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Jovens críticos do Governo na prisão sem acusação formal

3 de março de 2022

Jovens angolanos detidos depois dos atos de vandalismo durante a greve dos taxistas, a 10 de janeiro, continuam na prisão. Advogado de defesa diz que ainda não há acusação formal. E um deles está doente.

Greve dos taxistas a 10 de janeiro de 2022 em Luanda
Foto: B. Ndomba/DW

Luther Campos e "Tanaice Neutro" estão detidos desde 12 de janeiro, depois de a Televisão Pública de Angola os ter associado aos supostos autores da revolta popular que terminou com a destruição da sede do partido no poder, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), no distrito urbano do Benfica, em Luanda, durante a greve dos taxistas.

Muitos dos suspeitos julgados por supostamente participarem no ato de vandalismo foram absolvidos por falta de provas. Mas Gilson da Silva Moreira "Tanaice Neutro" continua detido na Comarca de Viana e Luther Campos está no Hospital Prisão de São Paulo, em Luanda.

"A medida de coação aplicada é a prisão preventiva, tanto para o Luther como para o Tanaice", esclarece o advogado Wilson de Almeida, que representa os dois ativistas.

O advogado pediu ao Tribunal de Luanda a fiscalização da medida de coação, que entende ser "incorreta". Segundo Wilson de Almeida, ainda nem há acusação formal contra os jovens: "É por esta razão que remetemos o requerimento ao juiz, que já está analisar o processo. Acreditamos que a qualquer momento o tribunal vai se pronunciar".

Um dos jovens está doente

Enquanto a defesa espera uma resposta, as famílias e amigos dos jovens preocupam-se com a sua situação na cadeia.

Simão Kativa, amigo de "Tanaice Neutro", diz que ele está doente há um ano e seis meses. Quando foi detido, estava a ser medicado e tinha consulta agendada em janeiro, no estrangeiro.

Luther Campos está no Hospital Prisão de São Paulo, em Luanda / Foto de arquivoFoto: DW/P. Borralho

"Pedimos a quem de direito que liberte os nossos manos porque o 'Tanaice' não está bem de saúde", apela.

Protesto no sábado

A associação cívica União dos Povos de Angola (UPA) solicitou uma audiência ao ministro do Interior para se inteirar sobre a "prisão ilegal' de dois críticos do Governo.

Mas a instituição não quer ouvir a UPA, disse à DW África o seu presidente, Pedrowski Teca. "Até agora, infelizmente, não obtivemos nenhuma resposta por parte do ministro do Interior. Houve, sim, tentativas de recusa da receção da nossa carta", acrescenta Teca.

O ativista deixa, por isso, um recado ao ministro do Interior, Eugénio Laborinho, e ao Presidente João Lourenço: "Ninguém está interessado em desestabilizar o país ou na não realização das eleições gerais deste ano. Mas, para isso, o MPLA deve também demonstrar que não está interessado em desestabilizar o país, começando por libertar os ativistas encarcerados injustamente sem culpa formada até agora".

Em solidariedade aos ativistas, foi convocada uma manifestação contra a prisão dos jovens. O protesto está marcado para sábado, 5 de março, em Luanda.

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