Candidatura das Quirimbas a Reserva Mundial da Biosfera
Lusa | ar
21 de setembro de 2017
Governo moçambicano assinou a candidatura do Parque Nacional das Quirimbas a Reserva Mundial da Biosfera da UNESCO, abrindo caminho para a formalização do pedido na ONU.
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Um comunicado da UNESCO distribuído esta quinta-feira (21.09.) em Maputo refere que a candidatura será imediatamente submetida ao Secretariado do Programa o Homem e a Biosfera (MAB, na sigla em inglês), em Paris, para avaliação pelo Comité de Coordenação Internacional da iniciativa.
A decisão final será tomada pela UNESCO no decurso da próxima reunião anual do Comité de Coordenação, no primeiro semestre de 2018, indica a nota de imprensa.
"A candidatura do Parque Nacional das Quirimbas a Reserva Mundial da Biosfera da UNESCO constitui a concretização da plena inserção de Moçambique no quadro do Programa O Homem e a Biosfera da UNESCO", lê-se no texto.
Vontade de Moçambique em cooperar internacionalmente
Moçambique tem vindo a trabalhar para este objetivo que, sendo nacional, também dá expressão da vontade do país em cooperar internacionalmente de forma comprometida e responsável em favor dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, acrescenta a nota.A UNESCO considera que com esta candidatura, Moçambique pretende participar ativamente na Rede Mundial de Reservas da Biosfera e, em particular, nas redes temáticas e geográficas, como são os casos da Rede Africana de Reservas da Biosfera (AfriMAB) e da Rede Mundial de Reservas da Biosfera em Ilhas e Zonas Costeiras (WNICBR), reforçando o papel e a presença de Moçambique no cenário internacional do Desenvolvimento Sustentável.
A nota descreve as reservas da biosfera como espaços que, por vocação, pretendem conjugar a conservação dos valores naturais, das espécies, ecossistemas e paisagens, marinhas e terrestres, a par da sua valorização e integração no modelo de desenvolvimento com base nas comunidades locais, reconhecendo a sua identidade, história e cultura.
Parque criado em 2002
Situado no norte de Moçambique, com uma área superior a 750 mil hectares, em terra e no mar, o parque foi criado em 2002 com o apoio da Agência Francesa para o Desenvolvimento e da ONG internacional Fundo Mundial para a Natureza (WWF, na sigla inglesa) pelo seu valor ambiental e arquitetónico.As florestas da zona estão sob ameaça de empresas madeireiras e as espécies são alvo de caça furtiva, que já extinguiu a população de rinocerontes e tem reduzido significativamente a de elefantes, de acordo com a WWF.
Nos próximos anos, as atenções estão centradas para a construção da "cidade do gás" no vizinho distrito de Palma, fruto do início de exploração do gás natural da Bacia do Rovuma em 2022.
Num cenário recheado de ameaças, a UNESCO acredita que a classificação como Reserva da Biosfera vai trazer mais-valias.
"O reconhecimento internacional do Parque das Quirimbas como uma área de conservação de classe mundial, integrando a Rede Mundial de Reservas de Biosfera (WNBR) conduzirá a oportunidades de conservação, valorização e uso sustentável dos recursos naturais e do património cultural", referiu a organização, na altura do lançamento da consulta pública em junho passado..
As reservas de biosfera da UNESCO pretendem ser "áreas representativas dos ecossistemas terrestres, marinhos e costeiros mundiais", explica a organização.
Novos dados da Fundo Mundial da Natureza (WWF) indicam que a caça furtiva de elefantes e rinocerontes em Moçambique multiplicou-se. Em algumas zonas do país, o número de carcaças aumentou até seis vezes.
