Manuel Chang, ex-ministro das Finanças de Moçambique, acusado de crimes financeiros, está detido na África do Sul. Ex-governantes angolanos poderão ser também alvo de mandados de captura internacional?
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Em declarações à DW África, o jornalista angolano Ilídio Manuel não acredita na possibilidade de mandados de captura internacionais serem emitidos contra os atuais e ex-governantes angolanos suspeitos de corrupção e branqueamento de capitais.
"Eu não acho que esse caso se aplique à situação angolana, uma vez que se trata de uma detenção a coberto de um mandado internacional e, nesses casos, pelo que julgo saber, existe um acordo entre os países. Os países têm que ser signatários para poderem executar os mandados de captura. Não sei se Angola tem esse tipo de acordo com países, como por exemplo a Suíça onde uma boa parte do dinheiro angolano foi parar".Mas de uma coisa Manuel tem a certeza: a detenção de Manuel Chang revela que os Ministérios Públicos de Angola e de Moçambique quase nada fazem na luta contra a corrupção e os seus cidadãos perderam a confiança na justiça.
Punir a corrupção
"Tanto em Angola como em Moçambique há um sentimento generalizado de que a Procuradoria Geral da República (PGR) não tem feito nenhum trabalho no sentido de punir a corrupção. Por outro lado, isso também cria um sentimento de medo e receio entre as elites governativas e políticas dos dois países que estiveram envolvidos em atos de corrupção", disse Ilídio Manuel.
A DW África também falou com o advogado Albano Pedro. O jurista explicou as circunstâncias em que pode ocorrer um mandado de captura."Quando três notificações são regularmente feitas e ainda assim a pessoa visada não se apresente às autoridades e não haja uma justificação plausível pode ocorrer o mandado de captura".
Caso Manuel Chang: também mandado de captura para ex-governantes angolanos?
O jurista lembra o processo "Operação Fizz" em que o ex-vice-Presidente angolano Manuel Vicente esteve envolvido. Vicente foi acusado de ter corrompido o antigo procurador português Orlando Figueira condenado pelo facto em Lisboa a seis anos e oito meses de prisão. O ex-patrão da petrolífera angolana Sonangol aguarda julgamento em Luanda.
Neste caso, diz Albano Pedro, mesmo que "o processo não tivesse sido transferido para Angola, Manuel Vicente não teria sido extraditado para ser julgado e possível cumprimento da pena na cadeia portuguesa". A Constituição angolana proíbe a extradição.
"Angola de maneira nenhuma pode entregar o seu próprio cidadão à justiça estrangeira. Há proibição deste tipo de extradição”.
África em 2018: Entre a esperança e o medo
Terrorismo em Moçambique e no Mali, combate à corrupção em Angola e na África do Sul, paz entre a Etiópia e a Eritreia, Camarões e RDC em crise. 2018 foi um ano turbulento em África. Uma retrospetiva em imagens.
Foto: Privat
Combate à corrupção e desigualdade social na África do Sul
No início do ano, o Presidente sul-africano, Jacob Zuma, cede à pressão do Congresso Nacional Africano (ANC) e abandona o cargo, após nove anos no poder. Tem de responder em tribunal por corrupção, lavagem de dinheiro e fraude. O seu sucessor, Cyril Ramaphosa, lança um plano de reforma agrária para lutar contra as desigualdades sociais no país.
Foto: Reuters/N. Bothma
Reconciliação no Quénia
Em março, o Presidente do Quénia, Uhuru Kenyatta, e o líder da oposição, Raila Odinga, chegam a acordo para o fim da crise política. A oposição tinha boicotado a repetição das eleições do ano anterior, devido a suspeitas de manipulação. Odinga chega a "tomar posse" como "Presidente do povo", mas os líderes decidem pôr as diferenças de lado para dar início ao "processo de construção do Quénia".
