Caso das instruendas: Estado "não vai tolerar", diz Nyusi
19 de agosto de 2020O caso das instruendas da Escola Prática da Polícia de Matalane, na provincia de Maputo, que acusaram positivo no teste de gravidez polarizou as atenções da sociedade, esta quarta-feira (19.08), na cerimónia de encerramento do curso.
O Presidente Filipe Nyusi, que é igualmente Comandante em Chefe das Forças Armadas de Moçambique, afirmou no seu discurso que "para o Governo, este caso é sério e está a ser investigado ao detalhe ao nível ministerial e do Comando-Geral da Polícia da República de Moçambique."
Foi a primeira vez que o Presidente moçambicano reagiu publicamente ao caso.
O Presidente moçambicano sublinhou que "o Estado não deve nem vai tolerar situações como esta. A lei deverá ser cumprida e ela é igual para todos nós. Ninguém está acima da lei".
Rastreamento dos casos
Nyusi disse ainda que, após a direção da escola ter constatado a existência do caso, foram rastreadas todas as instruendas - tendo sido detetados 14 casos positivos de gravidez .
"A 15a instruenda grávida deu à luz durante os treinos, o que significava que era um caso importado," acrescentou.
Segundo Filipe Nyusi, citando dados preliminares em poder das autoridades, quatro das instruendas contraíram a gravidez na escola, não se sabendo se os autores são instrutores ou colegas.
Indicou que as outras dez contraíram a gravidez de parceiros estranhos à comunidade escolar.
"Decorrem inquéritos para aferir os contornos de cada um dos casos, procurando salvaguardar o estado psíquico e emocional das gestantes, porque elas merecem respeito humano," afirmou o Chefe de Estado.
"As investigações minuciosas deverão continuar até a responsabilização dos culpados," garantiu ainda Nyusi.
O Presidente Filipe Nyusi apelou "à sociedade para criar menos pânico e [colocar] mais foco nas soluções".
"A publicação de opiniões ainda sem base real para o julgamento correto pode concorrer para a estigmatização das jovens instruendas, podendo afetá-las psicologicamente de forma eterna," disse.
O Presidente Filipe Nyusi admitiu que este caso chama a atenção para a necessidade de se aprimorarem os mecanismos de seleção e verificação permanente dos candidatos e dos testes médicos e psicotécnicos da pre-seleção.
Silêncio ensurdecedor
A ativista social Benilde Mourana alerta para a situação das mulheres.
"Não há como não entrarmos em pânico. Eu não vou ficar segura sabendo que várias outras mulheres não estão seguras. Então, a qualquer momento, também corro o risco que as outras estão a correr. Hoje, estamos a falar de assédio. Mas depois, existem vários outros casos que põem a mulher em perigo - estamos a falar de casos de violação que acontecem em todas as idades," criticou.
Nas últimas semanas, várias organizações da sociedade civil vieram a público repudiar esta ocorrência, perante o mutismo das autoridades.
A ativista Benilde Mourana também critica.
"É um silêncio que nos assusta, é um silêncio que não nos inspira nenhum tipo de confiança enquanto mulheres, é um silêncio que não inspira também confiança enquanto mães, filhas, primas. Não inspira nenhum tipo de confiança para a segurança de uma mulher," concluiu.