CEDEAO anuncia plano de mil milhões contra o terrorismo
Lusa | AFP | mjp
15 de setembro de 2019
A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, alargada à Mauritânia e ao Chade, anunciou um plano de ação 2020-2024, no valor de mil milhões de dólares, de luta contra o terrorismo islâmico.
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No decorrer da cimeira extraordinária da CEDEAO, no Burkina Faso, a comunidade anunciou no sábado (14.09) que decidiu "mobilizar recursos financeiros até mil milhões de dólares [cerca de 900 milhões de euros] para a luta contra o terrorismo", disse o Presidente do Níger, Mahamadou Issoufou.
O plano e o respetivo orçamento serão apresentados em dezembro, na cimeira ordinária da organização, mas o dinheiro vai ser usado principalmente para "fortalecer as capacidades operacionais" dos exércitos nacionais, bem como as forças conjuntas, "como o G5 Sahel ou a Força Conjunta Multinacional da Bacia do Lago Chade".
A luta contra o terrorismo islâmico na região tem sido dificultada pela falta de fundos. A força militar conjunta do G5 Sahel foi criada em 2014 para resolver o problema, com o apoio de França. Desde julho de 2017 que reúne tropas do Burkina Faso, Chade, Mali, Mauritânia e Níger numa tentativa de travar os grupos radicais islâmicos. Mas a falta de financiamento, treino e equipamentos limita o seu trabalho e os seus números. Até agora, a força conta com quatro mil soldados, quando estavam inicialmente previstos cinco mil.
"A [força conjunta] G5 está longe de estar morta. O comunicado final da cimeira revela o apoio que existe no seio da CEDEAO", disse, no entanto, Mahamdou Issoufou, rejeitando alegações de ineficácia.
Uma crise sem precedentes
No arranque da cimeira, o presidente da comissão da CEDEAO, Jean-Claude Brou, lembrou as crescentes perdas humanas, políticas e económicas dos ataques terroristas islâmicos: "2.200 ataques nos últimos quatro anos, 11.500 mortos, milhares de feridos...milhões de deslocados e atividade económica foi muito afetada", afirmou.
O Presidente do Burkina Faso, Roch Marc Christian Kaboré sublinhou, por sua vez, que "as ameaças transcendem fronteiras. Nenhum país está seguro" e que "a escalada da violência levou a uma crise humanitária sem precedentes" no Sahel.
Na quinta-feira (12.09), dois soldados foram mortos em dois ataques em simultâneo no norte do Burkina Faso. É o mais recente de uma série de ataques mortíferos contra as forças de segurança do país.
Para o Presidente da Costa do Marfim, Alassane Ouattara, "a MINUSMA (a missão de paz da ONU no Mali) e o G5 Sahel não suficientes. Temos de encontrar mais e melhores meios de coordenação".
Também Mahamadou Issoufou insistiu que "a comunidade internacional não pode ignorar e tem de assumir as suas responsabilidades".
A CEDEAO vai também pedir ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional que considerem os gastos com segurança um "investimento" e angariar apoios junto dos doadores ocidentais e árabes na luta contra o extremismo islâmico, disse o Presidente do Níger.
Na semana passada, o secretário-geral da ONU, António Guterres, apresentou um cenário sombrio: "Acredito plenamente que não estamos a vencer a guerra contra o terrorismo no Sahel e que a operação deve ser reforçada".
Missões de paz da ONU em África
Os capacetes azuis da Organização das Nações Unidas têm intervido em vários países africanos. A MONUSCO, missão de paz da ONU na República Democrática do Congo, é a maior e mais cara de todas. Mas há várias.
Foto: picture-alliance/AA/S. Mohamed
RD Congo: a maior missão da ONU
Desde 1999, que a Organização das Nações Unidas (ONU) tenta pacificar a região oriental da República Democrática do Congo (RDC). A missão conhecida como MONUSCO conta com cerca de 20 mil soldados e um orçamento anual de 1,4 mil milhões de euros. Ainda que esta seja a maior e mais cara missão da ONU, a violência no país persiste.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler
Darfur: impotente contra a violência
A UNAMID é uma missão conjunta da União Africana e da ONU na região de Darfur, no Sudão, considerada por alguns observadores um fracasso. “O Conselho de Segurança da ONU deve trabalhar mais arduamente para encontrar soluções políticas, em vez de gastar dinheiro no desdobramento militar a longo prazo”, afirmou o especialista em segurança, Thierry Vircoulon.
