Ex-edil de Nampula foi assassinado a 4 de outubro de 2017, mas os autores do crime ainda são desconhecidos. Familiares de Mahamudo Amurane continuam à espera de um esclarecimento. E a justiça diz aguardar o processo.
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Cidadãos de Nampula, no norte de Moçambique, continuam indignados com a falta de esclarecimento do assassinato do então presidente do Conselho Municipal local, Mahamudo Amurane, no final da tarde do dia 4 de outubro de 2017.
Maria Moreno é uma das cidadãs que falou à DW. "Nós hoje [domingo, 4 de outubro] estamos a recordar essa data, um trágico acontecimento. Achamos estranho que ainda não se saiba quem foi o autor, mas às vezes a dor se mistura com a esperança (do esclarecimento) e a vida vai correndo", lamentou.
A entrevistada aponta o retrocesso na cidade como estando, em parte, relacionado com o assassinato bárbaro do edil Amurane. "Se não tivesse sido interrompido este sonho, realmente a cidade de Nampula estava numa rota de desenvolvimento muito acelerado, e isso era um exemplo não só para Moçambique, mas para toda a África Austral. O doutor Mahamudo Amurane costumava dizer que nós seríamos a melhor cidade da África Austral. E eu acredito que, sim, se o tivessem permitido chegar ao fim do [primeiro] mandato e repetir o mandato, como já eram os indicadores, certamente nós teríamos chegado aí", defendeu.
Protestos no adeus ao edil de Nampula
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Tribunal aguarda processo
As autoridades judiciais na província moçambicana de Nampula ainda não informaram quando é que os já constituídos arguidos do "caso Amurane" serão julgados. Contudo, asseguram que há trabalhos em curso para o efeito.
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Sem gravar entrevista, o juiz presidente do Tribunal Judicial da província de Nampula, Alberto José Assane, disse este domingo (04.10), durante as cerimónias dos acordos gerais de paz, que "o processo ainda não chegou ao tribunal, ainda está na procuradoria". "Por isso não podemos dar detalhes", avançou.
Entretanto, o jornalista e ativista social Juma Aiuba considera que não haverá desfecho favorável deste caso e que a culpa vai morrer solteira. "Casos deste tipo nunca são esclarecidos [em Moçambique]. Amurane foi mais uma vítima de um assassinato político, então esse tipo de crime normalmente são crimes organizados. A morte de Amurane está, também, na gaveta e faz parte daquele nosso arquivo de mortos não esclarecidos", disse.
Quem estaria por detrás desse crime?
Afinal quem estaria interessado na morte de Mahamudo Amurane? A DW perguntou a Juma Aiuba. "Em termos de autoria moral, qualquer um estaria interessado, seja a FRELIMO, RENAMO e MDM, mas, também, algum interesse empresarial podia ter encomendado a morte do Amurane. Mas, o simples facto de o Estado não conseguir gerir, trazer à tona e responsabilizar os criminosos, a culpa cai para o Estado", respondeu.
A reportagem tentou por várias vezes contactar a família de Mahamudo Amurane, desde a viúva, irmãos, incluindo sobrinhos, para obter algum comentário sobre o nível de satisfação relacionado com o processo de investigação, mas ninguém quis gravar entrevista. Mas, mesmo assim, os familiares dizem que ainda continuam a aguardar pela investigação e responsabilização do autor do crime.
E para marcar o terceiro ano após a morte do primeiro presidente do Município de Nampula saído de um partido da oposição, os familiares e amigos efetuaram este domingo (04.10) uma deposição de coroas de flores junto ao túmulo de Amurane.
Moçambique: Assassinato de figuras incómodas é uma moda que veio para ficar
O preço de fazer valer a verdade, justiça, conhecimento ou até posições diferentes costuma ser a vida em Moçambique. A RENAMO é prova disso, no pico da tensão com o Governo da FRELIMO perdeu dezenas de membros.
