Capital moçambicana celebra Orgulho Gay
26 de junho de 2014Em Moçambique o preconceito em relação às consideradas minorias sexuais é grande, mas Carina Capitine, representante da Associação Moçambicana para a Defesa das Minorias Sexuais (LAMBDA), garante que existem sinais de mudança.
E nesta semana de comemorações, várias atividades estão a ter lugar na cidade de Maputo, como debates, projeção de filmes e atividades desportivas. Um desfile de moda colocará um ponto final nas celebrações.
DW África: De que maneira é que esta semana é especial para LAMBDA?
Carina Capitine (CC): Esta semana é mundialmente celebrada a 28 de junho como o dia do orgulho LGBT - Lésbico Gay, Bissexual e Transgénero. Então, cá em Moçambique, nós do LAMBDA estamos a organizar a semana do orgulho LGBT, que começou segunda-feira (23.06) e vai até sábado (28.06), com vários eventos e tem como objetivo principal celebrar o orgulho e a livre expressão da orientação sexual e a identidade do genéro LGBT. São eventos que visam dar visibilidade à comunidade, mudar perceções e comportamentos sociais negativos contra a homossexualidade. E criar também um espaço para as pessoas e simpatizantes da LGBT poderem socialzar.
DW África: E como está a ser vista e recebida a promoção desta semana?
CC: Temos tido uma boa resposta, temos tido uma grande participação nos nossos eventos, as pessoas estão a aderir, tem sido bom.
DW África: No geral a sociedade moçambicna é muito conservadora. Desde que foi fundada a vossa associação já viram sinais de mudanças de atitude em relação às pessoas com orientações sexuais diferentes da maioria?
CC: Sim, temos notado algumas mudanças. Até há pouco tempo, éramos a única organização que trabalhava com as minorias sexuais e de um tempo para cá aumentam as organizações, tem aparecido algumas organizações que nos apoiam e falam sobre questão. Por exemplo, o tema da homossexualidade é cada vez mais abordado nos meios de comunicação social, já há mais abertura para a abordagem do tema.
DW África: O nível de discriminação ainda é muito grande?
CC: É grande, mas se formos a comparar com alguns países africanos, por exemplo, podemos dizer que não estamos tão mal. O ano passado realizamos um estudo e, por exemplo, pudemos ver que 21% das pessoas em Maputo disseram que participariam na agressão contra um homossexual. São bons números tendo em conta que não é nem a metade das pessoas.
DW África: A vossa associação está sediada em Maputo. Qual é a situação noutros pontos do país principalmente no interior?
CC: A situação é similar em alguns pontos. Por exemplo, de acordo com o mesmo estudo, Maputo é a que mais informação tem, fizemos o estudo em Maputo, Beira e Nampula. Na Beira, por exemplo, 78% da pessoas disseram que sabem sobre a homossexualidade, se comparado com 94% de Maputo. E, por exemplo, na Beira 10% disseram que participariam na agressão contra um homossexual, se comparado com 21% em Maputo e 8% em Nampula.
DW África: A vossa associação tem apoio apenas das consideradas minorias sexuais ou outros grupos, como heterossexuais, por exemplo, também vos têm apoiado?
CC: A associação está aberta a todos, todo o apoio é bem-vindo. Temos várias associações da sociedade civil que trabalham conosco e não são ligadas diretamente as minorias sexuais. Então, temos, sim, recebido apoio de várias organizações e pessoas individuais.
DW África: Qual é o vosso grande desafio?
CC: O maior desafio é o registo. Até hoje não temos o nosso registo, o que causa dificuldades a vários níveis, como deve imaginar, financeiros, organizacionais. Mas apesar disso continuamos a trabalhar. Esse continua a ser o nosso maior desafio.