Carros de luxo para 500 deputados geram protestos na RDC
Lusa
23 de junho de 2021
A atribuição de um carro de luxo a cada um dos 500 deputados do Parlamento da República Democrática do Congo (RDC) pelo Presidente está a gerar onda de protestos no país. Organização ameaça levar o assunto a tribunal.
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O presidente da Assembleia Nacional, Christophe Mboso, explicou na semana passada que o "presente" aos deputados do Presidente Félix Tshisekedi era uma "materialização" do seu apelo à adesão à coligação presidencial União Sagrada da Nação, de acordo com uma gravação áudio amplamente partilhada nas redes sociais.
Confrontado com numerosos protestos de ativistas e opositores da sociedade civil, o gabinete da Assembleia Nacional multiplicou-se em comunicados, denunciando a "falta de maturidade política" dos autores da fuga da gravação, bem como a "má-fé por parte de alguns deputados mal-intencionados".
"A compra destes 500 jipes é corrupção aberta", disse Florimont Muteba, presidente da organização não-governamental Observatório das Despesas Públicas (ODEP), citado pela agência France-Presse.
"Ficámos enojados"
"Ficámos enojados, condenámos. Já passámos o tempo da emoção, é agora tempo de agir, de ir a tribunal", afirmou o responsável. Segundo Muteba, será preciso "saber se este dinheiro vem do orçamento de 2021, que não o prevê, ou do bolso do Presidente Tshisekedi, que teria acumulado em dois anos 27 milhões de dólares para fazer tal oferta".
A União Sagrada da Nação é a maioria criada pelo Presidente Tshisekedi em dezembro último, depois de ter derrubado a maioria formada em torno do seu antecessor Joseph Kabila, para fazer face às ameaças de dissolução do parlamento, após dois anos de cogestão do país pelos dois homens.
"Estes jipes não são dados aos deputados, de graça. Serão deduzidos dos seus emolumentos", disse Eliezer Thambwe, deputada pró-Tshisekedi, à agência de notícias francesa.
"Qualquer deputado que aceite o veículo oferecido pelo Presidente da República será considerado corrupto", advertiu o ativista congolês dos direitos humanos Jean-Claude Katende.
Antigo adversário, proclamado vencedor das controversas eleições presidenciais de dezembro de 2018 na RDCongo, Tshisekedi sucedeu a Joseph Kabila, que liderou o país de 2001 a 2019. Os dois homens governaram, no entanto, o país até dezembro de 2020, antes de Tshisekedi colocar fim à coligação.
Os aeroportos dos presidentes em África
São uma espécie de monumento auto-instituído: vários líderes africanos construíram os seus próprios aeroportos em locais remotos. Hoje, são estruturas esquecidas, paralisadas ou dão grandes prejuízos.
Foto: Getty Images/AFP/L. Bonaventure
O aeroporto esquecido de uma capital esquecida
Nos anos 60, o Presidente Félix Houphouët-Boigny decidiu fazer da sua cidade natal, Yamoussoukro, a capital da Costa do Marfim. Construiu avenidas imponentes, uma enorme igreja, vários edifícios e um aeroporto. Tanto a cidade como o Aeroporto Internacional de Yamoussoukro acabaram por cair na insignificância. Hoje em dia, o aeroporto está praticamente abandonado.
Foto: Getty Images/AFP/L. Bonaventure
Perdido na selva
Também Mobuto Sese Seko, ex-Presidente da RDC, se instalou com toda a pompa e circunstância na sua cidade natal, Gbadolite, com três palácios e edifícios representativos. Há também um aeroporto, rodeado por floresta tropical. Não há indústria nem turismo nas redondezas e a capital, Kinshasa, fica a 1400 quilómetros. Mobutu e a mulher gostavam de voar de Gbadolite para Paris – num Concorde alugado.
Foto: Getty Images/AFP/J. Wessels
O ditador com a sua própria pista de aterragem
Mobutu foi também recebido pelo ditador da vizinha República Centro-Africana, Jean-Bedel Bokassa (segundo à direita). Na residência de Bokassa, a cerca de 80 quilómetros de distância, havia também uma pista de aterragem para passageiros. Há muito que Bokassa morreu e a sua pista desintegra-se – tal como os seus palácios.
Foto: Getty Images/AFP/OFF
Boas-vindas a um convidado alemão
Mesmo antes de se tornar um aeroporto internacional - a mando do antigo Presidente Daniel Arap Moi - o aeródromo de Eldoret, no centro-oeste do Quénia, recebia o chanceler Helmut Kohl, em 1987. Eldoret é o centro económico dos Kalenjin – o grupo étnico do Presidente Moi. Apesar do nome, o aeroporto serve apenas para voos domésticos.
Foto: Imago Images/D. Bauer
O aeroporto inviável do ex-Presidente da Nigéria
O ex-Presidente da Nigéria, Umaru Yar'Adua, também converteu o aeroporto da sua cidade natal, Katsina, em aeroporto internacional durante o seu mandato (2007-2010). Mas o projeto preferido do antigo Presidente, que morreu em 2010, não é rentável. O Governo está a ponderar a entrada da autoridade aeronáutica nacional na equipa de gestão do aeroporto de Katsina.
Foto: Getty Images/AFP/P. Utomi Ekpei
Rumo a Chato?
A companhia aérea tanzaniana Precision Air poderá voar em breve para Chato, cidade natal do Presidente John Magufuli. O chefe de Estado quer expandir este aeroporto para impulsionar o turismo. Mas uma comissão parlamentar apela à renovação das infraestruturas já existentes em vez de novos projetos. Apenas 5 dos 58 aeroportos e pistas de aterragem do país contribuem para o PIB, dizem os deputados.