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"Algo precisa ser resolvido na familia RENAMO"

Leonel Matias (Maputo)
14 de setembro de 2020

É o que defende a organização Sala da Paz, que diz que o anúncio do filho do ex-presidente da RENAMO é mais um sinal de que o partido precisa "reunir a família" para evitar a sua fragmentação antes das eleições de 2024.

Mosambik RENAMO Afonso Dhlakama
Afonso DhlakamaFoto: picture alliance/dpa/A. Silva

Em Moçambique, a organização da sociedade civil  Sala da Paz considera que o maior partido da oposição, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), está perante mais um sinal que deverá ter em conta para "reunir a família e evitar a sua fragmentação antes das próximas eleições, em 2024".

A posição segue-se ao anúncio de Henriques Afonso Dhlakama, filho do antigo presidente da RENAMO, Afonso Dlhakama, de que vai candidatar-se às próximas presidenciais. Isso, apesar de o atual líder do partido, Ossufo Momade, ter afirmado que o mesmo não terá apoio daquela formação política.

Candidato de todos os moçambicanos

O filho primogénito de Afonso Dhlakama afirma que é candidato de todos os moçambicanos, independentemente da sua filiação partidária, e que a sua candidatura visa evitar que o país caia "num precipício" - escreveu Henriques Dhlakama na sua página no Facebook, na semana passada.

O combate à pobreza, corrupção e ao desemprego, assim como a melhoria dos sistemas de educação e saúde num ambiente de paz são algumas das suas promessas.

Antigos guerrilheiros

Henriques Dhlakama fez o anúncio numa altura em que a RENAMO está a reativar os seus gabinetes eleitorais e em que um grupo de antigos guerrilheiros da organização criou a chamada Junta Militar, que contesta a liderança do partido por Ossufo Momade, que sucedeu a Afonso Dhlakama, após a sua morte.

Ossufo MomadeFoto: DW/S. Lutxeque

Para Dércio Alfazema, da organização da sociedade civil Sala da Paz, "há necessidade de a RENAMO, neste período que corre até as próximas eleições e o período que corre da atual liderança até ao próximo congresso, reencontrar-se e trazer essas pessoas para contribuírem dentro da  estrutura e normas de funcionamento do próprio partido".

Alfazema observa que há um "sinal que se junta aos outros sinais de alguma situação que precisa de ser resolvida dentro da família RENAMO".

Assim como Dércio Alfazema, o jornalista Francisco Carmona considera que o anúncio da intenção de Dhlakama em candidatar-se às presidenciais enquadra-se nos direitos dos cidadãos à liberdade de expressão e de participação política nas suas variadas formas.

Nome de Dhlakama

Segundo Carmona, Henriques Dhlakama poderá querer usar estrategicamente o nome de Afonso Dhlakama, que foi o presidente da RENAMO durante 39 anos, para fazer valer a sua candidatura.

Moçambique: Um ano após a morte de Afonso Dhlakama

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"Pode ser uma espécie de balão de ensaio o que ele está a fazer. Está a testar as águas. Lançou o seu nome e, neste momento, está sentado no seu cantinho a receber toda uma carga de opinião em relação àquilo que ele lançou", avalia.

No entanto, o analista político Dércio Alfazema é da opinião de que Henriques Dhlakama não constitui "politicamente uma grande ameaça".

"Não conhecemos a sua intervenção política e ainda não conhecemos a sua contribuição política dentro do próprio partido RENAMO", acrescenta.

"É uma pessoa que apareceu e fez o seu pronunciamento", continua Alfazema, dizendo que Henriques Dhlakama "tem impacto por tratar-se do filho do antigo presidente da RENAMO". "Isso sim pode contribuir para criar algum desconforto, mas nada que a atual liderança desse partido não possa controlar", defende Alfazema.

Francisco Carmona diz esperar que "estrategicamente, ao lançar o seu nome agora, faltando cerca de quatro anos para as próximas eleições, possa-se levantar um debate e passarmos a conhecer Henriques Dhlakama com alguma propriedade". 

"Isso porque, neste momento, para além de sabermos que é o filho de Afonso Dlakhama, e que vive em Portugal, ainda não conhecemos quais são os seus atributos e argumentos políticos. Não sabemos que mais-valia ele pode trazer para o teatro político em Moçambique", conclui.