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Candidato independente, Ismael Mussá, defende Maputo "viável" e "inclusiva"

António Rocha14 de novembro de 2013

O candidato às autárquicas pelo movimento Juntos Pela Cidade promete mais qualidade e descentralização nos serviços. O atual deputado do MDM quer que a população participe na gestão do maior município moçambicano.

Ismael Mussá
Foto: DW

Em entrevista à DW África, candidato às autárquicas moçambicanas pelo movimento Juntos Pela Cidade, o deputado Ismael Mussá, diz que a campanha para as eleições de 20 de novembro está a decorrer sem sobressaltos, ao contrário de outras realizadas anteriormente em que se verificaram confrontações entre os partidos e grupos de cidadãos eleitores.

O movimento Juntos Pela Cidade (JPC) integra pessoas de vários quadrantes e pretender governar com todas as forças políticas, defende Ismael Mussá. O candidato de 46 anos destaca que, depois de alguma hesitação inicial, os munícipes de Maputo estão agora a entender e a apoiar a sua mensagem. Na opinião de Mussá, a sua candidatura independente vai marcar a história da capital moçambicana.

Na corrida às autárquicas em Maputo, estão também o atual presidente do município, David Simango, da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), e o candidato do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Venâncio Mondlane.

DW África: Como está a decorrer a campanha para as eleições autárquicas de 20 de novembro?

Ismael Mussá: Nos últimos dias, temos notado uma grande adesão das pessoas, o que não era visível no início. As pessoas também ainda não percebiam o que era uma candidatura independente e acreditamos que vamos ter um resultado bastante bom.

DW África: Mas a crise político-militar que atinge o seu país atualmente atrapalha a campanha para as autárquicas?

IM: Todo mundo devia estar satisfeito e motivado, mas, realmente, o facto de o país estar na atual situação não agrada a ninguém. Mas tirando esse aspecto, no geral, a campanha está a correr bem. Por outro lado, as pessoas têm noção de que se não forem votar, as coisas vão continuar como estão.

A cidade de Maputo está congestionada, segundo o candidato independenteFoto: DW/J. Beck

Maputo está com problemas muito sérios, ao nível dos transportes, das vias de acesso (com buracos nas estradas), recolha de lixo, e ao nível da criminalidade e iluminação pública, entre outros. E as pessoas têm consciência de que a única saída é votar e escolher quem possa, de facto, mudar este estado das coisas. Acho que é isto que está a mudar a motivação e a moral das pessoas.

DW África: Qual é a prioridade que o candidato Ismael Mussá promete à população de Maputo?

IM: Nós temos cinco objetivos estratégicos, mas antes disso temos as palavras-chave qualidade, celeridade e regularidade nos serviços prestados ao município. O grande problema que se verifica hoje é exatamente em relação à qualidade que o município presta.

São somente cinco anos e, em cinco anos, não podemos prometer muita coisa. Temos de ser realistas, tendo em conta os recursos existentes e tendo em conta a dimensão dos problemas de Maputo.

Tornar Maputo uma cidade viável é um dos cinco objetivos estratégicos. Este é um grande problema em Maputo, que está congestionada. É preciso descongestionar a cidade, é preciso levar alguns serviços básicos para fora do Distrito Urbano nº1, ou seja, do centro da cidade.

O segundo objetivo é tornar Maputo limpa: o saneamento urbano, o problema da recolha de lixo, das valas entupidas, dos mercados informais, dos vendedores de rua, tudo isto somado trará problemas gravíssimos de higiene.

O terceiro objetivo é tornar Maputo segura. A cidade vive os piores momentos da sua história, com elevado índice de criminalidade e diversificação de crimes.

O quarto objetivo estratégico é tornar Maputo próspera: fazer com que a cidade possa ter outras formas de incluir os cidadãos, a questão da política de habitação, a questão da educação técnico-profissional.

E o quinto objetivo é tornar Maputo inclusiva e levar serviços básicos para fora do centro da cidade para a tornar mais inclusiva no sentido político, económico e social.

