Camarões: Campanha eleitoral arranca em clima de conflito
Moki Kindzeka | rl
22 de setembro de 2018
Arranca, oficialmente, este sábado (22.09), campanha para as presidenciais de 7 de outubro nos Camarões. Mas conflitos nas regiões anglófonas levaram eleitores à descrença e milhares a fugir com medo de confrontos.
São muitas as pessoas que se encontram no Parque "Mile 17" na cidade de Buea, no sudoeste do país. Esperam a chegada de um autocarro que as leve para fora da região. O governador Bernard Okalia Bilai tenta demovê-las desta ideia e pede que voltem para suas casas.
"Há notícias falsas de que o exército vai atacar, mas não [é verdade], o exército não está a lançar ataques. Está lá para proteger a população e as suas propriedades. Está lá para neutralizar esses ataques,” argumenta.
O governador tem visitado o parque quase todos os dias para tentar impedir o êxodo em massa de moradores das regiões anglófonas mais afetadas.
John Nlom é professor e está de partida com a sua esposa e os cinco filhos. Diz não confiar nas garantias dadas pelo governador no que toca à questão da segurança.
"O próprio governador, que diz que as pessoas deviam voltar para trás, porque estão seguras aqui, tem soldados a garantir a sua proteção. Os soldados conseguirão proteger todas as pessoas? Esta é a razão pela qual não posso ficar. Tenho que ir," afirma.
Sem motivação para votar
Nas últimas três semanas, diz o Governo, milhares de pessoas fizeram as malas e partiram. Eles não se importam muito em votar numa eleição, que entendem, que não será livre e justa, diz Prince Ekosso, presidente do Partido Socialista Democrata Unido.
"É impossível que eleições credíveis ocorram no noroeste e sudoeste. De fato, as cidades e vilas do noroeste e do sudoeste estão desertas. E já é tarde para que alguma coisa seja feita para que hajam eleições livres e justas nestas duas regiões," avalia.
Os candidatos às presidenciais têm viajado pelo país encorajando os eleitores a votar. Mas Frank Afanui, do Movimento Nacional de Cidadania dos Camarões, foi, até agora, o único a deslocar-se à região sudoeste.
Na capital do país, Yaoundé, Maurice Kamto, candidato do Movimento para o Renascimento dos Camarões, afirma que os separatistas devem permitir que as pessoas votem pois, só assim, acrescenta, será possível a mudança do sistema pela qual tanto lutam.
Conflitos nas regiões anglófonas
Os conflitos nos Camarões tiveram inicio em outubro de 2017, quando os separatistas anglófonos exigiram a independência das regiões de língua inglesa por se sentirem marginalizados pelos falantes de francês, a maioria no país.
21.09 eleicoes camaroes (neu) - MP3-Stereo
Joshua Osih, candidato do maior partido da oposição, a Frente Democrata Social, afirma ter uma solução para o conflito.
"O problema não é a separação. É a marginalização e injustiças que levam a essa separação. Para mim, a separação não resolverá, necessariamente, o problema. Há que resolver primeiro a questão da marginalização. Assim que for eleito, uma das minhas primeiras decisões será reconhecer que este é um problema político," garante.
A Comissão Eleitoral dos Camarões (ELECAM) tem-se reunido, frequentemente, com os partidos políticos para perceber o que pode ser feito para que as eleições ocorram pacificamente nas sub-regiões. Ainda que os eleitores estejam a fugir destas regiões, a Comissão Eleitoral organizará as eleições para os que ficarem, garante a sua presidente Enow Egbe.
"Em termos de medidas de segurança, sentimos que era necessário reagrupar as assembleias de voto em centros de votação e muitas considerações foram tomadas," garante.
Não é esperado que o Presidente Paul Biya realize qualquer ação de campanha nas regiões de língua inglesa.
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.