Cerca de 10 mil conselheiros foram às urnas este domingo (25.03) para eleger 70 dos 100 senadores do país. Autoridades monitoraram votação nas zonas anglófonas, onde os conflitos com o Governo têm crescido.
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Nos Camarões, as eleições para o Senado aconteceram este domingo, enquanto as tensões continuam a aumentar nas regiões anglófonas do país de maioria francesa, onde os rebeldes separatistas têm combatido as forças do Governo há vários meses.
As eleições para o Senado não se realizam por sufrágio universal. Cerca de 10 mil conselheiros municipais camaroneses foram chamados às urnas para eleger os 70 membros da Câmara Alta, que deverão cumprir um mandato de cinco anos. Posteriormente, o Presidente Paul Biya vai nomear mais 30 nomes para ocupar os lugares restantes naquela casa.
O partido do Governo, o Movimento Popular Democrático dos Camarões (CPDM), já detém uma grande maioria no Senado e é o favorito na votação. A principal oposição, a Frente Social Democrática (SDF), só tem candidatos em cinco das 10 províncias.
O presidente do Senado pode atuar como um chefe de Estado interino, mas a câmara desempenha apenas um papel secundário, focada principalmente na apreciação de projetos de lei.
As autoridades monitoraram de perto a votação nas províncias do noroeste e do sudoeste do país, dois territórios de língua inglesa que se tornaram parte do país de maioria francesa após a independência em 1960.
Tensão na região anglófona
As tensões têm crescido nessas áreas – que correspondem a cerca de um quinto da população de 23 milhões de pessoas – desde que os separatistas autoproclamaram a república autônoma da Ambazónia em outubro do ano passado.
O país teve uma tortuosa história colonial que passou do domínio alemão para mãos francesas e britânicas, e a minoria anglófona queixou-se de ter sido marginalizada pela elite francófona.
O conflito entre os rebeldes e o Exército tornou-se cada vez mais sério, com os separatistas exortando as forças armadas e os funcionários do Governo a deixar o território.
Entretanto, novos grupos separatistas estão surgindo, enquanto as autoridades de Yaoundé reduziram ao mínimo suas comunicações. O conflito já provocou a fuga de mais de 30 mil pessoas da região, que se refugiam principalmente na Nigéria.
Camarões: Valorizar a língua local
No noroeste dos Camarões, os alunos da primeira classe têm aulas em inglês, apesar de a maioria não dominar a língua. Por isso, algumas escolas começaram a leccionar em kom, o idioma local.
Foto: DW/H. Fischer
Aprender a escrever a própria língua
No noroeste dos Camarões, os alunos costumam ter aulas em inglês, apesar de não dominarem a língua. As crianças têm de aprender a ler e a escrever uma língua estrangeira a partir da primeira classe - é um desafio enorme. Por isso, em algumas escolas, os professores começaram a ensinar em kom, a língua materna dos alunos.
Foto: DW/H. Fischer
Histórias do dia-a-dia
Com as aulas na língua materna, os alunos fazem progressos muito mais rapidamente do que noutras escolas. Vários linguistas fizeram livros na língua local, que incluem expressões da região e histórias que os alunos conhecem do seu dia-a-dia. Assim, compreendem mais facilmente o que aprendem na escola.
Foto: DW/H. Fischer
Inglês como língua estrangeira
As crianças começam a aprender inglês na segunda classe. Nessa altura, já sabem ler e escrever em kom. O inglês só tem algumas letras diferentes da língua local.
Foto: DW/H. Fischer
O despertar da curiosidade
As crianças que aprendem inglês na segunda classe participam muito mais ativamente nas aulas do que os que começaram a aprender logo na primeira. Percebem as perguntas e não têm medo de dar respostas erradas. Nota-se que os alunos têm vontade de aprender e lêem tudo o que lhes passa pelas mãos.
Foto: DW/H. Fischer
Sem medo da vara
Quem se diverte nas aulas aprende mais, e quem aprende mais diverte-se mais nas aulas. "Com as aulas na língua materna, os professores batem muito menos nos alunos", diz Kain Godfrey Chuo, coordenador do projeto. Os castigos corporais são comuns nos Camarões. Se os alunos se portam mal, arriscam-se a que os professores lhes batam com uma vara.
Foto: DW/H. Fischer
Competências dos professores
Muitos professores da região também não falam inglês corretamente, e isso prejudica as aulas. Ensinar na língua local é, também por isso, uma mais-valia.
Foto: DW/H. Fischer
'English first" a partir da quarta classe
Só a partir da quarta classe é que as aulas começam a ser só em inglês. Os alunos têm até essa altura para compreender as bases da matemática, bastando apenas traduzi-la para inglês. Isso faz com que os alunos resolvam os problemas muito mais depressa do que se tivessem, primeiro, aprendido a fazer contas numa língua estrangeira.
Foto: DW/H. Fischer
Uma base sólida
Seis anos depois, ao terminar a escola primária, os alunos que tiveram aulas na língua materna costumam ter melhores notas do que aqueles que começaram a aprender em inglês na primeira classe. As aulas na língua materna criam uma base sólida para ter sucesso na escola e, mais tarde, na vida profissional.