GB: Carlos Gomes Júnior: próximo candidato às presidenciais?
Braima Darame (Bissau)
23 de janeiro de 2018
De volta a Bissau, depois de cinco anos de asilo político em Portugal, ex-primeiro-ministro, deposto no golpe militar em abril de 2012, tem-se desdobrado em contactos com as autoridades governativas e políticas do país.
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A situação política guineense ganhou novos contornos com o regresso de Carlos Gomes Júnior à Guiné-Bissau na última semana (18.01). Carlos Gomes Júnior, ou "Cadogo", como é vulgarmente conhecido no país, liderou o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) durante 12 anos seguidos. E depois de cinco anos de asilo político em Portugal, o ex-primeiro-ministro, deposto no golpe militar em abril de 2012, tem-se desdobrado em contactos com as autoridades governativas e políticas guineenses.
De volta à cena política?
A grande incógnita é se "Cadogo" vai participar no congresso do PAIGC, que terá lugar em Bissau de 30 de janeiro a 04 de fevereiro. O ex-primeiro-ministro já deixou em aberto por várias vezes a possibilidade de disputar a liderança do partido e lançar-se como candidato apoiado pelo PAIGC nas próximas eleições presidenciais, previstas para 2019.
Nesta terça-feira, Carlos Gomes Júnior deslocou-se à sede nacional do PAIGC, com o propósito de recensear-se e, assim, poder gozar de pleno direito de participar como delegado ao congresso.
Numa altura em que está a ser conotado por várias correntes da sociedade como muito próximo do grupo dos 15 deputados expulsos do PAIGC, Carlos Gomes Júnior fez a seguinte declaração à DW África, à porta da sede do PAIGC:
"Não tenho compromisso com ninguém. Vim ver a minha família, vim ver meus camaradas e militantes do partido. Esse é o principal objetivo da minha visita. Eu não tenho que ser conotado com ninguém... sou Carlos Gomes Júnior.”Nova fase para uns, preocupação para outros
O presidente do PAIGC, Domingos Simões Pereira, congratula-se com a iniciativa de Carlos Gomes em decidir estar presente no congresso do PAIGC. Simões Pereira garante que o partido está numa nova fase, onde novas ideias para os debates são bem-vindas. "Enquanto militante do partido, faz bem em aderir a um processo que é de reconhecimento e cadastramento dos militantes do partido. O partido está noutra fase. Nós aqui discutimos ideias e projetos”, disse.
Entretanto, sobre a crise político-institucional que a Guiné-Bissau vive há mais de dois anos, o antigo Presidente de Transição, Serifo Nhamadju, nomeado após o golpe que derrubou "Cadogo" em 2012, disse que "como qualquer guineense, tem um sentimento de preocupação, frustração e de tristeza. Almejámos um país sossegado, de paz e onde cada um possa dar o seu melhor”.
Em nome da justiça
Enquanto isso, a marcha de protesto convocada por familiares de políticos assassinados em 2009 não aconteceu nesta terça-feira (23.01). Agora, o protesto é aguardado para o dia de amanhã, em frente ao Ministério Público. Os organizadores pretendem exigir que se faça justiça pelos assassinatos cometidos há quase dez anos. E que a impunidade não prevaleça na Guiné-Bissau.
Carlos Gomes Júnior: próximo candidato às presidenciais?
Em carta divulgada em Bissau, capital do país, os familiares do ex-Presidente 'Nino' Vieira, do ex-chefe das Forças Armadas Tagme Na Waié e dos ex-governantes Hélder Proença, Baciro Dabó e Roberto Cacheu afirmam que os mortos "precisam que lhes seja feita justiça".
A missiva acusa ainda Carlos Gomes Júnior de ter fugido dos procedimentos judiciais em Portugal, indo residir em Cabo Verde, na sequência de uma alegada carta rogatória do Ministério Público guineense, enviada à justiça portuguesa, no intuito de o inquirir sobre os os crimes de sangue cometidos em Bissau.
"Carlos Gomes Júnior é um homem de mãos sujas de sangue do general João Bernardo 'Nino' Vieira, general Tagme Na Waié, major Baciro Dabó, Helder Proença, e Roberto Ferreira Cacheu", lê-se na carta dos familiares endereçada ao Procurador da República guineense.
Guiné-Bissau: O país onde nenhum Presidente terminou o mandato
Desde que se tornou independente, a Guiné-Bissau viu sentar na cadeira presidencial quase uma dúzia de Presidentes - incluindo interinos e governos de transição. Conheça todas as caras que passaram pelo comando do país.
