Procuradoria de Maputo notificou Venâncio Mondlane por alegado crime de injúria e difamação. O cabeça de lista da RENAMO na capital moçambicana diz que querem "denegrir a sua imagem", porque a sua candidatura incomoda.
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O cabeça de lista da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o maior partido da oposição moçambicana, diz que está tranquilo sobre o processo que foi movido contra si. O político foi notificado na passada quinta-feira (02.08), nos termos do artigo 251 do Código do Processo Penal, pela Procuradoria da Cidade de Maputo, que acusa Venâncio Mondlane de injúria e difamação contra uma pessoa não identificada.
O antigo deputado do Movimento para a Mudança Democrática (MDM), terceira força política do país, presume que o caso tenha a ver com a denúncia que fez, no ano passado, sobre a venda de um campo de futebol, nos subúrbios de Maputo, entretanto devolvido.
"Há uma denúncia em setembro de 2017, que tem um abaixo-assinado de cinco bairros, que solicita a responsabilização criminal e disciplinar daqueles que venderam o campo por três milhões de dólares", explica. Também se exigia a reposição das condições originais do campo, mas "a Procuradoria não respondeu a essa ação movida por cinco bairros", sublinha.
Mondlane: "A minha candidatura preocupa algumas pessoas"
"Tem que ver com o campo de futebol da Codal e nas minhas intervenções citei o nome de três pessoas. O mais provável é que tenha a ver com isto", deduz Mondlane, que é conhecido nos centros urbanos de Moçambique pela sua retórica.
O candidato da RENAMO diz que, se for esse o caso, fica "satisfeito" porque é uma grande oportunidade "para que aquilo que queria que fosse esclarecido seja finalmente esclarecido e venha a público".
Venâncio Mondlane disse ainda que depois de denunciar a venda ilegal do referido campo de futebol, a Procuradoria devia antes tentar perceber os contornos daquele negócio. "Quem vai prestar serviço à ordem e segurança devia ser acarinhado, protegido a acalentado pelo Estado, mas é perseguido e preso pelo Estado", lamenta.
Candidatura "preocupa algumas pessoas"
O cabeça de lista acredita que o que está acontecer terá sido motivado pela sua candidatura ao município de Maputo, nas eleições autárquicas de 10 de outubro. "Para se usar um instrumento de Estado de grande importância para a estabilidade de uma nação, para se usar isso contra mim, só posso deduzir que, de facto, a minha candidatura deve estar a preocupar algumas pessoas", conclui.
Para o analista político Tomás Vieira Mário, esta acusação contra Venâncio Mondlane não deve preocupar nem o Estado nem os políticos. "Não deve ser factor de alarme. São indivíduos que ele terá difamado, que teria ofendido o seu bom nome, a sua reputação. Portanto, no plano individual são processos muitos fáceis", afirma.
Tomás Vieira Mário considera que este crime de difamação não irá manchar a imagem do cabeça de lista da RENAMO: "Correm os trâmites normalmente, não acho que seja um caso que pode ir por aí além, porque nem se sabe em que consiste essa difamação".
Moçambique: Assassinato de figuras incómodas é uma moda que veio para ficar
O preço de fazer valer a verdade, justiça, conhecimento ou até posições diferentes costuma ser a vida em Moçambique. A RENAMO é prova disso, no pico da tensão com o Governo da FRELIMO perdeu dezenas de membros.
Foto: BilderBox
Mahamudo Amurane: Silenciada uma voz contra corrupção e má governação
O edil da cidade de Nampula foi morto a tiros no dia 4 de outubro de 2017. Insurgia-se contra a má gestão da coisa pública e corrupção no seu Município. Foi eleito para o cargo de edil através do partido MDM. Embora mais de sessenta pessoas já estejam a ser ouvidas pela justiça não se conhecem os autores do crime.
Foto: DW/Nelson Carvalho Miguel
Jeremias Pondeca: Uma voz forte nas negociações de paz que foi emudecida
Foi alvejado mortalmente a tiro por homens desconhecidos no dia 8 de setembro de 2016 em Maputo quando fazia os seus exercícios matinais. O assassinato aconteceu numa altura delicada das negociações de paz. Pondeca era membro da Comissão Mista do diálogo de paz, membro do Conselho de Estado, membro sénior da RENAMO e antigo parlamentar. Até hoje a polícia não encontrou os autores do crime.
Foto: DW/L. Matias
Manuel Bissopo: O homem da RENAMO que escapou por um triz
No dia 4 de janeiro de 2016 foi baleado depois de uma conferência de imprensa do seu partido na Beira. Bissopo tinha acabado de denunciar alegados raptos e assassinatos de membros do seu partido e preparava-se para se deslocar para uma reunião da força de oposição quando foi baleado. A polícia moçambicana até hoje não encontrou os atiradores.
Foto: Nelson Carvalho
José Manuel: Uma das caras da ala militar da RENAMO que se apagou
Em abril de 2016 este membro do Conselho Nacional de Defesa e Segurança em representação da RENAMO e membro da ala militar do principal partido da oposição foi morto a tiro por desconhecidos à saída do aeroporto internacional da Beira. A questão militar é um dos pontos sensíveis nas negociações de paz. Os assassinos continuam a monte.
Foto: DW/J. Beck
Marcelino Vilanculos: Assassinado quando investigava raptos
Era procurador foi baleado no dia 11 de abril de 2016 à entrada da sua casa, na Matola. Marcelino Vilanculos investigava casos de rapto de empresários que agitavam o país na altura. O julgamento deste assassinato começou em outubro de 2017.
Foto: picture-alliance/Ulrich Baumgarten
Gilles Cistac: A morte foi preço pelo conhecimento divulgado?
O especialista em assuntos constitucionais de Moçambique foi baleado por desconhecidos no dia 3 de março de 2015 na capital Maputo. O assassinato aconteceu após uma declaração que fortaleceu a posição da RENAMO de gestão autónoma na sua querela com o Governo da FRELIMO. Volvidos mais de dois anos a sua morte continua por esclarecer.
Foto: A Verdade
Dinis Silica: Assassinado em circunstâncias estranhas
O juiz Dinis Silica também foi morto a tiro por desconhecidos, em 2014, em plena luz do dia, quando conduzia o seu carro na capital moçambicana. Na altura transportava uma avultada quantia de dinheiro, cuja proveniência é desconhecida. O juiz da Secção Criminal do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo investigava igualmente casos de raptos. Os assassinos continuam a monte.
Foto: picture-alliance/dpa/U. Deck
Siba Siba Macuacua: Uma morte brutal em nome da verdade
O economista do Banco de Moçambique foi atirado de um dos andares do prédio sede do Banco Austral no dia 11 de agosto de 2001. Na altura investigava um caso de corrupção na gestão do Banco Austral. Siba Siba trabalhava na recuperação da dívida de milhões de meticais, resultante da má gestão do banco. Embora tenha sido aberta uma investigação sobre esta morte ainda não há esclarecimentos até hoje.
Foto: DW/M. Sampaio
Carlos Cardoso: O começo da onda de assassinatos
Considerado o símbolo do jornalismo investigativo em Moçambique, Carlos Cardoso foi assassinado a tiros a 22 de novembro de 2000. Na altura investigava a maior fraude bancária de Moçambique. O seu assassinato foi interpretado como um aviso claro aos jornalistas moçambicanos para que não interferissem nos interesses dos poderosos. Devido a pressões internacionais o caso chegou a justiça.