Nos Camarões, uma em cada seis adolescentes foi forçada a praticar sexo, segundo o mais recente relatório da UNICEF. A média de abusos também é alta no Uganda, na Guiné Equatorial e na República Democrática do Congo.
Foto: Getty Images/AFP/J. Kannah
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Pelo menos 15 milhões de meninas em todo o mundo foram forçadas a ter relações sexuais. Muitas vezes, os agressores foram parceiros, parentes ou amigos, revela um relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) agora divulgado.
O estudo da UNICEF, que analisou dados de mais de 40 países, também revela casos de abusos sexuais contra meninas menores de idade em países europeus. "Os dados disponíveis indicam claramente que certos países em África são mais afetados. Mas também é verdade que a violência contra meninas e mulheres é uma questão universal", explica a autora do relatório, Claudia Cappa.
"Mesmo em países como Luxemburgo, Espanha, Alemanha e França, muitas mulheres relatam experiências de abuso sexual na infância", refere a investigadora.
Agressores conhecidos
Segundo o relatório, na maioria dos casos de abuso sexual, o agressor era conhecido da vítima, o pode dificultar a denúncia. "São parceiros íntimos, incluindo parceiros de namoro, mas também amigos, colegas de classe, vizinhos. As vítimas conhecem os abusadores e também é por isso que permanecem em silêncio", afirma Claudia Cappa.
Camarões: País com mais casos de violência sexual
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O número de meninas que foram forçadas a ter relações sexuais provavelmente é superior a 15 milhões em todo o mundo, de acordo com a UNICEF. que em muitos países os casos não são relatados pelas vítimas e que muitas não procuram ajuda.
"Em geral, apenas 1% das vítimas procura ajuda profissional. Por isso é muito difícil divulgar essa violência", diz a autora do estudo. "Há vários estigmas associados à violência sexual - particularmente as meninas mais jovens podem sentir-se responsáveis ou culpadas pelo ato. Também podem temer as repercussões da denúncia", explica.
Leis mais duras
Claudia Cappa considera que leis mais eficientes de proteção à criança e um reforço dos serviços sociais são fundamentais para combater a violência sexual contra menores, em especial contra meninas.
"É preciso fortalecer a legislação, garantindo que, quando as vítimas têm a coragem de denunciar o abuso, haverá consequências para os violadores. E é preciso melhorar a qualidade dos serviços. Muitas vezes as vítimas não relatam o abuso porque não confiam neste apoio", defende.
A UNICEF lembra que a violência sexual generalizada contra adolescentes pode prejudicar o progresso global na consecução dos objetivos da ONU por um desenvolvimento sustentável - um plano para acabar com a pobreza, a fome, alcançar a igualdade de género e proteger o planeta até 2030.
Mutilação genital feminina: uma tradição que teima em persistir
A mutilação genital feminina (MGF) persiste em muitos países africanos, apesar de ser proibida oficialmente. Os Pokot, no Quénia, são uma das etnias que continuam a levar a cabo esta prática.
Foto: Reuters/S. Modola
Uma lâmina para todas
Esta lâmina foi usada para mutilar quatro raparigas do Vale do Rift, no Quénia. Para o povo Pokot, o ritual marca a passagem de menina para adulta. Apesar de esta tradição brutal ser proibida por lei, muitas raparigas continuam a ser sujeitas à mutilação genital feminina (MGF), sobretudo em zonas rurais.
Foto: Reuters/S. Modola
Preparativos para a cerimónia
As meninas e mulheres Pokot aquecem-se junto à fogueira às primeiras horas da manhã. Quem não se submete à MGF tem menos hipóteses de casar. A integração das mulheres e a sua sobrevivência económica depende do casamento, principalmente nas áreas rurais. Aquelas que se recusam a participar são renegadas pela sociedade ou até mesmo expulsas.
Foto: Reuters/S. Modola
É impossível dizer "não"
Antes de se proceder ao ritual, as raparigas são despidas e lavadas. Elas sabem de antemão que, tal como as suas mães, vão ter problemas de saúde: quistos, infeções, infertilidade, complicações no parto. A mutilação genital feminina continua a ser praticada em 28 países africanos, na península Arábica e na Ásia. Também há filhas de emigrantes na Europa que são mutiladas.
Foto: Reuters/S. Modola
Espera angustiante
Estas raparigas Pokot esperam pela cerimónia de circuncisão na província de Baringo, no Vale do Rift. O Quénia proibiu a mutilação genital feminina em 2011, 27 por cento das quenianas entre os 15 e os 49 anos foram submetidas a esta prática, segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). Na maioria das vezes não se usa anestesia e o material não é desinfetado.
Foto: Reuters/S. Modola
Ritual mortífero
Cerimónia de circuncisão: Os Pokot esperam que as raparigas sejam corajosas e não gritem. Segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS), 10% das raparigas morre durante esta cerimónia e 25% morre devido a complicações associadas. Na Guiné-Bissau, metade das mulheres entre os 15 e os 49 anos foi submetida a esta prática, segundo a UNICEF. Na Somália, o número ronda os 98%.
Foto: Reuters/S. Modola
Pedra ensanguentada após o ritual
A forma como se faz a excisão varia de etnia para etnia. Os Pokot fecham a abertura vaginal. A OMS distingue três tipos de MGF: no tipo 1, o clítoris é retirado. No tipo 2, retira-se o clítoris e os pequenos lábios. No tipo 3, a infibulação, os grandes lábios também são retirados e a abertura vaginal é fechada.
Foto: Reuters/S. Modola
Tingir o corpo de branco
Tingir o corpo de branco faz parte do ritual dos Pokot. Em muitos países há campanhas de esclarecimento, para alertar para os perigos da mutilação genital feminina. Mas só lentamente as campanhas dão frutos. No Quénia, há desde 2014 uma unidade da polícia que trata de questões relacionadas com a MGF. Há também uma linha SOS que recebe denúncias.
Foto: Reuters/S. Modola
Trauma para a vida
Após a cerimónia, as raparigas são cobertas com peles de animais e recolhidas para um local onde podem descansar. Na ótica dos Pokot, elas estão prontas para casar e podem receber um dote maior. Alguns povos acreditam que as mulheres submetidas à MGF são mais férteis e fiéis ao seu marido. Quando se faz uma excisão não há volta atrás. Não é possível reverter a mutilação com operações plásticas.
Foto: Reuters/S. Modola
De mãe para filha?
Esta rapariga nunca mais vai esquecer a mutilação. Em alguns países, a excisão é realizada em bebés. Sendo uma prática ilegal, um bebé a chorar dá menos nas vistas do que uma rapariga a sofrer de dores o tempo inteiro.