Caso Mahamudo Amurane: Processo anda para trás
15 de agosto de 2019O "Caso Mahamudo Amurane" (antigo edil da cidade moçambicana de Nampula assassinado em 2017) pode não ser julgado este ano, alegadamente, por falta de provas suficientes que incriminam os dois e únicos arguidos até aqui acusados, pelo Ministério Publico (MP), no envolvimento no assassinato. Para o efeito, a juíza da sexta secção do Tribunal Judicial da Província de Nampula devolveu ao Ministério Público o processo por entender que as investigações feitas por aquela entidade não provam o envolvimento material assim como moral dos dois arguidos.
Falta de provas
Num documento emitido pela juíza da sexta secção do Tribunal Judicial da Província, com seis páginas, datado de 8 de agosto corrente, que o nosso correspondente teve acesso, diz o que passamos a citar.‘‘O facto de os co-arguidos Saíde Aly Abdulremane Abdala (antigo vereador) e Zainal Abdina Abdul Satar (empresário de construção civil), terem respondido que o atirador veio do lado frontal e efetuou os disparos mesmos em frente e bem assim, o facto de ao se fazer a reconstituição dos factos ter-se demonstrado que os co-arguidos Saíde Aly Abdulremane Abdala e Zainal Abdina Abdul Satar Daúdo, eram os únicos que se encontravam próximo da vítima e, por sinal, a mesma distância a que o projétil foi disparado, tais factos, no nosso entender, não podem constituir elementos suficientes de prova para que os arguidos sejam considerados os autores do crime'', refere o documento.
Entretanto, volvidos aproximadamente dois anos, a família do já falecido edil acredita que o caso será arquivado, mas ainda insiste no pedido de esclarecimento.
Selemane Amurane é sobrinho do falecido edil, não alimenta muitas esperanças.
"Se o Ministério Público e o SERNIC (Serviço Nacional de Investigação Criminal) não conseguiram durante este tempo, como é possível conseguir depois mais outro tempo? Onde é que vão achar (as provas)? Nós perdemos um grande homem. É o munícipe, a família e todo Moçambique que já perdeu um grande senhor'', lamentou Selemane.
Beco sem saídaMomade Ussene é advogado de profissão acha que o processo teve um andamento normal e disse à DW África o seguinte.
"Em termos técnicos, considero um despacho normal, porque a lei prevê isso que se o tribunal constatar deficiências na instrução dum processo, principalmente na fase de instrução preparatória uma vez que a instrução contraditória foi feita pelo tribunal, mas se nas duas fases de instrução do processo o tribunal concluir que há deficiências na produção de provas a lei prevê que se tome essa decisão", afirmou Momade Ussene.
O advogado mostrou-se contudo indignado com as autoridades que investigaram o caso.
"Agora, numa outra situação tendo em conta a nossa realidade, estou preocupado e considero esta situação revoltante porque se o SERNIC passou dois anos e não conseguiu produzir melhores provas não me parece que com essa decisão do tribunal possa aparecer provas que o tribunal vai considerar melhores", constatou Ussene.
A DW África contactou a porta-voz da Procuradoria Provincial de Nampula, órgão que representa o Ministério Público, mas disse que não podia pronunciar-se a respeito por estar fora da província e por não ter visto o documento do tribunal. Mas segundo o jornal moçambicano "Carta de Moçambique" que cita fontes da Procuradoria, sem revelar quais, o Ministério Público não concorda e poderá recorrer da decisão do tribunal.
Também tentámos falar com os advogados dos dois arguidos para obter uma reação sobre o assunto, mas estes mostraram-se indisponíveis até ao fecho desta reportagem.