidas na Guiné-Bissau, Joseph Mutaboba.
O caju contribui significativamente para a economia nacional, com 90% no Orçamento Geral de Estado. Os relatórios do Fundo Monetário Internacional citam sempre o produto, que consoante boa ou má campanha faz subir ou descer o Produto Interno Bruto da Guiné-Bissau.
"Nenhum quilograma"
No país, 85% por cento das pessoas das zonas rurais são pequenos produtores e no total o país exportou em 2011 quase 200 mil toneladas de caju, que renderam 156 milhões de euros.
No terreno, a presente campanha de venda da castanha de caju vai de mal a pior, segundo o presidente da Associação nacional dos agricultores, Mama Samba Embaló. Segundo ele, quem sofre mais "é a população camponesa".
De acordo com inquéritos feitos pelo Programa Alimentar Mundial (PAM), o impacto da situação sobre as pessoas nas regiões administrativas de Oio, Quinara, Gabú, Bafatá e Cacheu mostrou que a castanha de caju tem sido vendida a um preço inferior ao estabelecido, afetando negativamente o rendimento das populações que contam com a sua venda para ganhar o sustento.
A importância de um bom ano de colheita do caju é fundamental para a Guiné-Bissau, um dos países mais pobres do mundo, cuja economia assenta, essencialmente, na castanha do fruto. Fazendo comparações com os números do ano passado, Mama Samba Embaló aponta para uma perda significativa dos produtores: "Não pudemos alcançar a quantidade exportada no ano passado. Isso está fora de questão. Nesta altura do ano passado, já se tinha exportado para o exterior, através do porto de Bissau, por volta de 16 mil toneladas de castanha de caju. Neste mês de maio, nenhum quilograma saiu via porto", constatou o presidente da Associação Nacional dos Agricultores.
Perda de receitas
O Estado vai perder, este ano, 14 milhões de dólares só em receitas alfandegárias com a exportação de caju, porque os compradores mudaram de rota, ou seja transportam o produto via terrestre para os países vizinhos.
Embaló lembra que, atualmente, "estão a comercializar os indianos e os comerciantes mauritanos. Têm acesso a dinheiro líquido e estão a praticar compra a preços muito baixos junto ao produtor. As instruções do Estado ligadas à fileira do caju não estão a funcionar. Não se está a verificar o controlo das nossas fronteiras. Lamentamos [isso]".
Nos últimos dias, Homens e mulheres, novos e velhos, deixaram a capital rumo ao interior do país, sem pensar muito nas voltas e reviravoltas políticas e militares de Bissau mas sabendo que delas depende o seu futuro. Porque em Bissau não há dinheiro, não há governo e lá fora pode-se vender a castanha para conseguir alimentar-se.
Segundo dados disponíveis, actualmente a Guiné-Bissau figura na lista de quinto produtor mundial de castanha de caju. A parte transformada industrialmente não atinge os 10% da produção total. O presidente da Associação dos Agricultores chamou atenção aos intervenientes de que a exportação do caju em bruto, sem processamento local, representa uma perda considerável de valor para a Guiné-Bissau.
Autor: Braima Darame (Bissau)
Edição: Renate Krieger / António Rocha