Camarões terá eleições legislativas e municipais em 2020
Lusa | AFP | kg
10 de novembro de 2019
Depois de adiar a realização de eleições duas vezes, o Presidente camaronês, Paul Biya, agendou os pleitos legislativos e municipais para 9 de fevereiro de 2020.
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As eleições legislativas e municipais nos Camarões, que foram adiadas duas vezes desde 2018, vão decorrer em 9 de fevereiro de 2020, anunciou a Presidência da República num decreto publicado este domingo (10.11).
As anteriores eleições legislativas realizaram-se em 2013 para um mandato de cinco anos, mas o Presidente camaronês, Paul Biya, reeleito em 2018, adiou a realização de eleições por duas vezes.
Em 11 de setembro, Paul Biya anunciou que pretendia "convocar um grande diálogo nacional" no final do mês para tentar acabar com o conflito entre grupos separatistas e as forças de segurança.
Poucos dias depois, a Frente Social Democrata, que lidera a oposição camaronesa, exigiu uma "amnistia geral" dos detidos associados à crise separatista do oeste anglófono, além de "um cessar-fogo" como condição para participar no "grande diálogo nacional" proposto pelo Presidente.
De acordo com os dados da organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch, os conflitos entre os grupos separatistas e as autoridades já provocaram mais de dois mil mortos desde 2017 e forçaram mais de 530 mil pessoas a deixar as suas casas.
No poder há 37 anos
Na quarta-feira passada (06.11), o Presidente camaronês completou 37 anos no poder com comemorações em todo o país. Paul Biya, de 86 anos, cumpre um mandato de sete anos, que só termina em 2025.
Em 2008, o chefe de Estado dos Camarões eliminou o limite de mandatos da Constituição, o que lhe permite permanecer no poder indefinidamente.
Camaroneses questionam o estado de saúde e a capacidade do Presidente de idade avançada de governar o país. Paul Biya delega cada vez mais tarefas ao secretário-geral da presidência, Ferdinand Ngo Ngo.
Paul Biya é o segundo Presidente há mais tempo no poder em África, depois de Teodoro Obiang, que governa a Guiné Equatorial desde 1979.
Presidentes africanos para sempre
Vários presidentes africanos governam há tanto tempo, que muitos cidadãos não conhecem outro líder do seu país. Teodoro Obiang Nguema é o líder africano há mais tempo no poder: governa a Guiné Equatorial desde 1979.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Alamba
Guiné Equatorial: Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo é atualmente o líder africano há mais tempo no poder, depois de, em 2017, José Eduardo dos Santos ter deixado o cargo de Presidente de Angola, que ocupava também desde 1979. Neste ano, Obiang chegou ao poder através de um golpe de estado contra o seu tio, Francisco Macías. Nas últimas eleições no país, em 2016, Obiang afirmou que não voltaria a concorrer em 2020.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Lecocq
Camarões: Paul Biya
Com o seu nascimento no ano de 1933, Paul Biya é o Presidente mais idoso do continente africano e apenas ultrapassado em anos no poder pelo líder da vizinha Guiné Equatorial. Biya chegou ao poder em 1982. Em 2008, uma revisão à Constituição retirou os limites aos mandatos. Em 2018, Biya, foi declarado vencedor das eleições. Os Camarões atravessam uma crise com a rebelião na parte anglófona.
Foto: picture-alliance/AA/J.-P. Kepseu
Uganda: Yoweri Museveni
Com mais de 30 anos no poder, Yoweri Museveni é, para uma grande parte dos ugandeses, o único Presidente que conhecem. 75% dos atuais 35 milhões de habitantes nasceram depois de Museveni ter subido ao poder em 1986. Em 2017, foi aprovada a lei que retira o limite de idade (75 anos) para concorrer à Presidência. Assim sendo, Museveni já pode concorrer ao sexto mandado, nas eleições de 2021.
Foto: picture alliance/AP Photo/B. Chol
República do Congo: Denis Sassou Nguesso
Foi também uma alteração à Constituição que permitiu que Denis Sassou Nguesso voltasse a candidatar-se e a vencer as eleições em 2016 na República do Congo (Brazzaville). Já são mais de 30 anos à frente do país, com uma pequena interrupção entre 1992 e 1997. Denis Sassou Nguesso nasceu no ano de 1943.
Foto: picture-alliance/AA/A. Landoulsi
Ruanda: Paul Kagame
Paul Kagame lidera o Ruanda desde 2000. Antes, já teve outros cargos influentes e foi líder da Frente Patrifótica Ruandesa (FPR), a força que venceu a guerra civil no Ruanda. Em 2017, Kagame ganhou as eleições com 98,8% dos votos. Assim poderá continuar no poder até, pelo menos, 2034. Assim ditou a consulta popular realizada em 2015 que acabou com o limite de dois mandatos presidenciais.
Foto: Imago/Zumapress/M. Brochstein
Burundi: Pierre Nkurunziza
Em 2005, Pierre Nkurunziza chegou ao poder no Burundi. Em 2015, o terceiro mandato de Nkurunziza gerou uma onda de protestos entre a população que, de acordo com o Tribunal Penal Internacional, terá causado cerca de 1.200 mortos e 400.000 refugiados. Em maio de 2018, teve lugar um referendo para alterar a Constituição, que permitiu ao Presidente continuar no cargo até 2034.
Foto: Reuters/E. Ngendakumana
Gabão: Ali Bongo Ondimba
Ali Bongo ainda está longe de quebrar o recorde do pai, que esteve 41 anos no poder, mas já vai no terceiro mandato, ganho em 2017, no meio de muita contestação. Em 2018, a Constituição do Gabão foi revista para acabar com o limite de mandatos. A nova versão da Constituição também aumentou os poderes do Presidente para tomar decisões unilateralmente.
Foto: Reuters/Reuters TV
Togo: Faure Gnassingbé
Em 2005, Faure Gnassingbé substituiu o pai, que liderou o país durante 38 anos. Ao contrário de outros países, o Togo não impunha um limite aos mandatos. Em 2017, após protestos da população contra a "dinastia" Gnassingbé, foi aprovada a lei que impõe um limite de mandatos. No entanto, a lei não tem efeitos retroativos, pelo que o ainda Presidente poderá disputar as próximas eleições, em 2020.
Foto: DW/N. Tadegnon
Argélia: Abdelaziz Bouteflika
Abdelaziz Bouteflika esteve 20 anos no poder na Argélia (1999-2019). Em 2013, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), mas nem a idade, nem o estado de saúde travaram o Presidente de anunciar que iria procurar um quinto mandato em 2019. Em abril de 2019, face a protestos públicos, anunciou a sua renúncia ao cargo. Nesta altura, já teve 82 anos de idade.