Karyna Gomes e o otimismo para a Guiné-Bissau após eleições
Júlia Faria
28 de março de 2019
Em entrevista à DW África, artista guineense Karyna Gomes diz acreditar que esperanças foram renovadas com a eleição de Domingos Simões Pereira e do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).
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"As esperanças estão renovadas". Essa é a leitura que a cantora e compositora Karyna Gomes faz da Guiné-Bissau após a eleições legislativas que tiveram lugar no seu país no último dia 10 de março.
"Foi muito difícil, houve quem pensasse que não fosse possível realizar as eleições, mas conseguiu-se realizar, com muitas dificuldades. Houve a reeleição do Domingos Simões Pereira e do partido PAIGC. Tudo indica que as esperanças estão renovadas. Tudo indica que o país vai voltar a entrar nos trilhos e arrancar de vez rumo ao desenvolvimento, rumo ao tão esperado progresso, ansiado por todos desde os primórdios da independência", afirma a artista guineense.
Karyna Gomes foi uma das estrelas de abertura do festival de música Over the Border, na cidade alemã de Bona e volta a apresentar-se no evento esta quinta-feira (28.03.) ao lado do também guineense Mû Mbana. Em entrevista à DW África, a artista diz que confia na nova liderança do PAIGC para retomar os ideais nacionalistas do partido.
Cantora Karyna Gomes vê com otimismo futuro da Guiné-Bissau após eleições
"Eu, neste caso, apoio claramente o PAIGC na sua nova liderança, que tem uma visão clara do que é Amílcar Cabral, dos ideais cabralistas, para fazer a Guiné retomar os ideais nacionalistas e sair desse marasmo que está nesses anos todos, nessas décadas todas", acredita.
"Agora vejo, sim, uma luz no fundo do túnel, só que isso não significa que vamos ficar a espera de que as coisas caiam do céu, temos muito trabalho pela frente. Muitos desafios", conclui a cantora.
"Há muito o que fazer na Guiné"
O PAIGC venceu as legislativas disputadas em 10 de março na Guiné-Bissau e, com acordos eleitorais, assegurou uma maioria absoluta no Parlamento. Domingos Simões Pereira, presidente do partido, será empossado pela segunda vez como primeiro-ministro do país, o que traz otimismo, diz Karyna Gomes.
"Há um otimismo, uma grande esperança. Porque quem está nesse momento à frente é uma pessoa preparada, uma pessoa capaz, um verdadeiro estadista", afirma.
A cantora lembra, porém, que o caminho não será fácil. "O país está completamente de rastos. Não há infraestruturas. Os serviços básicos sao muito precários. Não há eletricidade. O serviço de fornecimento de água é muito precário. [Tem que] urbanizar verdadeiramente as cidades, existem as autarquias por fazer, porque o poder está todo centralizado em Bissau. Há muito trabalho por fazer", recorda.
Talento amadurecido
Karyna Gomes subiu ao palco do festival Over the Border na abertura da noite crioula na última sexta-feira, a apresentar a música guineense para uma plateia lotada. A cantora trabalha agora na produção de seu segundo disco e promete lançar um single ainda neste ano.
É um trabalho que terá uma Karyna Gomes mais madura, consequência do aprendizado adquirido nos últimos cinco anos em que esteve em carreira solo. "Já não é uma Karyna tão experimental. É já mais empoderada e mais firme nas convicções musicais", conclui.
Dez cantoras dos PALOP que fazem sucesso na Europa
Cada vez mais cantoras da África lusófona singram na Europa. Cultura, histórias das suas pátrias e o papel da mulher na sociedade são temas recorrentes nas músicas. Cabo Verde é um dos países mais bem representados.
Foto: Wikipedia/Lindaines1995
Aline Frazão
Cantora e compositora de Luanda, detentora de uma voz doce e poética que contrasta com o caráter interventivo e político da sua música. Foi uma das vozes pela libertação dos 15 ativistas detidos em Angola em 2015. Perto de completar 30 anos, conta já com três discos no portfólio e inúmeras passagens por palcos internacionais.
Foto: P. Szymanski
Elida Almeida
Com 25 anos, Elida Almeida pertence à nova geração de músicos de Cabo Verde. Interpreta os ritmos da sua ilha natal, Santiago, como o batuco, funaná e tabanka. Na sua música, é frequente encontrar tópicos que visam a situação das mulheres em Cabo Verde, como a educação e a gravidez na adolescência.
Foto: DW/A. Gensbittel
Cesária Évora
Ícone maior da música cabo-verdiana, levou a história do seu país a todo o mundo. Fonte de inspiração e figura incontornável para as novas gerações conterrâneas. Faleceu em 2011, aos 70 anos. Em março, vai ser homenageada pela ONU no festival "Over the Border" que se realizará em Bona.
Foto: Over the Border Festival
Lura
Nascida em Portugal, só conheceu Cabo Verde na adolescência. A música é a forma de se aproximar das suas origens e dar a conhecer a história do país e do seu povo. Vê na mulher cabo-verdiana uma fonte de inspiração. Entre os reconhecimentos internacionais, destaca-se o álbum "Herança", que, em 2015, foi distinguido entre os dez melhores em todo o mundo, pela revista britânica "Songlines".
Foto: DW/A. Gensbittel
Mayra Andrade
É uma verdadeira cidadã do mundo, mas não esquece as origens cabo-verdianas. Canta em várias línguas, incluindo crioulo. Ao longo da carreira já colaborou com diversos artistas, como a conterrânea Cesária Évora. Chega a ser vista por alguns como a sua sucessora. Em 2008, foi considerada a artista revelação para a BBC3.
Foto: Sony Music
Sara Tavares
Portuguesa mas com as raízes cabo-verdianas bem presentes, a "terra mãe", como canta num dos seus temas. Conta com uma longa e sólida carreira que inclui colaborações com diversos artistas e projetos musicais e até uma participação no Festival Eurovisão da Canção. Depois de um hiato, voltou ao ativo e continua a reinventar-se como artista.
Foto: Günther Klebinger
Karyna Gomes
Em 2016, Karyna Gomes foi a primeira artista guineense a subir ao palco do Africa Festival, o maior e mais antigo festival de música africana na Europa, que se realiza anualmente na Alemanha. Misturando sons tradicionais e modernos, da sua voz saem as histórias da sua terra, com particular destaque para a força feminina.
Foto: DW/A. Gensbittel
Eneida Marta
Sonhadora e otimista que canta a Liberdade. Aliás, esta guineense nasceu quando o seu país caminhava para a independência. Além da música, abraça também as questões sociais: é embaixadora da boa vontade da UNICEF na Guiné-Bissau, focando-se no problema do casamentos infantis. Em 2017, passou pelo palco do Africa Festival, na Alemanha.
Foto: DW/J. Carlos
Mariza
Mariza nasceu em Moçambique, filha de mãe moçambicana pai português. Apesar de se destacar no fado, estilo tipicamente português, é uma artista versátil e não é difícil encontrar ritmos africanos no seu trabalho. Mundialmente reconhecida, esgota as salas de concertos por onde passa. Já foi por duas vezes nomeada para os reconhecidos prémios Grammy.
Foto: q-rious music
Deolinda Kinzimba
Pode ainda não andar pela ribalta internacional, mas, aos 20 anos, a angolana Deolinda Kinzimba fez história ao sagrar-se vencedora da terceira edição do programa "The Voice Portugal", em 2015. A poderosa interpretação de "I will always love you" de Whitney Houston conta com mais de 1 milhão de visualizações no YouTube. Em 2017, lançou o primeiro álbum.