Canais portugueses SIC fora da grelha da angolana ZAP
14 de março de 2017Desde esta segunda-feira (13.03) que a operadora angolana de telecomunicações ZAP deixou de contar na sua grelha de programação com os canais portugueses de televisão SIC Notícias e SIC Internacional. Nenhuma informação oficial foi prestada aos consumidores pela operadora, detida a 100% por Isabel dos Santos, presidente da petrolífera estatal angolana Sonangol e filha do atual presidente José Eduardo dos Santos.
Para muitos a decisão de banir os dois canais portugueses da operadora ZAP está relacionada com as constantes reportagens e conteúdos noticiosos sobre Angola. Trabalhos que expõe a corrupção e as sistemáticas violações dos direitos políticos e cívicos por parte do regime de Luanda.
Na mais recente reportagem intitulada "Assalto ao Castelo” altas figuras angolanas, como o vice-presidente Manuel Vicente e o general "Kopelipa", são referenciadas de terem desviado milhões de dólares do Banco Espírito Santo Angola, a filial do Banco Espírito Santo português.
Surpresa e indignação
Francisco Vapor, taxista em Benguela, diz à DW África não ter ficado surpreso com tal atitude, uma vez que, nas suas palavras, em Angola vigora um regime comunista que tenta a qualquer custo impedir aos seus cidadãos o acesso a informação real sobre o país.
"Eles estão a ver o perigo que as informações que vem da própria ZAP e através da SIC Notícias daquilo que se passa. Os dirigentes estão envolvidos no roubo exorbitante do erário público e, para a população não ter acesso a essa informação, optaram por esta estratégia de retirar a SIC Notícias”, afirma Vapor, acrescentando que "os comunistas foram sempre assim”.
Maria Augusto, professora e antiga jornalista, mostra-se indignada com a situação. "As notícias fazem bem. E todos nós precisamos de nos informar”, afirma. Maria Augusto, um dos milhares de consumidoras da ZAP, nota que muitos preferem "canais que trazem uma mínima verdade sobre várias questões”.
"Agora se a filha do presidente José Eduardo dos Santos acha que por estes motivos retira esse tipo de serviços para os consumidores, está mal. Ela não pode seguir os passos do pai. Ela não pode optar pela política de dividir para melhor reinar”, acrescenta a antiga jornalista.
Opção condenada
Para Maria Augusto, a postura da operadora da filha do Presidente de Angola é também uma demonstração de um regime autoritário, cujas leis foram escritas a lápis.
"Registamos que muitas questões ligadas às liberdades de Angola não existem. Se de fato essas liberdades fossem respeitadas, uma mínima manifestação que chega aos ouvidos dos dirigentes, do Executivo, dá motivo para tirar os cães à rua e fazerem do homem como se fosse uma carne que saí do talho para aqueles cães comerem? A Carta Constitucional está ali. Mas eu quero repetir frases de muitos angolanos que dizem que "está escrito a lápis”: quando bem se entende vai-se para lá e se apaga e se opta por aquilo que agrada a quem de direito”
Contactada por correio eletrónico, a operadora ZAP optou pelo silêncio.
A "censura” do canal português da grelha de programação da operadora da filha do presidente angolano não é um caso isolado. Há anos que jornalistas da SIC, do Expresso, da revista Visão, do jornal Público e da Rádio Renascença, todos eles portugueses, são impedidos de entrar em Angola pelo regime de Luanda.
Várias organizações internacionais colocam Angola no topo dos piores países do mundo onde a liberdade de imprensa é constantemente ameaçada e limitada.