Por exemplo, uma governação independente poderia incluir no seu elenco pessoas de qualquer filiação partidária, porque a nossa prioridade é o indivíduo. Nós baseamo-nos na competência. Não somos um partido, somos uma associação e isso permite que possamos ter no nosso seio pessoas de qualquer tendência política, desde que sejam tecnicamente capazes. Portanto, aí poderíamos, pela primeira vez, dar o exemplo claro da despartidarização deste país e uma inclusão efetiva, de facto, na governação.

DW África: Um dos pontos interessantes e talvez original é, precisamente, o envolvimento dos munícipes na elaboração dos orçamentos. Acha que isso será possível?

IM:
O nosso manifesto não foi feito pelo gabinete eleitoral. Coube simplemente ao gabinete eleitoral fazer a sua sistematização. Isto por quê? Porque começamos, desde o ano passado, a montar núcleos em todos os bairros. Durante meses, andamos a pedir às pessoas que nos apontassem os problemas e nos dessem também as ideias de como solucioná-los. Portanto, a partir desse momento, nós já inciamos um processo de democracia participativa. As próprias pessoas participaram no processo de elaboração do manifesto. E coube a nós fazer a sistematização.

E a fase seguinte – se nós ganharmos as eleições – será exatamente levar as pessoas também a participarem num orçamento participativo, em que elas próprias participem na orçamentação do que serão as despesas, do que serão as atividades que o município irá ter nos bairros.

DW África: Portanto, poderá contar com toda a sociedade civil de Maputo na gestão do próprio município?

IM: Esta é extamente a grande linha de força de toda a nossa linha eleitoral.

DW África: Mesmo numa cidade capital onde a FRELIMO é um partido omnipresente?

IM: Nós estamos numa fase de grande mudança da nossa sociedade. Nos primeiros dias, as pessoas não entendiam bem a nossa estratégia. Mas nos últimos dias, confesso que estou profundamente surpreso pela positiva, pela adesão e pela forma como começaram a encarar esta candidatura. Exatamente porque nós não estamos a atacar os adversários. Estamos a dizer que queremos governar com todos, porque mesmo dentro da FRELIMO, dentro da RENAMO [Resistência Nacional Moçambicana], de todos os partidos, há pessoas competentes.

Nós gostaríamos de contar com todas essas pessoas no nosso elenco e, acima de tudo, com os 80 % dos munícipes que não votam, que não têm filiação partidária e que não têm opção política.

DW África: Normalmente, em todas as campanhas políticas em África, a máquina partidária tem o seu peso. Enquanto independente, Ismael Mussá não conta com esta máquina partidária. Como consegue levar a cabo a sua campanha? Será que ainda conta com muitos apoios no seio do MDM e de outros partidos?

IM:
Eu conto com muitos amigos no seio do MDM, mas também na RENAMO, na FRELIMO, e em todos os partidos, por uma razão muito simples: é que o grupo da sociedade civil que me apoia chama-se Juntos Pela Cidade (JPC). É um grupo que está representado na Assembleia Municipal desde 1998. Já chegou a ter nesta cidade cerca de 30 % em 1998, portanto é um grupo com uma base de inserção.

David Simango, da FRELIMO, é o atual presidente do maior municipio de MoçambiqueFoto: DW/R. da Silva
"A atual campanha eleitoral está a decorrer sem sobressaltos", diz Ismael MussáFoto: DW/R. da Silva
Os transportes são um dos problemas enumerados por Ismael MussáFoto: DW/J. Beck

É claro que este grupo, nos últimos anos, baixou bastante o seu desempenho político e está representado na Assembleia somente com dois membros, mas não deixou de estar presente na cidade de Maputo. Portanto, conto com o apoio deste grupo e com todas as outras pessoas que não estão satisfeitas nos seus respetivos partidos.

DW África: Então, como candidato independente, está a sair da lógica partidária e que cria desafios?

IM:
Exacto. E acredito que esta experiência pode ter efeitos positivos para o futuro e todos nós estamos muito otimistas de que vai ser uma experiência que vai marcar a história. Maputo não será o mesmo depois dessas eleições.

Candidato independente, Ismael Mussá, defende Maputo "viável" e "inclusiva"

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