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Cansados de sofrer em Itália, migrantes regressam a África

Jörg Seißelberg | Lusa | ms
29 de julho de 2019

Arriscaram a vida à procura de melhores condições na Europa. Mas, com a ajuda de organizações não-governamentais, alguns migrantes estão a abandonar o continente e a voltar aos países de origem.

Resgate de migrantes no Mar MediterrâneoFoto: picture-alliance/dpa

O número de refugiados que deixam a Líbia e a Tunísia rumo à Itália voltou a aumentar nas últimas semanas. Só nos últimos dias, desembarcaram na costa italiana mais de 150 pessoas, apesar da política de "portos fechados" implementada pelo ministro do Interior, Matteo Salvini.

Mas agora, com a ajuda de organizações não-governamentais, alguns migrantes que fizeram a arriscada travessia da Líbia para Itália decidiram voltar para os países de origem recomeçar a vida.

Barnabas é um destes jovens prestes a embarcar de regresso às origens. Confessa estar cansado. À porta de um bar em Roma, bebe a sua última coca-cola em Itália. Daqui seguirá diretamente para o aeroporto, para voltar à Nigéria.

O jovem de 22 anos chegou à Europa há três anos, mas agora quer voltar. Está desiludido.

"Esperava ter uma vida boa aqui, poder trabalhar e ajudar a minha mãe, mas aqui os migrantes não têm uma vida boa. O que esperava é diferente do que encontrei", diz.

Barnabas viajou pelo continente africano e vários amigos morreram na travessia do deserto. Passou meses na Líbia, antes de arriscar a vida ao atravessar o Mar Mediterrâneo, em direção à Europa. Acabou por ser resgatado pela Guarda Costeira italiana.

Cansados de sofrer em Itália, migrantes regressam a África

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Sonhos frustrados

O jovem cabeleireiro diz ter investido 1600 euros na viagem para a Europa, a terra prometida. No entanto, o seu pedido de asilo foi rejeitado, como acontece à maioria dos nigerianos.

"Quero voltar porque aqui em Itália não há trabalho, não tenho os documentos necessários. Estou cansado", conta Barnabas revelando que "aqui, cheguei a pedir dinheiro nas ruas. Quando estava no meu país, nunca pedi dinheiro."

Tal como Barnabas, também Precious veio da Nigéria de barco pelo Mediterrâneo até chegar a Itália. E também quer voltar para casa depois de três anos na Europa.

"Perdi o meu tempo aqui, não podia trabalhar. Se tivesse ficado na Nigéria, podia ter terminado os estudos na universidade. Estou feliz por voltar agora, para começar de novo."

Os nigerianos Barnabas e Precious são dois dos primeiros migrantes a beneficiar de um novo projeto do Conselho Italiano de Refugiados. O programa de regresso voluntário prevê uma ajuda inicial para quem pretende regressar ao trabalho no país de origem. Barnabas quer voltar a ser cabeleireiro.

Migrantes malianos regressam da Líbia

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Prontos para recomeçar

"Quando regressar à Nigéria, voltarei a ter a minha antiga profissão e terei a oportunidade de ter a minha própria loja. Estou ansioso", assegura Barnabas.

Já Precious vai começar um negócio de venda de roupas e cosméticos. Como todos os integrantes no projeto, receberá uma ajuda de 2000 euros - mas não em dinheiro.

A organização parceira na Nigéria é que vai comprar uma loja e os primeiros bens com esse dinheiro, para que Precious possa começar imediatamente a trabalhar quando regressar.

Elisabetta Tuccinardi, do Conselho Italiano de Refugiados, vai todas as semanas à Embaixada tratar dos procedimentos necessários.

"Vimos cá com três ou quatro migrantes e normalmente recebemos um documento de viagem de emergência no espaço de duas horas, para que eles possam viajar no próprio dia", afirma Tuccinardi.

Na hora da despedida, o jovem Precious deixa uma mensagem aos compatriotas nigerianos que estão a pensar partir para a Europa.

"Toda a gente acha que vai ter uma vida melhor e mais fácil, dinheiro e tudo mais, mas não conhecem a realidade. O meu conselho é: não venham para cá."

Foto: Getty Images/C. McGrath

"Corredor da morte"

Na última quinta-feira (25.07), pelo menos 62 pessoas perderam a vida e 110 ficaram desaparecidas após um naufrágio de uma embarcação, ao largo da Líbia.

Antes do incidente de quinta-feira, a Organização Internacional para as Migrações (OIM) indicou que 426 pessoas morreram desde o início do ano durante a travessia da rota central do Mediterrâneo.

Cerca de 140 migrantes aguardam desde a semana passada na costa italiana pela sua distribuição por outros países da União Europeia (UE). Na segunda-feira (29.07), a Comissão Europeia informou ter contactado os Estados-membros que se mostraram disponíveis para receber migrantes.

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