Na província moçambicana da Zambézia, centenas de crianças correm risco de não ir à escola, porque os pais não as matricularam. As autoridades estão preocupadas e começaram uma campanha de sensibilização porta a porta.
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151 mil crianças poderão não ir à escola este ano letivo que começa no próximo dia 20 de janeiro, porque os pais não as matricularam na primeira classe. As autoridades, preocupadas com este número elevado lançaram uma campanha de sensibilização porta a porta. Mas os professores temem que isso não seja suficiente.
Manuel Henriques trabalha no campo, de manhã à noite. E não tem tido tempo para ir matricular um dos seus três filhos na primeira classe.
"Vou à machamba e volto tarde e cansado, por isso tenho tido pouco tempo para fazer a matrícula", disse à reportagem da DW África.
Prazo terminou em dezembro
Entretanto, o prazo para fazer as matrículas terminou a 30 de dezembro. A província central da Zambézia esperava para este ano 376 mil novos ingressos na primeira classe. Mas só houve 225 mil matrículas. Mais de um terço das crianças ficou por matricular, em relação ao que estava previsto.
O diretor provincial de Educação na Zambézia, Armindo Primeiro, diz que Derre, Mulumbo, Milange e Gilé foram os distritos com menos matrículas na primeira classe. "Para nós, isso é uma preocupação. Estamos à espera de orientações centrais sobre os passos a seguir."
12.01.17 Matrículas Zambézia - MP3-Mono
Armindo Primeiro acrescentou que está a decorrer uma campanha porta a porta em toda a província para sensibilizar os pais a matricularem os filhos na escola. Até porque esta não é a primeira vez que há números tão baixos.
"No ano passado, também tivemos o mesmo problema, que culminou com a prorrogação do processo… Estamos muito mais preocupados, porque são muitos os alunos da primeira classe que ainda têm de se matricular. As brigadas estão no terreno para sensibilizar os pais".
Dúvidas sobre resultados da campanha
Mas os professores abordados pela DW África duvidam que a campanha de sensibilização tenha sucesso. A professora Gina Azevedo diz que, apesar dos esforços das autoridades, muitos pais mesmo que vivem próximo das escolas acabam por não matricular os filhos. "Penso que é mesmo pela preguiça dos pais, mesmo passando a mensagem das matrículas, eles não aderem."
Outro professor, do distrito de Derre, que pediu para não ser identificado, apela ao Governo que se adapte à disponibilidade das populações. Ele diz que os encarregados de educação que vivem em zonas rurais costumam pedir para matricular as crianças só quando as aulas começam.
"Como professor, peço ao Governo para diferenciar o tratamento dos pais e encarregados das zonas urbanas e rurais, porque aqui no campo essa gente precisa de um outro tratamento. Eles aceitam matricular os seus filhos quando as aulas iniciam. Estamos envolvidos na campanha para sensibilizar os pais, mas nenhum pai quer saber. Eles esperam quando as aulas começam e na fase de distribuição dos livros escolares", concluiu.
O Hotel Chuabo de Quelimane: uma surpresa
Na cidade de Quelimane, na província central da Zambézia, o Hotel Chuabo é uma referência histórica. Desenhado por arquitetos portugueses, o edifício de betão preserva um design único dos anos sessenta.
Foto: Gerald Henzinger
Fachada do Hotel Chuabo
No centro da cidade de Quelimane, em Moçambique, há poucos edifícios com mais de dois andares. Um deles é o Hotel Chuabo. A construção do edifício, um projeto da empresa portuguesa Monteiro&Giro, iniciou-se em 1954 e a inauguração teve lugar em 1966. Se a fachada de betão é pouco apelativa, no interior o visitante é surpreendido com o design único dos anos sessenta.
Foto: Gerald Henzinger
Um restaurante para todos
O interior de madeira escura é o original, o usado na época da construção. No piso superior do Hotel Chuabo situa-se o restaurante "Grill". Hoje, independentemente da cor da pele ou da origem, todos são ali servidos. Mas nem sempre foi assim. Durante a época colonial apenas o brancos ou os "assimilados" (negros considerados "equivalentes" aos europeus) podiam frequentar o "Grill".
Foto: Gerald Henzinger
Olímpio, o empregado leal
Manteve-se fiel ao Hotel Chuabo desde a inauguração. Olímpio já serviu políticos e personalidades africanas e internacionais com elevados cargos. Kenneth Kaunda da Zâmbia, Robert Mugabe do Zimbabué ou a rainha de Inglaterra foram alguns dos ilustres que serviu. "Não deves ter medo!", diz Olímpio.
Foto: Gerald Henzinger
Discoteca Malagangatana
Ao lado do restaurante "Grill" fica a discoteca Malangatana. Há muito que aqui não passa música, mas as paredes continuam a ostentar obras de pintores moçambicanos. O Hotel Chuabo foi desenhado pelos arquitectos portugueses Arménio Losa (1908-1988) e Cassiano Barbosa (1911-1998). E tem a curiosidade de ser o único edifício em Moçambique, da época, a ter persianas.
Foto: Gerald Henzinger
Escada em caracol
Do restaurante "Grill" parte uma escada em caracol que desce ao longo de vários andares. Também ela espelha o espírito dos anos 60. Quem não conseguir descer escadas pode apanhar o elevador, supostamente o único que funciona em toda a província da Zambézia.
Foto: Gerald Henzinger
Um quarto com charme
Depois da independência, em 1975, os 160 quartos do Hotel foram ocupados por militares e funcionários políticos da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique). Até 2005, o Hotel Chuabo foi gerido pela portuguesa Dona Amália. A sua gestão era feita com "mão de ferro".
Foto: Gerald Henzinger
Dormir aqui sai caro
Atualmente, o Hotel Chuabo é gerido pelo Instituto Superior Politécnico e Universitário (ISPU) e serve para a formação de estudantes de turismo. O hotel não é barato. Quem quiser passar a noite nele terá de desembolsar 2500 Meticais (85 Euros).
Foto: Gerald Henzinger
Ar condicionado é só decoração
Nem tudo o que parece é e nem todos os interruptores funcionam no Hotel Chuabo. Quem rode o botão "Temperature Control" esperará em vão que o ar condicionado se ligue. O velho ar condicionado foi há algum tempo substituído por um novo.
Foto: Gerald Henzinger
Lavandaria do Hotel
A lavandaria do Hotel Chuabo situa-se no segundo andar. Dez empregados encarregam-se da limpeza da roupa de cama, toalhas e uniformes. A maioria das máquinas de lavar ainda é dos anos sessenta e precisam de ser travadas manualmente. Mas já existem também duas máquinas novas e a compra de outras está planeada.
Foto: Gerald Henzinger
Cozinhar é preciso
Na cozinha do restaurante "Grill" trabalham quatro cozinheiros. Recebem mensalmente 3500 meticais (120 euros). Valor que é cerca de um terço acima do ordenado mínimo moçambicano. O prato mais famoso do restaurante é o "Frango à Zambéziana" (frango assado no churrrasco coberto com leite de coco).
Foto: Gerald Henzinger
Os anos parecem não passar pelo candeeiro
Quando perguntam ao senhor Olímpio porque é que o Hotel Chuabo está em tão bom estado de conservação, a resposta sai pronta: "aprendemos com os portugueses a ter cuidado com as coisas".
Foto: Gerald Henzinger
Coco Bar
No piso térreo situa-se o "Coco Bar" com capacidade para mais de duzentas pessoas. O ambiente é semelhante ao do restante Hotel.