Foto: STEPHANE DE SAKUTIN/AFP/Getty Images
Carcaças de elefantes em Niassa triplicam
Novos dados da WWF indicam que a caça furtiva de elefantes e rinocerontes em Moçambique multiplicou-se. O número de carcaças de elefantes é seis vezes superior em certas áreas do país. Dados preliminares indicam que a caça furtiva na Reserva Nacional do Niassa, fez com que o número de carcaças estimado em contagens aéreas triplicasse, de cerca de 756 em 2011 para 2.365 em 2013.
Foto: E. Valoi
Armas da polícia moçambicana usadas
O relatório afirma que, apesar do número de armas apreendidas estar a aumentar, muitas destas pertencem a instituições de segurança moçambicanas. Um dos exemplos apontados indica que uma das armas da polícia moçambicana em Masssingir foi apreendida três vezes consecutivas em atividades de caça furtiva no Parque Nacional do Limpopo.
Foto: E. Valoi
Rinocerontes moçambicanos extintos
Segundo o estudo, a caça furtiva levou à extinção das populações de rinoceronte em Moçambique no ano passado, com a morte dos últimos 15 rinocerontes no final de 2013. As autoridades acreditam agora que a maioria dos caçadores opera a partir da zona do Limpopo, área que faz fronteira com Parque National Kruger na África do Sul.
Foto: picture alliance/WILDLIFE
Elefantes da Reserva do Niassa sob ameaça
A população de elefantes de Moçambique concentra-se, na sua maioria, na Reserva Nacional do Niassa e no distrito de Mágoè, além das zonas transfronteiriças. Mas dados preliminares indicam que a caça furtiva na Reserva Nacional do Niassa fez com que o número de carcaças, estimado em contagens aéreas, triplicasse de cerca de 756 em 2011, para 2.365 em 2013.
Foto: E. Valoi
Quirimbas também sob ameaça
Também noutras áreas tem aumentado a caça de elefantes. Em novembro do ano passado, a WWF Alemanha financiou uma contagem áerea no Parque Nacional das Quirimbas. Um em cada dois elefantes avistados era um carcaça, num total de 811. Este número é seis vezes superior às contagens de 2011, onde o número de carcaças contabilizado era 119. Na foto: um elefante morto na Reserva do Niassa.
Foto: Estácio Valoi
Capacidade de deteção continua fraca
O relatório acrescenta que a capacidade das autoridades moçambicanas em detetar marfim nos portos e aeroportos do país é fraca (na foto: guardas da Reserva do Niassa). No entanto, as apreensões aumentaram um pouco: em 2013 foram apanhados cerca de 20 chifres de rinocerontes no Aeroporto de Maputo. No primeiro trimestre de 2014, já se contabilizam 6 chifres de rinoceronte apreendidos.
Foto: E. Valoi
Aumento da procura nos mercados asiáticos
A WWF acredita que o aumento da caça está relacionado com o incremento da procura nos mercados asiáticos, onde o chifre de rinoceronte é usado na medicina tradicional asiática, uma vez que é considerado um ingrediente essencial. O marfim, por sua vez, é visto como uma raridade e um item de luxo, algo muito prezado nas classes emergentes chinesa e vietnamita.
Foto: E. Valoi
Moçambicanos incriminados no Kruger
Em meados de junho de 2014, apareceram cartazes populares na zona da fronteira do Parque Nacional Kruger com Massingir que acusam Moçambique de ser o principal responsável pela morte dos animais na reserva sul-africana. Os cartazes revindicavam ainda a reconstrução da cerca que marca a fronteira entre os dois parques. Só nos primeiros meses do ano, foram presas 57 pessoas e mortos 266 animais.
Foto: JON HRUSA/AP/dapd
Patrulhas do Kruger matam caçadores
Nos últimos anos tem aumentado o número de incidentes entre caçadores furtivos e os guardas-patrulha do Parque Nacional Kruger da África do Sul, acabando muitas vezes com a morte ou prisão dos caçadores furtivos. Segundo a polícia de Moçambique, morrem, por mês, dois jovens moçambicanos por causa da caça furtiva.