Foto: Reuters/T. Mukoya
Sociedade civil sob pressão na Tanzânia
O Presidente John Magufuli torna-se cada vez mais autoritário e a sociedade civil da Tanzânia enfrenta inúmeras restrições. As mulheres grávidas são proibidas de ir à escola e os homossexuais são cada vez mais reprimidos. No final do ano, várias organizações internacionais suspendem os apoios financeiros ao desenvolvimento do país, exigindo ao Presidente que respeite os direitos humanos.
Foto: DW/V. Natalis
Mais de 20 anos depois, paz entre Etiópia e Eritreia
A companhia aérea "Ethiopian Airlines" chama-lhe "pássaro da paz": em julho, um avião parte de Addis Abeba para Asmara. É o primeiro voo direto entre os dois países vizinhos, antigos rivais. Famílias separadas há anos podem finalmente abraçar-se com o início do processo de reconciliação entre a Etiópia e a Eritreia, pela mão do novo primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed.
Foto: Ethiopian Broadcasting Corporation
O fim do nepotismo em Angola?
O Presidente angolano, João Lourenço, combate o nepotismo no país. Em setembro, a luta atinge José Filomeno dos Santos, Zenú: o filho do ex-Presidente José Eduardo dos Santos é detido sob acusações de corrupção. A irmã, Isabel dos Santos, já tinha sido exonerada no ano anterior da presidência do conselho de administração da petrolífera estatal Sonangol.
Foto: Grayling
RDC: Joseph Kabila de saída
Após muitos avanços e recuos, o Presidente da República Democrática do Congo anuncia, finalmente, que não vai candidatar-se às eleições de dezembro. O "delfim" do chefe de Estado é o ex-ministro do Interior, Emmanuel Ramazani Shadary. Figuras proeminentes da oposição como Jean-Pierre Bemba e Moïse Katumbi são impedidos de entrar na corrida. E a oposição continua dividida.
Foto: Getty Images/AFP/J.D. Kannah
Extremismo islâmico continua a ameaçar o Mali
A situação de segurança no Mali mantém-se frágil, apesar da presença de tropas internacionais, como os soldados do Exército alemão em missão de treino, na foto. Nas presidenciais de agosto, após ameaças de radicais islâmicos, várias centenas de um total de 23 mil assembleias de voto são encerradas. Após alguns protestos da oposição, o Presidente Ibrahim Boubacar Keïta é empossado novamente.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Gambarini
Nobel da paz para Nadia Murad e Denis Mukwege
A defensora dos direitos humanos iraquiana e o médico congolês dedicam a vida à luta contra a violência sexual como arma de guerra. O ginecologista Denis Mukwege trata mulheres vítimas de violência sexual no hospital de Parzi, que fundou no leste da República Democrática do Congo.
Segundo a Amnistia Internacional, 400 pessoas morreram este ano no conflito entre o Governo dos Camarões e separatistas. As escolas estiveram várias vezes de portas fechadas e o mesmo aconteceu com muitas assembleias de voto nas eleições de outubro. Apenas 53% dos camaroneses conseguiram votar. Paul Byia foi eleito para um oitavo mandato na Presidência.
Foto: DW/H. Fotso
Moçambique: Terror em Cabo Delgado
Homens armados desconhecidos atacam esquadras, incendeiam casas e veículos e disparam contra a população na província nortenha. Os atacantes serão maioritariamente muçulmanos, mas as autoridades rejeitam uma ligação entre os ataques em Cabo Delgado e grupos radicais islâmicos. Em outubro, mais de 200 suspeitos de terrorismo são detidos. Onda de violência já fez 100 vítimas mortais.
Foto: Privat
Da Alemanha para África: Revisão das parcerias
Na cimeira de Berlim, em outubro, faz-se um balanço do programa "Compact with Africa" de cooperação alemã com o continente africano. O número de empresas alemãs a investir em África cresce a um ritmo lento. A chanceler Angela Merkel - na foto, entre o Presidente do Ruanda Paul Kagame e Cyril Ramaphosa, da África do Sul - anuncia um novo fundo de investimento de mil milhões de euros.