Camarões: Separatistas matam jornalista por engano
12 de maio de 2023Segundo o líder do grupo separatista, Capo Daniel, o ataque ao jornalista foi um erro de identidade. O alvo do ataque era um comandante do exército "que frequentava o bar", esclareceu.
No entanto, para Njie Ignatius, presidente do Sindicato dos Jornalistas dos Camarões, em Bamenda, esta explicação é desprezível. "Não se pode andar a matar pessoas e depois vir dizer que foi um erro de identidade", criticou.
Anye Nde Nsoh, que trabalhava no jornal The Advocate, é o terceiro jornalista morto nos Camarões desde o início do ano. Em janeiro, Martinez Zogo foi torturado e assassinado e em fevereiro, Jean-Jacques Ola Bebe também foi morto a tiro.
Estes casos assustam a classe jornalística na região de Bamenda, lamenta Raymond, um repórter local. "Agora tornámo-nos alvos e depois da morte de Nsoh não sabemos quem será o próximo", diz.
"Os separatistas têm armas e as nossas armas são as canetas e os microfones. As ameaças significam que vamos operar na clandestinidade e não livremente", lamenta o jornalista.
"Reino de terror"
Njie Ignatius classifica de "reino de terror" o ambiente que os separatistas impõem às comunidades locais de língua inglesa: "Não é normal. O seu modus operandi não é saudável."
O risco para os jornalistas camaroneses não vem apenas dos separatistas, mas também do lado das autoridades governamentais, diz o Comité para a Proteção dos Jornalistas (CPJ).
Angela Quintal, coordenadora do programa para África do CPJ, lança um apelo para que "ambas as partes respeitem os direitos dos jornalistas de informar livremente e garantam a sua segurança."
Protesto e ameaças
Os jornalistas ameaçam realizar uma manifestação de repúdio contra os constantes ataques. Mas o líder dos separatistas da região anglófona camaronesa já ameaçou prender quem se manifestar e exigirá cerca 3 mil euros como caução para a sua libertação.
Esta ameaça aumenta ainda mais a vulnerabilidade dos jornalistas, descreve Raymond. "Não se surpreendam se souberem que um jornalista foi raptado para pedir um resgate", afirma.
As regiões noroeste e sudoeste dos Camarões, onde se fala principalmente inglês, têm sido dominadas por conflitos desde que os separatistas declararam a independência em 2017, após décadas de queixas sobre a discriminação sentida pela maioria francófona.
O Presidente Paul Biya, que governa a nação centro-africana com mão de ferro há 40 anos, resistiu aos apelos a uma autonomia mais alargada e respondeu em forma de repressão.