Os casos de malária continuam a aumentar no Bengo. Nos últimos cinco meses, 200 pessoas morreram vítimas da doença. Atualmente não há camas disponíveis para internamento nas unidades sanitárias da província angolana.
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Há pacientes que estão a ser obrigados a partilhar a mesma cama porque já não há camas disponíveis para internamento nas unidades sanitárias do Bengo, confirmou à DW o titular da saúde na província, Manuel Filipe. "Chegamos a ter, por exemplo, camas ou colchões nos corredores tendo em conta o número de doentes que acorreram aos hospitais", conta.
De janeiro a maio deste ano, foram registados quase 130 mil casos de malária na província. Para contrapor a situação, deverão ser realizadas campanhas de fumigação e consultas médicas em locais públicos, avança o diretor do Gabinete Provincial da Saúde.
Mas a grande preocupação de Manuel Filipe é a falta de medicamentos. "Esse stock aqui não vai demorar nada, pode fazer uma semana e esgota logo. Para seis municípios, isso é insignificante, tendo em conta o número de pessoas que vem de outras províncias", destaca. Segundo o responsável, no Bengo, em cada mil habitantes, 70 estão com malária.
O jovem Gomes António foi acompanhar um parente ao hospital e não gostou do que viu. "Há pessoas que estão lá desde as seis horas, estão só a ser atendidos às 17 e já são 18 horas. Está mesmo mal", relata.
Angola: Combate à malária ignorado devido à Covid-19
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Dez anos de espera
Nas diferentes unidades sanitárias da província trabalham cerca de 2.300 profissionais no setor da saúde. Mas cerca de 500 eventuais funcionários aguardam há 10 anos por enquadramento na função pública.
Enquanto esse momento não chega, um colaborador que falou sob anonimato diz que só resta aguardar. "Aguardando, porque garantias têm surgido mas sem um horizonte temporal, tem sido muito duro", diz.
Nos últimos dez anos, já se realizaram dois concursos públicos de admissão neste setor, mas os colaboradores não foram contratados. Enquanto isso, as dificuldades nas famílias vão aumentando, como relata outro trabalhador que também aguarda pela resolução do caso.
"Não tem sido nada fácil. Conforme vimos, a cesta básica, com trinta mil kwanzas, não é nada, não serve mesmo para suprir nas necessidades da família. Mas vamos esperar", conta.
Recentemente, a governadora do Bengo, Mara Quiosa, fez saber que este dossier está já na posse do Ministério da Saúde. "Uma outra necessidade tem a ver com a regularização da situação dos 552 funcionários eventuais, o Ministério também já fez esta solicitação, já remetemos este processo", assegurou.
Angola: Cemitério de Caxito transformado em bairro
Populares constroem por cima das campas sob olhar “silencioso” das autoridades. Em Caxito, o cemitério do Bucula está a ser transformado numa zona habitacional. As pessoas dizem já estar habituadas a conviver com mortos.
Foto: António Ambrosio/DW
Cemitério do Bucula
Populares invadem cemitérios e constroem por cima das campas sob olhar “silencioso” das autoridades. Em Caxito, por exemplo, o cemitério do Bucula está a ser transformado em zona habitacional. Os populares dizem não ter onde construir e avançam já estar acostumados a conviver com os mortos.
Foto: António Ambrosio/DW
Campas degradadas
No cemitério do Bucula as campas estão em estado avançado de degradação. Alguns familiares visitam periodicamente o local de sepultamento do seu ente querido, cuidando, desta feita, da campa. Outros deslocam-se ao campo santo apenas por ocasião do Dia dos Finados. E outros ainda já não se importam com o estado da campa em que jazem os restos mortais do parente.
Foto: António Ambrosio/DW
Campas desaparecidas
O tempo e a chuva aceleram a degradação da campa, que acaba por quase desaparecer completamente.
Foto: António Ambrosio/DW
Campa no capim
Na época das chuvas, o cemitério é transformado num autêntico matagal. O capim que cresce por força da chuva encobre as campas e força o seu desaparecimento. O que motiva os populares a limpar a zona e a construir as suas casas.
Foto: António Ambrosio/DW
Posto policial entre cemitérios
De um lado está um “considerado” cemitério familiar. Do outro lado está o cemitério do Bucula. Esta é a Estrada Nacional 100, no sentido Caxito – Mbanza Congo. Bem ao lado está um posto policial, o controlo do Bucula onde pelo menos dois agentes garantem a segurança da zona.
Foto: António Ambrosio/DW
O bairro do cemitério
O crescimento da população tem forçado o surgimento de novas zonas habitacionais, quer de forma legal, quer ilegal. Há alguns anos, populares vindo de zonas incertas, “aterraram” e começaram a construir moradias de chapa, quebrando barreiras e ignorando superstições.
Foto: António Ambrosio/DW
De casebre à casa definitiva
O sossego da zona está a levar os populares a instalarem-se permanentemente. Muitos já constroem residências com material sofisticado.
Foto: António Ambrosio/DW
Casebres
Inicialmente, as casas eram assim: feitas somente com chapas, e conhecidas por “casotas”. A dona, Maria Paulo, com os seus quatro filhos, disse à DW África, que nos primeiros dias no novo bairro sonhava com mortos. Mas agora isso já não acontece. Maria Paulo diz que é melhor viver no cemitério do que não ter casa.
Foto: António Ambrosio/DW
As campas visíveis
Na estação seca, as campas ficam claramente visíveis. Quem passa pela EN100 consegue ver os a mistura de casas e seputluras.
Foto: António Ambrosio/DW
Funerais suspensos
Com o surgimento de outros cemitérios oficiais, como Sumba Futa, nas Mabubas, e Sassa Cária, na zona com mesmo nome, tal como Bucula vários cemitérios comunitários viram os enterros suspensos. As autoridades justificam a medida com a falta de condições mínimas para a realização de enterros.
Foto: António Ambrosio/DW
O bairro vai continuar?
Uma fonte ligada à Administração Municipal do Dande avançou à DW África que o órgão estatal analisa a situação e pretende tomar uma decisão que não afete negativamente a população que reside no cemitério. Até à data ainda não há decisão.