CDU festeja quarto mandato de Merkel, mas AfD preocupa
Cristiane Vieira Teixeira (Berlim)
24 de setembro de 2017
Na central da CDU, muito se ouviu a frase: "Esperávamos mais". Ainda assim, apoiadores do partido de Merkel comemoraram os resultados e especulavam sobre o novo Governo. Críticas foram para a entrada da AfD no Bundestag.
Publicidade
A chanceler alemã, Angela Merkel, foi recebida com aplausos na central de seu partido, a União Democrata-Cristã (CDU), em Berlim, na noite deste domingo (24.09). Ela subiu ao palco acompanhada por uma comitiva de políticos de topo da Alemanha – entre os quais, a ministra da Defesa, Ursula von der Leyen.
Merkel fez um discurso sucinto, em que comemorou os quase 33% de votos que os dois partidos da democracia cristã (CDU/CSU) conquistaram segundo as projeções. Uma perda de aproximadamente 9 pontos percentuais e pior resultado desde 1949. Entretanto, Merkel também falou dos desafios que o novo Governo irá enfrentar – nomeadamente a entrada do partido populista de direita, Alternativa para a Alemanha (AfD), no Parlamento alemão.
"[Era] tudo, menos óbvio, que nos tornamos o partido mais forte [no Parlamento]. E, naturalmente, temos uma grande tarefa pela frente, que é a entrada da AfD [Alternativa para a Alemanha] no Bundestag alemão. E vamos fazer uma análise completa, porque queremos recuperar os eleitores e as eleitoras da AfD – resolvendo problemas, absorvendo suas preocupações, também os seus medos, em parte, mas sobretudo por meio de uma boa política", declarou a chanceler alemã diante de jornalistas de todos os cantos do mundo e partidários da CDU.
O político alemão Elmar Brok, membro do Parlamento Europeu, estava otimista com o resultado alcançado pela CDU.
"Temos um claro mandato de Governo. A senhora Merkel [eleita] quatro vezes consecutivas, já é sensacional. Temos 13 pontos percentuais a mais que o segundo partido mais votado, por isso a formação de um Governo contra nós não é possível. Isso não é tão bom como há quatro anos, mas semelhante a 2005 e 2009", avaliou.
"Agora temos que levar este país adiante com uma nova coligação – com os Liberais e Os Verdes, possivelmente. E deixar claro que o nacionalismo sempre significou uma catástrofe para a Alemanha", acrescentou.
A AfD angariou cerca de 13% dos votos, segundo as projeções. Torna-se, assim, a terceira maior força no Bundestag.
Brok mostrou-se incomodado com a entrada da AfD no Parlamento. "Temos 87% dos parlamentares que não receberam votos dos nacionalistas no Bundestag. Não há motivo para agitação. Temos que combatê-los, mas a política alemã não vai mudar por conta disso,” defendeu Elmar Brok.
Expetativas para o novo Governo
O segundo maior partido do Parlamento alemão será, novamente, o Partido Social Democrata (SPD), atualmente parceiro do Governo, que obteve cerca de 21% dos votos nessas eleições. Mas o líder dos sociais-democratas, Martin Schulz, descartou uma participação no novo Governo.
Jan Tielisch, membro da CDU, está confiante no sucesso de um Governo que inclua também o Partido Democrático Liberal (FDP), que obteve 11% dos votos, e Os Verdes, que angariaram 9%.
Reacoes CDU - MP3-Stereo
"Acho até que pode funcionar muito bem. Grandes coligações devem existir apenas por um determinado tempo e nunca devem ser uma solução duradoura numa democracia, porque sempre precisamos de uma oposição forte. Por isso, acho que uma coligação entre a CDU/CSU, Os Verdes e o FDP é uma possibilidade muito boa para os próximos quatro anos", considerou.
Benedict Schulz, de 21 anos, trabalhou na campanha da CDU. Como muitos outros, disse à nossa reportagem que esperava que seu partido conquistasse um percentual maior de votos. Ainda assim, comemorou o resultado.
"Temos ainda um resultado forte. A CDU é a maior força [no Bundestag]. Chegamos numa situação em que, sem nós, nenhum Governo pode ser formado e é deste ponto de partida que temos que trabalhar", opinou.
Apesar das expetativas apontarem para a chamada "Coligação Jamaica", entre a CDU/CSU, o FDP e Os Verdes, a formação do novo Governo alemão ainda deverá levar algumas semanas para se confirmar.
