Camarões: Oito mortos em protestos pela independência
Moki Kindzeka | Reuters | AFP | mjp
2 de outubro de 2017
Forças de segurança dos Camarões reprimiram este fim-de-semana protestos pela independência das regiões anglófonas do país, maioritariamente francófono. Separatistas declararam simbolicamente a independência.
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Os separatistas escolheram este domingo, 1 de outubro, aniversário da criação da República Federal dos Camarões, para proclamar simbolicamente a independência.
Pelo menos oito pessoas morreram e várias ficaram feridas durante a repressão dos protestos pelos soldados camaroneses e pela polícia, que usou gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes.
Segundo a agência de notícias Reuters, Buea e Bamenda, as principais cidades anglófonas do país, estavam praticamente desertas ao final do dia, com a polícia a patrulhar as ruas, detendo qualquer residente que contrariasse as ordens para ficar em casa. Já no sábado, em Kumba, no sudoeste anglófono, as forças de segurança abateram um jovem.
Este domingo, na sua página oficial no Facebook, o Presidente Paul Biya condenou os protestos, afirmando que embora não seja proibido "expressar preocupações na República, nada de bom pode ser alcançado com excessos verbais, violência nas ruas e desafiando as autoridades."
Camarões: Oito mortos em protestos pela independência
Contra a "discriminação"
As manifestações inserem-se num movimento que, desde novembro de 2016, denuncia a discriminação do Governo contra a minoria de língua inglesa - cerca de 20% dos 22 milhões de camaroneses. Os protestos tornaram-se um estandarte da oposição ao Presidente Paul Biya, há 35 anos no poder.
Nas vésperas da proclamação simbólica da independência, cerca de 700 pessoas atacaram estações de polícia e infraestruturas estatais em Ekok, no sudoeste do país. Segundo os manifestantes, preparava-se já a implementação do novo Estado, a Ambazónia.
Tambe Elias, que se apresenta como líder das manifestações em Ekok, garante que os separatistas já não reconhecem o Paul Biya como chefe de Estado: "Ele não é ninguém e nunca significará nada para as pessoas de Ambazónia. Biya tem de partir", disse.
Antecedendo os protestos, o Governo camaronês proibiu reuniões com mais de quatro pessoas, mandou encerrar estações de autocarros, lojas e restaurantes, e proibiu as deslocações entre as diferentes regiões anglófonas. As autoridades ordenaram ainda o encerramento da fronteira com a Nigéria durante o fim-de-semana.
Debn Ignatius, residente de Ekok, critica o comportamento das forças de segurança: "Pediram a retirada da bandeira ambazoniana. Não creio que seja tarefa da polícia".
"Falsas esperanças"
Na capital, Yaoundé, ministros e altos funcionários anglófonos receberam ordens de Paul Biya para convencer a população a não apoiar os separatistas. O secretário de Estado do Ministério das Minas, Fuh Calistus Gentry, promete alertar os camaroneses para o perigo das "falsas esperanças".
"Isto é uma guerra psicológica e as pessoas estão assustadas, porque alguns grupos fizeram as suas mentes reféns e deram falsas esperanças", afirma Gentry. "O Estado vai fazer tudo para assegurar os direitos fundamentais de todos e desintoxicar as mentes das pessoas convencidas por falsa esperança."
Entretanto, na cidade portuária de Douala, milhares de apoiantes do Governo marcharam contra os apelos à independência das regiões anglófonas.
O Presidente Paul Biya já afirmou que não está disponível para quaisquer negociações com os separatistas, sublinhando que o país é uno e indivisível.
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.