Camarões lançam novo programa para combater HIV/SIDA
Moki Kindzeka | vr
25 de julho de 2017
Em breve, grávidas da região norte dos Camarões poderão ser testadas para saber se estão infetadas com o HIV/SIDA, de modo a prevenir a transmissão do vírus para os seus bebés. Governo espera melhorias já este ano.
Publicidade
Asta Gumanji, de 26 anos, vive com a doença há seis anos, mas só recentemente soube disso. Por isso, também a sua bebé foi infetada. "No hospital, disseram-me que ela precisava de uma transfusão de sangue e que, para isso, teria de fazer testes ao HIV. Foi aí que me informaram que tanto eu, como a minha filha, éramos portadoras do vírus", recorda.
Agora, Asta Gumanji e a filha estão ambas em tratamento. O marido morreu pouco depois de lhes ter sido feito o diagnóstico. A jovem mãe sonha encontrar um novo parceiro nas mesmas condições que ela, para ter algum apoio na educação da sua filha. "Quando lhes digo que estou infetada com o vírus, eles fogem", conta.
O seu marido já sabia que era portador do vírus, mas recusou-se a contar-lhe e, em segredo, estava a fazer tratamento antirrretroviral. Asta também não teve quaisquer cuidados pré-natais e teve a bebé em casa.
Camarões lançam novo programa para combater HIV/SIDA
Hourei Issa, representante do Governo camaronês e porta-voz da prevenção contra o vírus da imunodeficiência humana, confirma que Asta Gumanji faz parte da lista de mulheres que deu à luz em casa em 2016, sem saber qual o seu estado de saúde.
"Temos promovido programas para que as parteiras tradicionais não retenham as mulheres nas suas comunidades", explica Hourei Issa. O trabalho passa também pelas aldeias, onde se procura ajuda para a passar a mensagem dos riscos que advém da falta de acompanhamento natal e pré-natal. "Esperamos que as coisas melhorem este ano", afirma o porta-voz.
Testes a recém-nascidos
Também se espera que diminua o tempo de espera dos resultados dos testes ao HIV feitos aos recém-nascidos nos hospitais da região, com a hipótese de usar máquinas de análise ao sangue que permitam realizar o diagnóstico a bebés com menos de 18 meses.
Isto iria permitir testar as amostras localmente, sem terem que percorrer grandes distâncias até ao centro de análises mais próximo, explica Wekang Georgette, oficial do Ministério da Saúde e responsável pelo combate à doença.
"Os resultados demoram seis meses, às vezes sete, a chegar. Já aconteceu os resultados chegarem já depois da morte da criança", explica. Além disso, lembra Wekang Georgette, "há um estigma muito grande" e muitas mulheres não regressam com os seus bebés para saber os resultados.
Nos Camarões, as mulheres são o principal grupo de risco, sendo o maior número de pessoas a viver com a doença. São também muito mais estigmatizadas do que os homens portadores da doença.
Kasensero: local de origem da SIDA
Quando a primeira epidemia de SIDA global aconteceu na aldeia de Kasensero no Uganda, muitos acreditavam que se tratava de bruxaria. Médicos identificaram a doença como vírus. Hoje, 33% dos habitantes são seropositivos.
Foto: DW/S. Schlindwein
Uma aldeia de pescadores
Kasensero é uma aldeia pequena e pobre situada na margem do Lago Vitória no distrito de Rakai no sul do Uganda na fronteira com a Tanzânia. Em 1982, a aldeia tornou-se famosa a nível mundial. Em apenas alguns dias morreram milhares de pessoas com uma doença desconhecida. O HIV já era conhecido nos EUA, na Tanzânia e no Congo. Mas uma epidemia com esta dimensão nunca tinha acontecido.
Foto: DW/S. Schlindwein
Milhares de pessoas morrem
Kasensero 1982: Thomas Migeero era a primeira vítima. Primeiro perdeu a fome e depois os cabelos. No fim ele só era pele e osso, se lembra o seu irmão Eddie: "Alguma coisa dentro dele comeu-lhe". Durante o funeral, o seu pai não se aproximou do caixão. Todo mundo acreditava numa maldição. Hoje sabemos: morreu de SIDA.