Chefes de Governo da Alemanha: de Adenauer a Merkel
Desde 1949, a Alemanha teve oito chanceleres: sete homens e uma mulher. A chanceler atual, Angela Merkel, conseguiu um quarto mandato nas eleições legislativas de setembro de 2017.
Foto: picture-alliance-dpa/O. Dietze
Konrad Adenauer (CDU), 1949-1963
A eleição de Konrad Adenauer do partido democrata-cristão CDU como primeiro chefe de Governo da Alemanha, em 15 de setembro de 1949, marcou o início de um longo processo de reestruturação política no país. Reeleito em 1953, 1957 e 1961, renunciou ao cargo apenas aos 87 anos de idade, em 1963. Fortaleceu a aliança com os Estados Unidos da América. Na foto: no seu escritório em Bona.
Foto: picture-alliance/akg-images
Ludwig Erhard (CDU), 1963-1966
O segundo chanceler da Alemanha também pertenceu à CDU, mas esteve apenas três anos no Governo. Erhard renunciou devido ao rompimento da coligação com o partido liberal FDP. Mesmo assim, participou de forma ativa da reforma monetária alemã do pós-guerra. O fumador convicto ficou famoso como "pai" da economia social de mercado ("Soziale Marktwirtschaft") e do milagre económico alemão.
Foto: picture-alliance/dpa
Kurt Georg Kiesinger (CDU), 1966-1969
Foi eleito por uma grande coligação dos dois partidos CDU e SPD (de esquerda). O seu Governo teve que combater uma crise económica. Kiesinger foi duramente criticado pelo seu passado como membro ativo do partido nacional-socialista NSDAP durante a ditadura fascista na Alemanha. Com a ausência de uma oposição forte no Parlamento, formou-se em 1968 um movimento de protesto estudantil na Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa
Willy Brandt (SPD), 1969-1974
A onda de protestos teve reflexos nas eleições: Willy Brandt tornou-se no primeiro chanceler social-democrata no pós-guerra. Melhorou as relações com os países comunistas do leste. Durante uma visita à Polónia, ajoelhou-se no monumento pelas vítimas do nazismo no Gueto de Varsóvia. Gesto que ficou famoso como pedido de desculpas. Renunciou ao cargo em consequência de um caso de espionagem.
Foto: picture-alliance/dpa
Helmut Schmidt (SPD), 1974-1982
Após a renúncia de Brandt, Helmut Schmidt prestou juramento como chanceler. O social-democrata teve de combater o terrorismo do grupo extremista de esquerda RAF. Negou negociar com os terroristas alemães. Enfrentou a oposição por causa do estacionamento de mísseis nucleares dos EUA na Alemanha. Depois da saída do Governo do parceiro FDP (liberais), perdeu um voto de confiança no Parlamento.
Foto: picture-alliance/dpa
Helmut Kohl (CDU), 1982-1998
Helmut Kohl formou uma nova coligação centro-direita com os liberais. Ficou 16 anos no poder, um recorde. Ficou famoso pela sua teimosia e por não gostar de reformas. Depois da queda do Muro de Berlim, Kohl consegui reunificar as duas Alemanhas, a RFA ocidental e a RDA oriental. Ficou conhecido como "chanceler da reunificação". T ambém é lembrado pelo seu empenho na construção da União Europeia.
Foto: imago/imagebroker
Gerhard Schröder (SPD), 1998-2005
Depois de quatro mandatos de Kohl, o desejo de mudança aumentou. Gerhard Schröder foi eleito primeiro chanceler de uma coligação de esquerda entre o SPD e os Verdes. Durante o seu Governo, o exército alemão, Bundeswehr, teve as primeiras missões no estrangeiro com a participação na guerra no Afeganistão. Reduziu os subsídios sociais, medida que foi criticada dentro do seu partido social-democrata.
Foto: picture-alliance/dpa
Angela Merkel (CDU), desde 2005
Em 2005, Merkel é eleita como primeira mulher na chefia do Governo alemão. Durante o primeiro e terceiro mandato, governou numa grande coligação com o SPD, no segundo mandato numa coligação de centro-direita com os liberais do FDP. Merkel é conhecida pelo estilo pragmático de liderança. Durante a crise financeira, assumiu um papel de liderança na UE. Em 2017, conseguiu o seu quarto mandato.