Camarões: Tiroteios nas vésperas das presidenciais
Moki Kindzeka | Katrin Gänsler | tm
5 de outubro de 2018
Eleitores dos Camarões escolhem no domingo o seu próximo Presidente. Paul Biya, de 85 anos, recandidata-se ao cargo. Em véspera de eleições, cresce a tensão entre separatistas anglófonos e forças governamentais.
Publicidade
Paul Biya era esperado desde terça-feira (02.10) em Buea, a capital da região anglófona, no sudoeste dos Camarões. Mas não apareceu. Segundo Gerald Ngalla, um dos seus colegas de partido, o Presidente camaronês quis ser cauteloso e evitar um derramamento de sangue.
A estrada para Buea tem sido palco de tiroteios entre militares camaroneses e separatistas anglófonos, a poucos dias das eleições presidenciais, agendadas para domingo. O clima de tensão aumentou sobretudo depois de as autoridades acusarem os separatistas de sequestrarem, pelo menos, oito oficiais do partido no poder e atacarem membros da campanha de Paul Biya, de 85 anos.
Os separatistas exigem a independência das regiões anglófonas dos Camarões, por se sentirem marginalizados pelos falantes de francês, a maioria no país.
Ngalla diz que tem sido difícil fazer campanha eleitoral, até mesmo para a oposição: "Havia partidos da oposição que apoiavam esta ilusão, e agora eles mesmos dizem que é difícil fazer campanha. Criou-se algo e há dificuldade em controlar. Mas nós temos sido pela paz, e permanecemos pela paz", afirma.
A organização de direitos humanos Amnistia Internacional sublinha, no entanto, que ambos os lados têm feito ataques. Observadores temem que o conflito possa afetar a votação de domingo. Enow Abrams Egbe, presidente da Comissão Eleitoral dos Camarões (ELECAM), garante, no entanto, que o país está preparado para realizar eleições livres e justas.
Camarões: Tiroteios nas vésperas das presidenciais
Jovens pedem mudanças
Entretanto, nas ruas de Douala, a capital económica dos Camarões, os jovens dizem estar cansados de ver Paul Biya a chefiar o Governo.
Nos Camarões, 62% dos quase 25 milhões de habitantes dos Camarões têm menos de 25 anos, e muitos deles esperam que as presidenciais de domingo tragam mudanças para o país, incluindo mais empregos e educação.
"Eu já vi três papas desde que nasci, mas apenas um Presidente", comenta Joël Daniel Dooh Mbella, um jovem camaronês de 27 anos.
Cerca de seis milhões de eleitores são esperados em 25 mil locais de votação nos Camarões em 7 de outubro. Aos 85 anos, Biya, há 36 anos no poder, procura a reeleição neste ato eleitoral, que não se prevê pacífico.
Presidentes africanos para sempre
Vários presidentes africanos governam há tanto tempo, que muitos cidadãos não conhecem outro líder do seu país. Teodoro Obiang Nguema é o líder africano há mais tempo no poder: governa a Guiné Equatorial desde 1979.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Alamba
Guiné Equatorial: Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo é atualmente o líder africano há mais tempo no poder, depois de, em 2017, José Eduardo dos Santos ter deixado o cargo de Presidente de Angola, que ocupava também desde 1979. Neste ano, Obiang chegou ao poder através de um golpe de estado contra o seu tio, Francisco Macías. Nas últimas eleições no país, em 2016, Obiang afirmou que não voltaria a concorrer em 2020.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Lecocq
Camarões: Paul Biya
Com o seu nascimento no ano de 1933, Paul Biya é o Presidente mais idoso do continente africano e apenas ultrapassado em anos no poder pelo líder da vizinha Guiné Equatorial. Biya chegou ao poder em 1982. Em 2008, uma revisão à Constituição retirou os limites aos mandatos. Em 2018, Biya, foi declarado vencedor das eleições. Os Camarões atravessam uma crise com a rebelião na parte anglófona.
Foto: picture-alliance/AA/J.-P. Kepseu
Uganda: Yoweri Museveni
Com mais de 30 anos no poder, Yoweri Museveni é, para uma grande parte dos ugandeses, o único Presidente que conhecem. 75% dos atuais 35 milhões de habitantes nasceram depois de Museveni ter subido ao poder em 1986. Em 2017, foi aprovada a lei que retira o limite de idade (75 anos) para concorrer à Presidência. Assim sendo, Museveni já pode concorrer ao sexto mandado, nas eleições de 2021.
Foto: picture alliance/AP Photo/B. Chol
República do Congo: Denis Sassou Nguesso
Foi também uma alteração à Constituição que permitiu que Denis Sassou Nguesso voltasse a candidatar-se e a vencer as eleições em 2016 na República do Congo (Brazzaville). Já são mais de 30 anos à frente do país, com uma pequena interrupção entre 1992 e 1997. Denis Sassou Nguesso nasceu no ano de 1943.
Foto: picture-alliance/AA/A. Landoulsi
Ruanda: Paul Kagame
Paul Kagame lidera o Ruanda desde 2000. Antes, já teve outros cargos influentes e foi líder da Frente Patrifótica Ruandesa (FPR), a força que venceu a guerra civil no Ruanda. Em 2017, Kagame ganhou as eleições com 98,8% dos votos. Assim poderá continuar no poder até, pelo menos, 2034. Assim ditou a consulta popular realizada em 2015 que acabou com o limite de dois mandatos presidenciais.
Foto: Imago/Zumapress/M. Brochstein
Burundi: Pierre Nkurunziza
Em 2005, Pierre Nkurunziza chegou ao poder no Burundi. Em 2015, o terceiro mandato de Nkurunziza gerou uma onda de protestos entre a população que, de acordo com o Tribunal Penal Internacional, terá causado cerca de 1.200 mortos e 400.000 refugiados. Em maio de 2018, teve lugar um referendo para alterar a Constituição, que permitiu ao Presidente continuar no cargo até 2034.
Foto: Reuters/E. Ngendakumana
Gabão: Ali Bongo Ondimba
Ali Bongo ainda está longe de quebrar o recorde do pai, que esteve 41 anos no poder, mas já vai no terceiro mandato, ganho em 2017, no meio de muita contestação. Em 2018, a Constituição do Gabão foi revista para acabar com o limite de mandatos. A nova versão da Constituição também aumentou os poderes do Presidente para tomar decisões unilateralmente.
Foto: Reuters/Reuters TV
Togo: Faure Gnassingbé
Em 2005, Faure Gnassingbé substituiu o pai, que liderou o país durante 38 anos. Ao contrário de outros países, o Togo não impunha um limite aos mandatos. Em 2017, após protestos da população contra a "dinastia" Gnassingbé, foi aprovada a lei que impõe um limite de mandatos. No entanto, a lei não tem efeitos retroativos, pelo que o ainda Presidente poderá disputar as próximas eleições, em 2020.
Foto: DW/N. Tadegnon
Argélia: Abdelaziz Bouteflika
Abdelaziz Bouteflika esteve 20 anos no poder na Argélia (1999-2019). Em 2013, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), mas nem a idade, nem o estado de saúde travaram o Presidente de anunciar que iria procurar um quinto mandato em 2019. Em abril de 2019, face a protestos públicos, anunciou a sua renúncia ao cargo. Nesta altura, já teve 82 anos de idade.