Camarões: Advogados pedem libertação de ativistas anglófonos
AFP | tms
2 de setembro de 2017
Advogados querem que o Governo liberte todos os presos depois que cerca de 50 pessoas foram soltas esta semana. Grupo denuncia acusações "discriminatórias" contra líderes da comunidade anglófona.
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Dezenas de advogados dos Camarões pediram ao Governo que liberte todas as pessoas que estejam presas, acusadas de terrorismo durante a luta pelos direitos anglófonos no país de maioria francesa. Nesta semana, o Presidente ordenou a libertação de cerca de 50 ativistas.
Em uma declaração divulgada na sexta-feira (01.09) com a assinatura de cerca de 100 advogados, o grupo denunciou acusações "discriminatórias" contra líderes dos falantes de inglês, que representam cerca de 20% dos 22 milhões de habitantes do país.
O comunicado não cita quantas pessoas ainda estão detidas, mas assegura que entre os líderes presos está o jornalista de rádio Mancho Bibixy.
Entre os libertos na última sexta-feira estavam Felix Agbor Nkongho, um advogado, e Neba Fontem Aforteka'a, professor, que foram presos em janeiro por acusações potencialmente puníveis com a morte.
Tensões
A decisão do Presidente Paul Biya de libertar os homens foi vista como um esforço para acalmar as tensões entre as comunidades anglófona e francófona do país bilingue antes das eleições presidenciais do próximo ano.
Biya governa o país desde 1982. O conflito começou com uma greve de advogados exigindo que as regiões anglófonas usem o direito comum anglo-saxão como referência judicial, e logo foi seguida por uma greve dos professores. Os protestos nas duas principais regiões de língua inglesa, no noroeste e no sudoeste dos Camarões, pressionaram por um Estado federal, enquanto alguns secessionistas já pediram a independência.
Os Camarões, com recursos de petróleo, madeira e agricultura, é uma das economias mais prósperas do continente. Mas a minoria anglófona há muito se queixou de que a riqueza não foi compartilhada de forma justa e que sofreram discriminação.
Camarões: Valorizar a língua local
No noroeste dos Camarões, os alunos da primeira classe têm aulas em inglês, apesar de a maioria não dominar a língua. Por isso, algumas escolas começaram a leccionar em kom, o idioma local.
Foto: DW/H. Fischer
Aprender a escrever a própria língua
No noroeste dos Camarões, os alunos costumam ter aulas em inglês, apesar de não dominarem a língua. As crianças têm de aprender a ler e a escrever uma língua estrangeira a partir da primeira classe - é um desafio enorme. Por isso, em algumas escolas, os professores começaram a ensinar em kom, a língua materna dos alunos.
Foto: DW/H. Fischer
Histórias do dia-a-dia
Com as aulas na língua materna, os alunos fazem progressos muito mais rapidamente do que noutras escolas. Vários linguistas fizeram livros na língua local, que incluem expressões da região e histórias que os alunos conhecem do seu dia-a-dia. Assim, compreendem mais facilmente o que aprendem na escola.
Foto: DW/H. Fischer
Inglês como língua estrangeira
As crianças começam a aprender inglês na segunda classe. Nessa altura, já sabem ler e escrever em kom. O inglês só tem algumas letras diferentes da língua local.
Foto: DW/H. Fischer
O despertar da curiosidade
As crianças que aprendem inglês na segunda classe participam muito mais ativamente nas aulas do que os que começaram a aprender logo na primeira. Percebem as perguntas e não têm medo de dar respostas erradas. Nota-se que os alunos têm vontade de aprender e lêem tudo o que lhes passa pelas mãos.
Foto: DW/H. Fischer
Sem medo da vara
Quem se diverte nas aulas aprende mais, e quem aprende mais diverte-se mais nas aulas. "Com as aulas na língua materna, os professores batem muito menos nos alunos", diz Kain Godfrey Chuo, coordenador do projeto. Os castigos corporais são comuns nos Camarões. Se os alunos se portam mal, arriscam-se a que os professores lhes batam com uma vara.
Foto: DW/H. Fischer
Competências dos professores
Muitos professores da região também não falam inglês corretamente, e isso prejudica as aulas. Ensinar na língua local é, também por isso, uma mais-valia.
Foto: DW/H. Fischer
'English first" a partir da quarta classe
Só a partir da quarta classe é que as aulas começam a ser só em inglês. Os alunos têm até essa altura para compreender as bases da matemática, bastando apenas traduzi-la para inglês. Isso faz com que os alunos resolvam os problemas muito mais depressa do que se tivessem, primeiro, aprendido a fazer contas numa língua estrangeira.
Foto: DW/H. Fischer
Uma base sólida
Seis anos depois, ao terminar a escola primária, os alunos que tiveram aulas na língua materna costumam ter melhores notas do que aqueles que começaram a aprender em inglês na primeira classe. As aulas na língua materna criam uma base sólida para ter sucesso na escola e, mais tarde, na vida profissional.