Campanha de solidariedade em Angola a favor de jovens manifestantes
25 de setembro de 2013 Graças a um empréstimo à associação “Mãos Livres”, os sete jovens manifestantes libertados sob caução na última segunda-feira (23.09), não voltaram nesta quarta-feira (25.09) à cadeia na capital angolana.
Desta forma, a decisão do tribunal foi travada no último minuto. O tribunal fixou o total da caução em um milhão e 400 mil kwanzas (14 mil dólares) para os sete jovens que havia libertado sob termo de identidade e residência. Com as custas judiciais, o valor total ascendeu a um milhão e 520 mil kwanzas (15 mil e 400 dólares).
"Se não se pagasse esse valor, os jovens voltariam de imediato para a cadeia até à instauração de um novo processo e não sei qual seria o desfecho", explicou à DW o advogado Salvador Freire. No cartório do tribunal, em Luanda, o advogado afirmou que "a acusação movida não é plausível para levar os jovens à cadeia, mas o tribunal assim o entendeu".
Do MPLA à oposição: todos doam
A onda de solidariedade ultrapassa as expetativas da organização, constituída pela associação de advogados sem fins lucrativos “Mãos Livres” e a plataforma multimédia pela transparência e anti- corrupção “Maka Angola”, do jornalista Rafael Marques.
Agentes da polícia nacional das mais variadas especialidades, elementos das forças armadas angolanas, militantes do MPLA e da oposição, advogados e pessoas singulares estão a depositar dinheiro na conta disponibilizada num dos bancos comerciais de Luanda.
"É uma adesão bastante grande de cidadãos interessados nesta solidariedade", disse Salvador Freire, adiantando que, entre eles, estão "alguns elementos ligados ao partido no poder e à oposição", bem como "a sociedade civil, estudantes e pessoas ligadas à igreja".
O advogado acredita que, depois de mais esta jornada pela liberdade individual e coletiva e, por outro lado, pela liberdade de manifestação, mais um passo foi dado para uma sociedade mais justa. Salvador Freire espera que, desta forma, se possa "ver uma sociedade mais livre, com a contribuição de todos, sobretudo destes jovens manifestantes que nada fizeram". "Acreditamos que a liberdade lhes fará muito bem, não só a eles mas a nós, angolanos, que ansiamos por esta liberdade e pela justiça que tem de ser feita", conclui o advogado.
Apesar do sinal positivo, continuam ameaças
No entanto, em Luanda, muitos dos jovens pertencentes ao Movimento Revolucionário continuam remetidos ao silêncio. Nos últimos dois dias circularam informações de rusgas direcionadas às casas de alguns deles, principalmente no Cazenga e Sambizanga.
A DW apurou que alguns deles mudaram de residência e outros optaram por não circular sozinhos ou de noite. O clima de brutalidade policial é descrito pelo jovem Anacleto Pambassangue, que testemunhou a detenção de três jornalistas e sete manifestantes: "Eles já não querem saber da presença dos jornalistas. vi-os a maltratarem várias pessoas, a levarem-nas no carro. Este é um mau trabalho que a polícia está a fazer, quando deveria manter a ordem, simplesmente, e controlar o trabalho dos jovens".
Recorde-se que uma iniciativa idêntica foi efetuada no ano passado a favor de Wiiliam Tonet, diretor do jornal Folha 8, na altura condenado a pagar uma indemnização de 100 mil dólares a três generais alegadamente difamados e caluniados no diário. A sociedade respondeu e o valor doado chegou a mais de 70 mil dólares, numa operação gerida pela Associação Justiça Paz e Democracia.