Reunidos em Bissau, chefes das Forças Armadas de países da CEDEAO reconheceram que será complexa a atuação de uma eventual Força de Alerta para combater o terrorismo e restituir a ordem após golpes de Estado.
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Reunidos em Bissau, os chefes das Forças Armadas de países da Comunidade Económica de Estados da África Ocidental reconheceram que será complexa a atuação de uma eventual Força de Alerta da CEDEAO para combater o terrorismo e restituir a ordem após golpes de Estado.
Os chefes das Forças Armadas de países da Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) reconheceram em Bissau ser complexa a atuação de uma eventual Força de Alerta da CEDEAO, também designada de "Força anti-golpe".
A posição está expressa no relatório final da reunião extraordinária do Comité de chefes do Estado-Maior da CEDEAO, realizada em Bissau, na segunda-feira, citado pela agência de notícias Lusa.
Na sua anterior reunião realizada no dia 4, na Nigéria, os chefes de Estado da CEDEAO orientaram os líderes das Forças Armadas da comunidade no sentido de apresentarem propostas, opções, modalidades, meios financeiros e técnicos para ativação da Força de Alerta da CEDEAO (FAC), também designada, nos meios políticos de "Força anti-golpe".
A FAC teria como missão o combate ao terrorismo e também para restituir a ordem constitucional em casos de golpes de Estado em qualquer dos 15 países da CEDEAO.
Necessidade "urgente"
Na sua intervenção na abertura da reunião da cúpula militar na segunda-feira, a ministra dos Negócios Estrangeiros da Guiné-Bissau, Suzy Barbosa reconheceu a urgência da criação de uma força que fizesse frente ao terrorismo, mas também às alterações da ordem constitucional nos países da CEDEAO.
"A nossa sub-região tem sido perturbada por fenómeno grave de terrorismo e extremismo violento e tem sido assolada por vagas de golpes de Estado e tomadas de poder por via inconstitucional manifestada por transições que representam as nossas fragilidades", destacou ainda a chefe da diplomacia guineense.
18 meses de golpes e tentativas de golpe na África Ocidental
07:57
Recurso à força será "difícil"
Com as ausências dos chefes das Forças Armadas do Burkina Faso, Guiné-Conacri e Mali, países recentemente saídos de golpes de Estado e alvo de sanções da CEDEAO, os líderes militares da comunidade analisaram duas opções sobre a possibilidade da ativação da FAC.
O relatório destaca que das duas opções, os chefes militares concluíram ser de difícil aplicação qualquer opção que implicará o recurso à força e que será sempre necessário um mandato e ainda dotar a FAC de meios.
"Deve notar-se, contudo, que esta intervenção é complexa e a sua implementação poderá revelar-se difícil, especialmente quando a população e/ou uma grande parte das Forças Armadas apoiam a mudança anticonstitucional no país em questão", assinala o relatório.
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Debate continua
Os chefes militares apelaram à comissão da CEDEAO no sentido de criar um grupo de planeamento e afinar opções a serem apresentadas novamente para discussão que deverão envolver todos os países-membros da comunidade, incluindo os três atualmente alvo de sanções.
Os líderes militares da CEDEAO entendem que a questão da segurança deve envolver todos os países da comunidade, lê-se ainda no relatório final.
Fazem parte da CEDEAO, Cabo Verde, Costa do Marfim, Benin, Burkina Faso, Guiné-Bissau, Gâmbia, Gana, Guiné-Conacri, Libéria, Mali, Níger, Nigéria, Serra Leoa, Senegal e Togo.
Golpes de Estado em África: Um mal endémico
Em menos de um ano, o continente africano viveu oito golpes e tentativas de golpe de Estado. A maior parte aconteceu na África Ocidental, região do continente mais fértil para as intentonas. Não há fator surpresa.
