O Campeonato Africano das Nações (CAN) terminou este domingo (05.02) e o líder da oposição do Gabão questiona o investimento feito. Jean Ping continua a não reconhecer o resultado das últimas eleições presidenciais.
Foto: Getty Images/AFP/G. Bouys
Publicidade
Foi o Campeonato Africano das Nações um sucesso para o Gabão? Jean Ping prefere não fazer comentários sobre o evento. Esse foi o entendimento a que chegou com os colegas, porque, devido à situação interna do país, argumenta, o que fosse dito poderia vir a ser mal interpretado.
No entanto, em entrevista à DW, Jean Ping, questiona o investimento feito no evento: "Enquanto estamos a enfrentar grandes dificuldades no nosso país, enquanto temos problemas financeiros, salários que não são pagos, escolas que não são construídas, não há nada em escolas e hospitais, como podemos gastar tal quantia de dinheiro apenas com a construção de estádios?”
Para quem defendia a realização do CAN pelo Gabão, Ping diz que a resposta foi dada com os "estádio vazios”.
"Todos sabem que ganhei”
Jean Ping, líder da oposição do GabãoFoto: Getty Images/AFP/K. Tribouillard
A oposição chegou a argumentar que, dada a instabilidade política no país, este não era o momento adequado para receber o CAN. As eleições presidenciais de agosto do ano passado não estão ultrapassadas. Ali Bongo renovou o mandato com pouco mais de 50% dos votos. Mas o líder da oposição do Gabão continua sem aceitar os resultados.
"Ganhámos as eleições. Todos sabem que eu ganhei. Ganhei com 60%. A comunidade internacional sabe disso. Aqueles que fizeram batota sabem. Todos sabem que eu ganhei as eleições. E devido a um processo de manipulação do que aconteceu, mudaram os resultados. Como de costume”, alega Jean Ping.
Diálogo apenas com reconhecimento de vitória
Ali Bongo na tomada de posse como Presidente do GabãoFoto: picture-alliance/AP Photo/J. Mba
O líder da oposição no Gabão até admite poder sentar-se à mesa com o Governo para dialogar, mas, diz Jean Ping, primeiro a sua vitória tem de ser reconhecida.
"Primeiro, eles recusam-se a reconhecer os resultados das eleições. Em segundo, estão a matar pessoas, a prender pessoas, a ameaçá-las. Como chamar pessoas para um diálogo quando estão a matar e a prender pessoas que chamam para o diálogo. Pensa que é um diálogo? Com uma arma apontada à sua cabeça? Não é um diálogo”.
CAN: Jean Ping questiona investimento realizado
This browser does not support the audio element.
Jean Ping discorda de um aparente desinteresse dos jovens na política. O também ex-presidente da comissão da União Africana diz que a população do Gabão lhe pede "instruções”.
"Quando me vêm um pouco silencioso, pensam que talvez esteja comprometido. E dizem-me: ‘se estiver comprometido, queimamos-lhe a casa. Não queremos qualquer compromisso'. É suficientemente claro”, acrescenta.
Famílias influentes em África
Para muitos, a política continua a ser um negócio de família: o filho recebe a Presidência de herança, a filha dirige a empresa estatal, a esposa torna-se ministra. Há vários exemplos.
Foto: picture-alliance/dpa
Filha milionária
Isabel dos Santos, a filha mais velha do Presidente angolano, é uma das dez pessoas mais ricas de África. Do império da empresária constam a maior empresa de telecomunicações do país e uma cadeia de hipermercados. Além disso, dos Santos lidera a petrolífera angolana Sonangol. O irmão José Filomeno dirige o Fundo Soberano de Angola, que gere mais de cinco mil milhões de dólares.
Foto: picture-alliance/dpa
O meu pai decide…
Teodoro Nguema Obiang Mangue é vice-Presidente da Guiné Equatorial – e o filho do chefe de Estado. O pai, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, dirige o país desde 1979. O seu enteado, Gabriel Mbaga Obiang, é ministro das Minas e Hidrocarbonetos. A petrolífera estatal GEPetrol é controlada pelo cunhado do Presidente, Nsue Okomo.
Foto: Picture-alliance/AP Photo/F. Franklin II
O meu filho, o guarda-costas
Muhoozi Kainerugaba é o filho mais velho do Presidente do Uganda, Yoweri Museveni, que está desde 1986 no poder. Ele é um oficial superior no Exército ugandês e comanda a unidade especial responsável pela proteção do chefe de Estado. A mulher de Museveni, Janet, é ministra da Educação e do Desporto. O cunhado, Sam Kutesa, é ministro dos Negócios Estrangeiros.
Foto: DW/E. Lubega
Uma irmã gémea influente
Jaynet Désirée Kabila Kyungu é filha do ex-Presidente congolês, Laurent Kabila. Agora, é o seu irmão gémeo, Joseph Kabila, que governa o país. Jaynet está no Parlamento; além disso, tem uma empresa de comunicação. Os "Panama Papers" revelaram que ela foi co-presidente de uma empresa offshore que terá tido participações no maior operador móvel no Congo.
Foto: Getty Images/AFP/J. D. Kannah
De secretária a primeira-dama
Grace Mugabe é a segunda mulher do Presidente zimbabueano, Robert Mugabe. Começaram a namorar enquanto ela ainda era a sua secretária. Entretanto, Grace é presidente da "Liga das Mulheres" do partido no poder e tem bastante influência. Grace, de 51 anos, é vista como a sucessora do marido, de 92 anos, embora ela tenha afastado essa hipótese.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi
A ex-mulher ambiciosa
Nkosazana Dlamini-Zuma foi a primeira mulher eleita como presidente da Comissão da União Africana. Antes, foi ministra dos Negócios Estrangeiros no Governo do Presidente sul-africano Thabo Mbeki. Foi também ministra do Interior no Executivo do ex-marido, Jacob Zuma. O casamento desfez-se antes de Dlamini-Zuma ocupar esses cargos ministeriais.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Prinsloo
A empresa familiar, o Estado
Nas mãos da família do Presidente da República do Congo, Denis Sassou Nguesso, estão numerosas empresas estratégicas e altos cargos na política. O irmão Maurice é dono de várias empresas, a filha Claudia (na foto) dirige o gabinete de comunicação do pai e pensa-se que o filho Denis Christel esteja já a ser preparado para assumir a Presidência.
Foto: Getty Images/AFP/G. Gervais
Autorizado: Presidente Bongo II
O autocrata Omar Bongo Ondimba governou o Gabão durante 41 anos até falecer, em 2009. Numas eleições polémicas, em que bastou uma maioria simples na primeira volta, o filho do ex-Presidente, Ali Bongo, derrotou 17 opositores. Ele foi reeleito em 2016. A família Bongo já governa o país há meio século.
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Tal pai, tal filho
Dos cerca de 50 filhos do ex-Presidente do Togo Gnassingbé Eyadéma, Faure Gnassingbé foi o único a enveredar pela política. Entretanto, governa o país. Os pais dos atuais chefes de Estado do Quénia e do Botswana também já tinham estado na Presidência.