Mauritânia: Candidato do poder vence presidenciais
AFP | Reuters | mjp
23 de junho de 2019
Mohamed Ould Ghazouani, apoiado pelo chefe de Estado cessante, Mohamed Abdel Aziz, venceu as eleições à primeira volta, com maioria absoluta, segundo a Comissão Eleitoral Nacional Independente
Ould Ghazouani no último ato de campanha, a 20 de junho, em Nouakchott.Foto: Getty Images/AFP/S. Kambou
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O candidato do partido no poder na Mauritânia, Mohamed Ould Ghazouani, venceu à primeira volta, com maioria absoluta, as eleições presidenciais deste sábado (23.06), numa altura em que estão contados praticamente todos os votos, diz a Comissão Eleitoral Nacional Independente (CENI).
Com a contagem terminada em 3.729 de um total de 3.861 assembleias de voto, o ex-chefe dos serviços de segurança vence com 51,5%, segundo os dados publicados na página da CENI na internet.
Ghazouani tinha já reclamado vitória na madrugada de domingo, na presença do Presidente cessante, apoiantes e jornalistas.
O escrutínio é o primeiro da história da Mauritânia em que se prevê que um presidente eleito termine o seu mandato e transfira o poder para um sucessor eleito, embora a oposição tenha manifestado a preocupação de que a votação possa perpetuar um Governo dominado por figuras militares.
Cerca de 1,5 milhões de pessoas foram chamadas a votar no sábado no país predominantemente muçulmano, com cerca de 4,5 milhões de habitantes. A afluência às urnas foi de 62,6%, segundo a CENI.
Entre os outros cinco candidatos, Biram Ould Dah Ould Abeid ficou em segundo lugar, com 18,58% dos votos e Mohamed Ould Boubacar em terceiro, com 17,82%.
"Prudência e contenção"
Em comunicado, a CENI afirma que continua a compilar os resultados em todo o país antes de enviar os dados para o Conselho Constitucional. Entretanto, a Comissão Eleitoral "aconselha os candidatos a mostrar prudência e contenção", esperando que a calma vivida durante a campanha e no dia das eleições se mantenha.
Tanto Abeid como Boubacar fizeram denúncias de irregularidades na votação e da retirada de representantes dos partidos em algumas assembleias de voto. No entanto, a CENI diz que não se registaram problemas significativos.
Abeid criticou Ghazouani por reclamar vitória numa altura "em que a contagem de votos continua a decorrer” e classificou o anúncio do candidato do poder como "falsidade".
Entretanto, o Governo da Mauritânia já felicitou o candidato do partido no poder, chamando-lhe "Presidente eleito" na rede social Twitter.
"Felicidades ao Presidente eleito Mohamed Ould Ghazouani pela confiança que o povo lhe mostrou. Desejamos-lhe todo o sucesso no seu trabalho", escreveu o ministro da Comunicação, Sidi Mohamed Ould Maham.
Mauritânia, o último bastião da escravatura
Na Mauritânia, no noroeste da África, a escravidão é uma amarga realidade. Estima-se que entre 10% e 20% dos 3,5 milhões de habitantes do país vivem na escravatura, em um sistema de enraizada discriminação étnica.
Foto: Robert Asher
Nascidos na prisão
Na Mauritânia, no noroeste da África, a escravidão é uma amarga realidade. Estima-se que entre 10% e 20% dos 3,5 milhões de habitantes do país vivem na escravatura. Como seus irmãos, Schweda (na foto) nasceu na escravidão, a nordeste do Saara. Depois que seu irmão, Matallah, conseguiu libertar-se, ele a resgatou juntamente com seus filhos para a liberdade, em março de 2013.
Foto: Safa Faki
Situação de extrema pobreza
A seca ao longo de 25 anos transformou a sociedade nômade mauritana em acomodada. Mas a transição foi difícil e, com uma taxa de desemprego de 40%, muitas pessoas sobrevivem com menos de um dólar por dia no país.
Foto: Robert Asher
Sobreviver de qualquer jeito
Nos arredores da capital da Mauritânia, Nouakchott, surgiram favelas. Aqui, ex-escravos e a empobrecida população rural local vivem em um gueto de barracos com telhado de zinco.
Foto: Robert Asher
Repressão por todo o país
A escravidão não é a exceção na Mauritânia. Mbarka nasceu escrava e tinha de servir a uma família rica em Nouakchott. Em 2011, ela foi libertada com o apoio do ativista Biram Abeid e sua organização Iniciativa para o Ressurgimento do Movimento Abolicionista (IRA, na sigla em inglês).
Foto: Robert Asher
A luta pela liberdade
Boubacar Messaoud (à esquerda), da organização não-governamental SOS Escravos, ajudou na libertação de Matallah (à direita) e, mais tarde, também na libertação de sua irmã Schweda com seus nove filhos. Ambos pertencem à "casta de escravos" negros africanos de Hratine que é reprimida pelos berberes árabes brancos.
Foto: Robert Asher
'Casta de escravos'
Os Hratine ocupam o mais baixo nível social e econômico. Não há estatísticas confiáveis sobre a distribuição da população, mas grupos de direitos humanos estimam que entre 10% e 20% dos 3,5 milhões de habitantes da Mauritânia vivem na escravatura, em um sistema de enraizada discriminação étnica.
Foto: Robert Asher
Uma sociedade sem pais
"Na escravidão, os pais são irrelevantes", diz Boubacar Massaoud da SOS Escravos. "Não há o papel do pai, pois o senhor dos escravos possui as mulheres e, quando elas engravidam e têm filhos, ele pode vendê-los ou fazer o que quiser com eles."
Foto: Safa Faki
Justiça rara
Yarg (à direita), de 11 anos, é um dos poucos ex-escravos da Mauritânia que conseguiram, com sucesso, levar os seus senhores a um tribunal. O homem foi condenado a dois anos de prisão - por um crime que teoricamente tem uma pena mínima de 10 anos.
Foto: Robert Asher
Fosso entre ricos e pobres
A Mauritânia é um dos países mais ricos da África Ocidental. No entanto, os rendimentos da pesca e dos recursos naturais quase não beneficiam a maioria da população.
Foto: Robert Asher
Luta pela sobrevivência
A família de Matallah - aqui sua esposa e seus filhos - vivem em amarga pobreza. Apesar dos desafios, eles puderam manter a sua dignidade e a fé em um futuro melhor.