Carlos Saíde foi apresentado como cabeça-de-lista do MDM, partido que governa em Nampula desde 2013, às eleições intercalares de janeiro. Nomeação acontece quase dois meses depois do assassinato do edil Mahamudo Amurane.
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Carlos Saíde é a pessoa certa para assumir as rédeas de Nampula e dar continuidade à governação do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) na cidade, anunciou quinta-feira (30.11) o partido na apresentação pública do seu candidato às eleições intercalares de 24 de janeiro de 2018, no bairro de Namicopo.
O secretário-geral do MDM, Luís Boavida, disse que a eleição interna do candidato, que foi vereador da Urbanização no governo de Mahamudo Amurane - edil assassinado a 4 de outubro por desconhecidos - foi transparente. E pediu aos membros do MDM para ignorarem as divergências.
Luís Boavida não poupou críticas a quem acusa o MDM de ter ignorado o deputado Rachade Carvalho, um dos três candidatos mais votados, em troca do atual, por causa de alegados interesses das elites do partido.
"Se os [outros] dois são deputados da Assembleia da República, estão a representar bem o partido MDM lá e vão continuar. O colega [Carlos Saíde], que também tem condições de ser candidato e não está a representar o MDM em nenhum órgão, passa então a candidato", disse.
Além disso, justificou o secretário-geral, nestas eleições o edil vencedor só irá governar durante sete meses porque haverá outras eleições no próximo ano. "A Comissão Política considerou que se for uma pessoa que nunca trabalhou no Conselho Municipal vai precisar de três meses para se adaptar. Então, só governaria três meses", explicou.
Promessas de uma cidade limpa
O candidato Carlos Saíde, empresário de 47 anos, poupou nos discursos. Agradeceu apenas a confiança do partido e comprometeu-se, caso seja eleito, a trabalhar para devolver boas e melhores condições à cidade de Nampula.
Mais áreas arborizadas nos bairros, melhor abastecimento de água e criação e reabilitação das estradas são lgumas das promessas. "A minha aposta é colocar a cidade limpa e ter uma boa governação, dando oportunidades a todos os munícipes", declarou.
Carlos Saíde é o candidato do MDM em Nampula
O partido Ação de Movimento Unido para a Salvação Integral (AMUSI) escolheu o seu líder Mário Muquissince, de 54 anos, para candidato a presidente da terceira maior cidade moçambicana.
Numa eleição interna que contou com quatro candidatos, Muquissice foi o vencedor com 35 votos. Falando à imprensa na quinta-feira (30.11), o candidato também prometeu trabalhar e lutar para "manter a cidade limpa, dedicar atenção aos bairros, sobretudo na abertura de vias de acesso, e velar pela melhoria dos transportes urbanos, para além de de apoiar os jovens que vivem de pequenos negócios".
E-Povo na corrida
Também a coligação E-Povo, constituída pelo Partido Independente de Moçambique (PIMO), Partido Trabalhista (PT) e Partido da Reconciliação Nacional (PARENA), manifestou o seu interesse em concorrer às intercalares de Nampula. A sua aposta poderá ser em Sadreque João Mário, um dos antigos assessores de Castro Namuaca, edil da FRELIMO substituído por Mahamudo Amurane. Aguarda-se para breve a sua apresentação pública.
A Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) já escolheu Amisse Cololo, 58 anos, militante que até agora era diretor da Secretaria da Assembleia da República, enquanto o principal partido oposição, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), escolheu como candidato Paulo Vahanle, 57 anos, docente e deputado na Assembleia Nacional.
As riquezas minerais de Nampula
Em Moma, a província moçambicana de Nampula tem algumas das maiores reservas de areias pesadas do mundo, das quais se podem extrair minerais como a ilmenite, o zircão e o rutilo.
Foto: DW/Petra Aschoff
Cadeia de riquezas minerais
Em Moma, a província moçambicana de Nampula tem algumas das maiores reservas de areias pesadas do mundo, das quais se podem extrair minerais como a ilmenite, o zircão e o rutilo. As areias pesadas da região são parte de uma cadeia de dunas que se estendem desde o Quénia até Richards Bay, na África do Sul. Em Moma, exploram-se os bancos de areia de Namalote e as dunas de Topuito.
Foto: Petra Aschoff
Areias para diferentes indústrias
Unidade de lavagem de areias pesadas da mineradora irlandesa Kenmare, um dos chamados "megaprojetos" estrangeiros em Moçambique. A ilmenite, o zircão e o rutilo, extraídos das areias, são usados, respetivamente, na indústria de pigmentos, cerâmica e na produção de titânio. O rutilo, um óxido de titânio, é fundamental para a produção do titânio usado para a construção de aviões.
Foto: Petra Aschoff
Lucro após prejuízo
Os produtos são transportados através de um tapete rolante até um pontão no Oceano Índico. Segundo media moçambicanos, a extração de areias pesadas na mina de Topuito, em Moma, resultou num lucro de 39 milhões de dólares no primeiro semestre de 2012. No mesmo período de 2011, a empresa registou prejuízo de 14 milhões por causa da baixa dos preços devido à crise económica mundial.
Foto: Petra Aschoff
Problemas trabalhistas?
O semanário moçambicano Savana repercutiu, em outubro de 2011, a decisão do ministério do Trabalho de suspender 51 trabalhadores estrangeiros em situação ilegal na Kenmare. Segundo o Savana, na mesma altura, a Inspeção Geral do Trabalho descobriu que 120 trabalhadores indianos estavam para ser recrutados pela Kenmare. O recrutamento foi cancelado.
Foto: Petra Aschoff
Mudança de aldeia
Para poder explorar as areias pesadas em Nampula, entre 2007 e 2010 a mineradora irlandesa Kenmare transferiu as moradias de centenas de pessoas na localidade de Moma, no norte do país. A empresa prometeu acesso à água, casas melhores e postos de saúde. Na foto, nova escola primária para a população local.
Foto: Petra Aschoff
Acesso à água
Em 2011, o novo bairro de Mutittikoma, em Moma, ainda não tinha um poço d'água. Esta é transportada até o vilarejo com um camião cisterna. O acesso à água também é garantido com uma tubulação que a Kenmare instalou ali. Porém, como a mangueira só deixa correr um fio d'água, as mulheres que vêm buscá-la esperam no sol durante horas a fio para encher baldes e recipientes.
Foto: Petra Aschoff
Responsabilidade social
Uma casa construída pela Kenmare para a população desalojada por causa da exploração das areias pesadas em Moma. No início de setembro, Luísa Diogo, antiga primeira-ministra de Moçambique, disse que o país deve estar "muito atento" para que os grandes projetos de recursos naturais – como carvão e gás – beneficiem as populações. Ela também defende renegociação de contratos multinacionais.
Foto: Petra Aschoff
Em busca do brilho
Para além das areias pesadas, o solo da parte sul da província moçambicana de Nampula oferece mais riquezas. Na foto: garimpeiros à procura da pedra preciosa turmalina em Mogovolas. Os garimpeiros recebem cerca de um euro por dia para cavar buracos com vários metros de profundidade. As pedras são vendidas a um comerciante intermediário.
Foto: Petra Aschoff
Verde raro
As pedras de turmalina costumam ter várias cores. Uma das mais conhecidas é a verde. Mas existe outro verde precioso que se torna cada vez mais raro em Mogovolas: o da vegetação. Os buracos cavados pelos garimpeiros podem não ter pedras, mas permanecem após a escavação e sofrem erosão. As plantas não são plantadas novamente, apesar de a recomposição da vegetação ser prevista pela lei.