Candidatura do filho de Kadhafi divide opiniões na Líbia
15 de novembro de 2021![Libyen Führer Muammar al-Gaddafi | Sohn Seif al-Islam](https://static.dw.com/image/59124650_800.webp)
O ingresso do filho de Muammar Kadhafi na disputa presidencial levantou intenso debate no cenário político da Líbia. Neste domingo (14.11), Saif al-Islam reapareceu depois de quase uma década para se inscrever como candidato às presidenciais.
Apesar do apoio da maioria das fações políticas líbias e de governos estrangeiros para as eleições de 24 de dezembro, a votação permanece em dúvida porque há controvérsias sobre as regras e o calendário para a realização da campanha e da votação.
Há também incertezas quanto à segurança para a realização das primeiras eleições presidenciais e legislativas da história da Líbia, que regista confrontos esporádicos entre grupos armados e tropas internacionais.
Na cidade de Sebha, no sul do país, após assinar os papéis da candidatura, o filho de Kadhafi citou o Corão perante as câmaras: "Que Deus traga a verdade ao nosso povo e eleja o honorável. Deus toma a decisão, mesmo que os infiéis a odeiem".
Detenção em vigor
As eleições são vistas como o fruto de um laborioso processo político patrocinado pela ONU e poderiam encerrar as lutas entre governos rivais do Oeste e do Leste. O filho do ex-líder da Líbia é a primeira figura proeminente a formalizar a candidatura. A lista deverá incluir ainda o homem forte do leste do país, o general Khalifa Haftar, o primeiro-ministro Abdulhamid al-Dbeibah e o líder do Parlamento, Aguila Saleh.
"Irá ele trabalhar com base na situação atual da Líbia ou dar um passo atrás? Se ele manter o foco na nova Líbia, chegará ao poder", opina Ramzi Dueis, de 31 anos, um morador de Tripoli, ouvido pela agência AFP.
Com 49 anos, Saif al-Islam foi capturado em 2011 por um grupo armado em Zenten, no noroeste da Líbia, tendo sido condenado à morte em 2015, depois de um julgamento rápido. A milícia acabaria por libertá-lo em 2017.
Al-Islam Kadhafi é procurado há dez anos pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), sob a acusação de "crimes contra a humanidade" relacionados com a revolta popular de 2011, apoiada pela NATO, que culminou com a queda e a morte de Muammar Kadhafi, e levou a uma guerra civil.
O TPI recusou comentar a candidatura de Saif al-Islam, frisando apenas que o mandado de detenção continua em vigor.
Outro morador da capital líbia, Nizar al-Hadi, de 33 anos, considera "a candidatura injusta, porque ele ainda é procurado pelo Tribunal Penal Internacional é uma figura controversa".
Eleições "inclusivas e credíveis"
Já o jovem Abdallah Qodeish, de 21 anos, morador da capital líbia, acredita que, se os líbios aceitarem Saif, esquecerão o passado. "Se houver uma amnistia e apenas forem tratadas questões importantes como o dinheiro público e os crimes de guerra, sem questões internas e vinganças, então acho que ele pode ter sucesso e a Líbia vai desenvolver-se", disse.
Na sexta-feira, a comunidade internacional, reunida em Paris no quadro de uma conferência sobre a Líbia, apelou à realização de eleições "inclusivas e credíveis" e ameaçou com sanções todos os que criarem obstáculos.
O líder do Conselho Presidencial de Transição na Líbia, Mohamed al-Menfi, garante, no entanto, que o país está a caminhar para o consenso. "Estamos atualmente a garantir que há consenso sobre a votação a 24 de dezembro. Esperamos ver este processo completo de forma democrática e transparente, para que o poder seja transferido para uma autoridade eleita", disse.