Jornalistas camaroneses desafiam proibição de debates
Moki Kindzeka | tms
15 de março de 2018
Jornalistas camaroneses dizem que interdição de debates políticos imposta por autoridades antes de eleições é um desrespeito total à liberdade de imprensa e de expressão. Privados resolveram ignorar proibição.
Publicidade
Na Magic FM, uma rádio na capital camaronesa, Yaoundé, uma música anuncia o início do programa de debate político. Alima Mbarga, oficial de comunicações da Frente Social-Democrática, o maior partido da oposição, é um dos convidados no estúdio que responde aos telefonemas dos ouvintes.
Mbarga saúda a rádio por ter ignorado a proibição a programas de debate político, ordenada pelo Conselho Nacional de Comunicação.
"A proibição da discussão política é descabida, pois estamos num ano de eleições", diz Mbarga, referindo-se às eleições de 25 de março para o Senado. "É preciso dar espaço suficiente aos partidos políticos e às pessoas para exprimirem as suas opiniões, para que os camaroneses conheçam os projetos dos partidos e dos seus candidatos."
Jornalistas camaroneses desafiam proibição de debates
"Não aceitamos restrições à liberdade de expressão"
A Galaxy FM é outra das estações privadas que desrespeitou a proibição. O seu popular programa político em francês, "Au Coeur de la République" (No Coração da República) continua no ar.
"Não aceitamos que alguém restrinja a liberdade de expressão quando o país quer ser totalmente democrático", afirma o apresentador Jean Jacques Ola Bebe em nome da rádio.
"A liberdade de expressão é o pilar sobre o qual deve ser construída qualquer democracia. As campanhas eleitorais são uma oportunidade para os atores políticos divulgarem os seus programas e mostrarem o que fizeram."
A entidade reguladora dos média, o Conselho Nacional de Comunicação (NCC, na sigla em inglês), ordenou a suspensão dos debates políticos de 10 a 24 de março, justificando que esse tipo de programas poderia fomentar conflitos antes das eleições.
Os meios de comunicação continuam a estar autorizados a cobrir a campanha eleitoral e as atividades dos candidatos, desde que as emissões respeitem princípios de "equilíbrio, transparência e imparcialidade", segundo o NCC. A rádio e televisão estatal, CRTV, tem respeitado a decisão.
Má nota no índice de liberdade de imprensa
Os Camarões têm mais de 500 jornais e uma centena de emissoras de rádio e televisão. Ainda assim, os Camarões estão na posição 130 num total de 180 países no índice mundial de liberdade de imprensa da organização Repórteres Sem Fronteiras. No passado, o NCC interditou jornais, impôs multas exorbitantes ou mandou prender jornalistas ou editores que criticaram o Governo.
O presidente do NCC, Peter Essoka, nega as alegações de que a suspensão dos debates políticos foi uma resposta às críticas crescentes ao partido do Presidente Paul Biya, o Movimento Popular Democrático de Camarões. Biya, na Presidência dos Camarões desde 1982, é o líder africano há mais tempo no poder.
Jean Tobie Hond, o secretário-geral do NCC, prometeu punir todos os que desafiarem a proibição.
"Se os meios de comunicação não veem necessidade de parar, é possível que o Conselho tome as medidas previstas num decreto presidencial de 2012, nomeadamente que suspenda os meios de comunicação que desrespeitem a proibição", afirmou Hond.
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.