Foto: Radio Television Guineenne/AP Photo/picture alliance
Níger: Tentativa de golpe fracassada
A tentativa de golpe de Estado aconteceu a 31 de março de 2021, dois dias antes da tomada de posse do Presidente Mohamed Bazoum. Na capital, Niamey, foram detidos alguns membros do Exército por detrás da tentativa. O suposto líder do golpe é um oficial da Força Aérea encarregado da segurança na base aérea de Niamey. O Níger já sofreu 4 golpes de Estado: o último, em 2010, derrubou Mamadou Tandja.
Foto: Bernd von Jutrczenka/dpa/picture alliance
Chade: Uma sucessão com sabor a golpe de Estado
Pouco depois do marechal Idriss Déby ter vencido as presidenciais, morreu em combate contra rebeldes. A 21 de abril de 2021, o seu filho, o general Mahamat Déby, assumiu a liderança do país, sem eleições, nomeando 15 generais para o Conselho Militar de Transição, entre eles familiares seus. Idriss governou o Chade por mais de 30 anos com mão de ferro e o filho dá sinais de lhe seguir os passos.
Foto: Christophe Petit Tesson/REUTERS
Mali: Um golpe entre promessas de eleições
O coronel Assimi Goita foi quem derrubou Bah Ndaw da Presidência do Mali a 24 de maio de 2021. Justifica que assim procedeu porque tentava "sabotar" a transição no país. Mas Goita prometeu eleições para 2022 e falou em "compromisso infalível" das Forças Armadas na defesa da segurança do país. Pouco depois, o Tribunal Constitucional declarou o coronel Presidente da transição.
Foto: Xinhua/imago images
Tunísia: Um golpe de Estado sem recurso a armas
No dia 25 de julho de 2021, Kais Saied demitiu o primeiro ministro, seu rival, Hichem Mechichi, e suspendeu o Parlamento por 30 dias, o que foi considerado golpe de Estado pela oposição, que convocou manifestações em nome da democracia. Saied também levantou a imunidade dos parlamentares e garantiu que as decisões foram tomadas dentro da lei. Nas ruas de Tunes, teve o apoio da população.
Foto: Fethi Belaid/AFP/Getty Images
Guiné-Conacri: Um golpista da confiança do Presidente
O dia 5 de setembro de 2021 começou com tiros em Conacri, uma capital que foi dominada por militares. O Presidente Alpha Condé foi deposto e preso pelo coronel Mamady Doumbouya - que dissolveu a Constituição e as instituições. O golpista traiu Condé, que o tinha em grande estima e confiança. Doumboya tinha demasiado poder e não se entendia com a liderança da ala castrense.
Foto: Radio Television Guineenne via AP/picture alliance
Sudão: Golpe compromete transição governativa
A 25 de outubro de 2021, os golpistas começaram por prender o primeiro ministro, Abdalla Hamdok, e outros altos quadros do Governo para depois fazerem a clássica tomada da principal emissora. No comando estava o general Abdel Fattah al-Burhan, que dissolveu o Conselho Soberano. Desde então, o Sudão vive manifestações violentas, com a polícia a ser acusada de uso excessivo de força.
Foto: Mahmoud Hjaj/AA/picture alliance
Burkina Faso: Golpe de Estado festejado
A turbulência marcou o começo do ano, mas a intentona foi celebrada em grande nas ruas da capital, Ouagadougou. A 23 de janeiro de 2022, o tenente-coronel Paul Damiba liderou o golpe de Estado ao lado do Exército. Ao Presidente Roch Kaboré não restou outra alternativa se não demitir-se. Tal como os golpistas de outros países, comprometem-se a voltar à ordem constitucional após consultas.
Foto: Facebook/Präsidentschaft von Burkina Faso
Guiné-Bissau: Intentona ou "inventona"?
Tiros, alvoroço, mortos e feridos no Palácio do Governo marcaram o dia 1 de fevereiro de 2022 em Bissau. O Presidente Umaro Sissoco Embaló diz que os golpistas queriam matá-lo e ao primeiro ministro, Nuno Nabiam. Houve algumas detenções, mas até hoje não se conhece o líder golpista. No país, acredita-se que tudo não passou de um "teatro" orquestrado pelo próprio Presidente, amplamente contestado.