Camarões: Eleições sob incertezas e denúncias de fraude
Moki Edwin
11 de agosto de 2018
As presidenciais estão agendadas para 7 de outubro. Entretanto, clima de incerteza nas regiões anglófonas e denúncias de fraude da oposição dividem opiniões sobre a realização do pleito.
Foto: DW
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A 7 de outubro, os camaroneses vão às urnas em eleições presidenciais. Estão na disputa 28 candidatos, incluindo o atual Presidente de 86 anos, Paul Biya, no poder há 36 anos. A eleição ocorrerá num cenário de incertezas nas regiões de língua inglesa do país e sob acusações de que o Governo planeja fraudar o pleito.
"Nada está a acontecer. Eles não pagam ao meu pai e não haverá dinheiro para as taxas escolares ou alimentos em casa. É por isso que eles nos trouxeram para cá, em segurança, e quando melhorar eles nos levarão de volta. Eles estão a atirar em pessoas dentro de suas casas e elas estão morrendo assim".
Esta é o relato de Kum Vitalis, de apenas oito anos de idade, que fugiu da guerra que deixou pelo menos 300 separatistas armados, civis e soldados mortos em regiões de língua inglesa nos Camarões.
Segundo as Nações Unidas, cerca de 200 mil pessoas fugiram para o mato e locais mais seguros no país. Outras 40 mil pessoas atravessaram a fronteira para a Nigéria, à medida que a guerra avança com grupos armados a afirmar que as eleições nunca terão lugar nas regiões anglófonas.
Polícia nas ruas da cidade de Kumba, numa das regiões anglófonas do país (outubro/2017)Foto: Getty Images/AFP
Eleições possíveis ou não?
O professor Ngum Julius, de 54 anos, que escapou da cidade de Njinikom, diz acreditar que as eleições não podem ser realizadas lá. Ele conta que "todas as empresas estão encerradas. Todos os serviços do Governo estão encerrados, exceto os militares".
Além disso, continua o professor, "muitas pessoas se foram das comunidades. Muitas pessoas estão a morrer, muitas mais estão deslocadas. Precisamos nos sentar na mesma mesa, como camaroneses, conversar sobre isso e encontrar uma solução".
Na capital Yaoundé, o estudante universitário Tatah Hans é um dos que acreditam que as eleições nunca serão efetivas. "Eu sou um camaronês. É normal votar. Eu tenho que votar, mas estou a enfrentar tantas dificuldades, porque muito em breve eles começarão o pleito e eu não tenho um cartão de eleitor. Eu não sei o que fazer", afirma.
Otimismo
Apenas sete dos 13 milhões de possíveis eleitores se registaram para votar. Apesar da crise e da indiferença de muitos eleitores, Jacques Ndongo, um forte defensor do Presidente Biya, diz que irão em frente com a eleição contra os desejos daqueles que querem arruiná-las.
Paul Biya, Presidente dos CamarõesFoto: picture alliance/abaca/E. Blondet
"Sabemos que o sonho louco deles é evitar a organização das eleições presidenciais nessas duas regiões, mas esse sonho nunca se concretizará porque as populações das regiões noroeste e sudoeste estão determinadas a expressar seu apoio total ao chefe de Estado que é o candidato natural e legítimo do Movimento Popular Democrático dos Camarões. Sabemos que a grande maioria deles é vítima de atrocidades daqueles grupos minoritários que são ladrões, que violam, matam e roubam", acredita o apoiante do Presidente.
Oposição denuncia "fraude"
O principal partido da oposição, a Frente Social-Democrática, tem estado a alertar o Governo contra a fraude. Denise Nkemlemo, secretária de comunicação do partido, diz que foram criadas assembleias de voto em campos militares, contrariando a lei eleitoral.
"Não deveríamos ter estações de votação dentro da Presidência. Os campos militares estão fora de questão no que diz respeito às assembleias de voto. Nas últimas eleições, quando os nossos representantes quiseram levantar questões, o capitão e os coronéis vieram com armas e disseram-lhes: 'não façam barulho aqui'. A Frente Social-Democrática não tolerará a falta de respeito da lei eleitoral".
Camarões: Eleições sob incertezas e denúncias de fraude
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Mas Enow Egbe, presidente da Comissão Eleitoral, afirma que as alegações são infundadas. "Os partidos políticos são parceiros integrais no processo eleitoral. A comissão mista declarada na lei eleitoral exige que assinem e validem todos os processos de registo e enviem os seus representantes a todas as assembleias de voto".
Os Camarões também estão a lidar com ataques de militantes do grupo terrorista Boko Haram no norte, e um transbordamento da violência da República Centro-Africana.
Paul Biya governa o país desde 1982. Ele é visto por muitos como favorito. Se vencer essas presidenciais, governará até 2025, quando a próxima eleição presidencial acontecerá, e quando terá 93 anos.
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.