Foto: DW/S. Schlindwein
Uma cidade morta
Quando a doença começou a matar milhares de pessoas, os habitantes começaram a abandonar a cidade. As famílias que podiam partiram e deixaram os seus campos de milho, e os bovinos e caprinos. Até hoje, Kasensero parece uma cidade abandonada e morta. Só os mais pobres ficaram.
Foto: DW/S. Schlindwein
Como o vírus chegou a Kasensero
Presumivelmente o vírus chegou através das rodovias da África Oriental a Kasensero. Condutores de veículos pesados passam a noite nos postos fronteiriços de Kasensero. Muitos procuram prostitutas como esta mulher de 30 anos de vestido rosa, que gostaria não ser reconhecida. Conta que os homens pagam quatro vezes mais para o sexo sem preservativo. Ela não se importa, pois é seropositiva.
Foto: DW/S. Schlindwein
SIDA como normalidade
Joshua Katumba é seropositivo. O pescador de 23 anos nunca visitou uma escola e não sabe ler e escrever. Não tem uma perspetiva para um futuro melhor – como a maioria dos que vivem em Kasensero. Um terço dos habitantes estão infetados com o vírus da SIDA – um dos índices de contaminação pelo HIV mais altos do mundo.
Foto: DW/S. Schlindwein
Medicamentos grátis
Yoweri Museveni, o Presidente do Uganda, foi o primeiro presidente da África, que reconheceu a SIDA como uma doença. A seguir, o Uganda desenvolveu-se como modelo da luta contra a SIDA. Pesquisadores internacionais chegaram a Rakai. Subsídios foram distribuídos. No hospital da região, os doentes com HIV passam horas em fila para buscar os seus medicamentos: são grátis.
Foto: DW/S. Schlindwein
Violência sexual
Há cinco anos, que Judith Nakato é seropositiva. Provavelmente ela foi infetada quando foi estuprada e ficou grávida. Pouco antes do parto, os médicos perceberam que ela tinha o vírus e conseguiram evitar uma transmissão ao bebé. Todos os dias, Judith tem que tomar os seus medicamentos contra a SIDA.
Foto: DW/S. Schlindwein
Anti-retrovirais escassos
Desde que Judith Nakato começou a tomar os seus medicamentos, conseguiu voltar a trabalhar. Os comprimidos, chamados anti-retrovirais ou ARV, evitam que a SIDA se desenvolve totalmente. Os medicamentos são pagos pelo Fundo Global contra a SIDA. Mas Judith Nakato tem que deslocar-se a uma outra cidade a mais de cem quilómetros para receber a sua medicação, pois os medicamentos são escassos.
Foto: DW/S. Schlindwein
Pacientes estão moribundos
Olive Hasal de 50 anos emagreceu a pele e ossos. Ela respira com muito esforço e os olhos parecem cansados. Ela mostra o comprimido que está embrulhado num pano. "Este é o último", diz ela. Hasal já viu morrer o seu marido e as suas duas crianças. Ela sabe que ela também vai morrer se ninguém for buscar os medicamentos na capital do distrito que fica a 140 quilómetros de distância.
Foto: DW/S. Schlindwein
Modelo contra a luta de SIDA?
Uganda foi considerado modelo da luta contra a SIDA: grandes somas de dinheiro foram doadas pela comunidade internacional. No início com sucesso: os casos de infeções diminuíram em cerca de dois terços a partir de 1990. Mas nos últimos dez anos, o número das infeções aumentou novamente.
Foto: DW/S. Schlindwein
Testes clínicos e pesquisas
Desde as primeiras tentativas de terapias em 1996, os habitantes foram usados para estudos de longo prazo. Kasensero é o laboratório das pesquisas globais da SIDA. O resultado da pesquisa mais recente: homens circuncidados reduzem o risco de infeção em 70 %. O Uganda aposta agora na circuncisão masculina para reduzir a propagação do HIV-SIDA.