Foto: DW/B. Darame
Luís de Almeida Cabral (1973-1980)
Luís de Almeida Cabral foi um dos fundadores do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e também o primeiro Presidente da Guiné-Bissau - em 1973/4. Luís Cabral ocupou o cargo até 1980, data em que foi deposto por um golpe de Estado militar. O antigo contabilista faleceu, em 2009, vítima de doença prolongada.
Foto: Bundesarchiv/Bild183-T0111-320/Glaunsinger
João Bernardo Vieira (1980/1994/2005)
Mais conhecido por “Nino” Vieira, este é o político que mais anos soma no poder da Guiné-Bissau. Filiado no PAIGC desde os 21 anos, João Bernardo Vieira tornou-se primeiro-ministro em 1978, tendo sido com este cargo que derrubou, através de um golpe de Estado, em 1980, o governo de Cabral. "Nino" ganhou as eleições no país em 1994 e, posteriormente, em 2005. Foi assassinado quatro anos mais tarde.
Foto: picture-alliance/dpa/L. I. Relvas
Carmen Pereira (1984)
Em 1984, altura em que ocupava a presidência da Assembleia Nacional Popular, Carmen Pereira assumiu o "comando" da Guiné-Bissau, no entanto, apenas por três dias. Carmen Pereira, que foi a primeira e única mulher na presidência deste país, foi ainda ministra de Estado para os Assuntos Sociais (1990/1) e Vice-Primeira-Ministra da Guiné-Bissau até 1992. Faleceu em junho de 2016.
Foto: casacomum.org/Arquivo Amílcar Cabral
Ansumane Mané (1999)
Nascido na Gâmbia, Ansumane Mané foi quem iniciou o levantamento militar que viria a resultar, em maio de 1999, na demissão de João Bernardo Vieira como Presidente da República. Ansumane Mané foi assassinado um ano depois.
Foto: picture-alliance/dpa
Kumba Ialá (2000)
Kumba Ialá chega, em 2000, à presidência da Guiné-Bissau depois de nas eleições de 1994 ter sido derrotado por João Bernardo Vieira. O fundador do Partido para a Renovação Social (PRS) tomou posse a 17 de fevereiro, no entanto, também não conseguiu levar o seu mandato até ao fim, tendo sido levado a cabo no país, a 14 de setembro de 2003, mais um golpe militar. Faleceu em 2014.
Foto: AP
Veríssimo Seabra (2003)
O responsável pela queda do governo de Kumba Ialá foi o general Veríssimo Correia Seabra, Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas. Filiado no PAIGC desde os 16 anos, Correia Seabra acusou Ialá de abuso de poder, prisões arbitrárias e fraude eleitoral no período de recenseamento. O general Veríssimo Correia Seabra viria a ser assassinado em outubro de 2004.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Bordalo
Henrique Rosa (2003)
Seguiu-se o governo civil provisório comandado por Henrique Rosa que vigorou de 28 de setembro de 2003 até 1 de outubro de 2005. O empresário, nascido em 1946, conduziu o país até às eleições presidenciais de 2005 que deram, mais uma vez, a vitória a “Nino” Vieira. O guineense faleceu, em 2013, aos 66 anos, no Hospital de São João, no Porto.
Foto: AP
Raimundo Pereira (2009/2012)
A 2 de março de 2009, dia da morte de Nino Vieira, o exército declarou Raimundo Pereira como Presidente da Assembleia Nacional do Povo da Guiné-Bissau. Raimundo Pereira viria a assumir de novo a presidência interina da Guiné-Bissau, a 9 de janeiro de 2012, aquando da morte de Malam Bacai Sanhá.
Foto: AP
Malam Bacai Sanhá (1999/2009)
Em julho de 2009, Bacai Sanhá foi eleito presidente da Guiné Bissau pelo PAIGC. No entanto, a saúde viria a passar-lhe uma rasteira, tendo falecido, em Paris, no inicio do ano de 2012. Depois de dirigir a Assembleia Nacional de 1994 a 1998, Bacai Sanhá ocupou também o cargo de Presidente interino do seu país de maio de 1999 a fevereiro de 2000.
Foto: dapd
Manuel Serifo Nhamadjo (2012)
Militante do PAIGC desde 1975, Serifo Nhamadjo assumiu o cargo de Presidente de transição a 11 de maio de 2012, depois do golpe de Estado levado a cabo a 12 de abril de 2012. Este período de transição terminou com as eleições de 2014, que foram vencidas por José Mário Vaz. A posse de “Jomav” como Presidente marcou o regresso do país à ordem constitucional no dia 26 de junho de 2014.