Foto: BilderBox
Mahamudo Amurane: Silenciada uma voz contra corrupção e má governação
O edil da cidade de Nampula foi morto a tiros no dia 4 de outubro de 2017. Insurgia-se contra a má gestão da coisa pública e corrupção no seu Município. Foi eleito para o cargo de edil através do partido MDM. Embora mais de sessenta pessoas já estejam a ser ouvidas pela justiça não se conhecem os autores do crime.
Foto: DW/Nelson Carvalho Miguel
Jeremias Pondeca: Uma voz forte nas negociações de paz que foi emudecida
Foi alvejado mortalmente a tiro por homens desconhecidos no dia 8 de setembro de 2016 em Maputo quando fazia os seus exercícios matinais. O assassinato aconteceu numa altura delicada das negociações de paz. Pondeca era membro da Comissão Mista do diálogo de paz, membro do Conselho de Estado, membro sénior da RENAMO e antigo parlamentar. Até hoje a polícia não encontrou os autores do crime.
Foto: DW/L. Matias
Manuel Bissopo: O homem da RENAMO que escapou por um triz
No dia 4 de janeiro de 2016 foi baleado depois de uma conferência de imprensa do seu partido na Beira. Bissopo tinha acabado de denunciar alegados raptos e assassinatos de membros do seu partido e preparava-se para se deslocar para uma reunião da força de oposição quando foi baleado. A polícia moçambicana até hoje não encontrou os atiradores.
Foto: Nelson Carvalho
José Manuel: Uma das caras da ala militar da RENAMO que se apagou
Em abril de 2016 este membro do Conselho Nacional de Defesa e Segurança em representação da RENAMO e membro da ala militar do principal partido da oposição foi morto a tiro por desconhecidos à saída do aeroporto internacional da Beira. A questão militar é um dos pontos sensíveis nas negociações de paz. Os assassinos continuam a monte.
Foto: DW/J. Beck
Marcelino Vilanculos: Assassinado quando investigava raptos
Era procurador foi baleado no dia 11 de abril de 2016 à entrada da sua casa, na Matola. Marcelino Vilanculos investigava casos de rapto de empresários que agitavam o país na altura. O julgamento deste assassinato começou em outubro de 2017.
Foto: picture-alliance/Ulrich Baumgarten
Gilles Cistac: A morte foi preço pelo conhecimento divulgado?
O especialista em assuntos constitucionais de Moçambique foi baleado por desconhecidos no dia 3 de março de 2015 na capital Maputo. O assassinato aconteceu após uma declaração que fortaleceu a posição da RENAMO de gestão autónoma na sua querela com o Governo da FRELIMO. Volvidos mais de dois anos a sua morte continua por esclarecer.
Foto: A Verdade
Dinis Silica: Assassinado em circunstâncias estranhas
O juiz Dinis Silica também foi morto a tiro por desconhecidos, em 2014, em plena luz do dia, quando conduzia o seu carro na capital moçambicana. Na altura transportava uma avultada quantia de dinheiro, cuja proveniência é desconhecida. O juiz da Secção Criminal do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo investigava igualmente casos de raptos. Os assassinos continuam a monte.
Foto: picture-alliance/dpa/U. Deck
Siba Siba Macuacua: Uma morte brutal em nome da verdade
O economista do Banco de Moçambique foi atirado de um dos andares do prédio sede do Banco Austral no dia 11 de agosto de 2001. Na altura investigava um caso de corrupção na gestão do Banco Austral. Siba Siba trabalhava na recuperação da dívida de milhões de meticais, resultante da má gestão do banco. Embora tenha sido aberta uma investigação sobre esta morte ainda não há esclarecimentos até hoje.
Foto: DW/M. Sampaio
Carlos Cardoso: O começo da onda de assassinatos
Considerado o símbolo do jornalismo investigativo em Moçambique, Carlos Cardoso foi assassinado a tiros a 22 de novembro de 2000. Na altura investigava a maior fraude bancária de Moçambique. O seu assassinato foi interpretado como um aviso claro aos jornalistas moçambicanos para que não interferissem nos interesses dos poderosos. Devido a pressões internacionais o caso chegou a justiça.