Foto: picture-alliance/dpa/A. G. Farran
Sul do Sudão: fechar os olhos ao conflito?
A guerra civil no Sul do Sudão já fez com que, desde 2013, mais de quatro milhões de pessoas abandonassem as suas casas. Alguns estão abrigadas em campos de ajuda da ONU. Mas, quando os confrontos entre as forças do Governo e os rebeldes começaram na capital Juba, em julho de 2016, os capacetes azuis não foram bem sucedidos na intervenção.
Foto: Getty Images/A.G.Farran
Mali: mais perigosa missão da ONU no mundo
As forças de paz da ONU no Mali têm estado a monitorizar o cumprimento do acordo de paz realizado entre o Governo e a aliança dos rebeldes liderada pelos tuaregues. No entanto, grupos terroristas como o AQMI continuam a levar a cabo ataques terroristas que fazem com que a Missão da ONU no Mali (MINUSA) seja uma das mais perigosas do mundo. A Alemanha cedeu mais de 700 militares e helicópteros.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler
RCA: abusos sexuais fazem manchetes
A missão da ONU na República Centro-Africana (MINUSCA) não ajudou a melhorar a imagem das Nações Unidas no continente africano. As tropas francesas foram acusadas de abusar sexualmente de crianças pela campanha Código Azul. Três anos depois, as vitimas não têm ajuda da ONU. Desde 2014, 10 mill soldados e 1800 polícias foram destacados para o país. A violência diminuiu, mas a tensão mantém-se.
Foto: Sia Kambou/AFP/Getty Images
Saara Ocidental: Esperança numa paz duradoura
A missão da ONU no Saara Ocidental, conhecida por MINURSO, está ativa desde 1991. Cabe à MINURSO controlar o conflito existente entre Marrocos e a Frente Polisário que defende a independência do Saara Ocidental. Em 2016, Marrocos, que ocupa este território desde 1976, dispensou 84 funcionários da MINURSO após um discurso do secretário-geral da ONU que o país não aprovou.
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Costa do Marfim: um final pacífico
A missão da ONU na Costa do Marfim cumpriu o seu objetivo a 30 de junho de 2016, após 14 anos. As tropas têm vindo a ser retiradas, gradualmente, o que, para o ex secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, significa “um ponto de viragem das Nações Unidas na Costa do Marfim”. No entanto, apenas depois da retirada total das forças e a longo prazo é que se saberá se a missão foi ou não bem sucedida.
Foto: Getty Images/AFP/I. Sanogo
Libéria: missão cumprida
A intervenção da ONU na Libéria chegou ao fim. Desde o fim da guerra civil, que durou 14 anos, que a Missão da ONU na Libéria (UNMIL) tem assegurado a estabilidade na Libéria e ajudado a construir um Estado funcional. O Governo do país quer agora garantir a segurança da Libéria. O país ainda está a lutar com as consequências de uma devastadora epidemia do Ébola que o assolou.
Foto: picture-alliance/dpa/K. Nietfeld
Sudão: Etiópia é promotora da paz?
Os soldados da Força de Segurança Interina da ONU para Abyei (UNISFA) patrulham esta região, rica em petróleo, e que, tanto o Sudão, como o Sudão do Sul, consideram ser sua. Mais de quatro mil capacetes azuis da Etiópia estão no terreno. A Etiópia é o segundo maior contribuinte para a manutenção da paz no mundo. No entanto, o seu exército é acusado de violações de direitos humanos no seu país.
Foto: Getty Images/AFP/A. G. Farran
Somália: Modelo futuro da União Africana?
As forças de paz da ONU na Somália estão a lutar sob a liderança da União Africana numa missão conhecida como AMISOM. Os soldados estão no país africano para combater os islamitas al-Shabaab e trazer estabilidade ao país devastado pela guerra. Etiópia, Burundi, Djibouti, Quénia, Uganda, Serra Leoa, Gana e Nigéria contribuem com as com suas tropas para a AMISOM.