CEDEAO de novo em Bissau: "Humilhação" para os guineenses?
17 de dezembro de 2024A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) vai enviar uma missão de "alto nível" para apoiar os guineenses na resolução da crise política no país. O sociólogo Mamadu Alimo Djaló diz que a incapacidade de resolver os problemas internos e a necessidade de ajuda externa configura uma "humilhação" para os guineenses.
A crise em Bissau assenta atualmente na escolha das datas das eleições legislativas e presidenciais. Apesar da onda de auscultações realizada pelo Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, os partidos divergem quanto ao melhor momento.
No comunicado final da última Conferência dos Chefes de Estado que teve lugar no domingo (15.12), na Nigéria, a CEDEAO apelou aos políticos guineenses para que continuem o diálogo inclusivo, "para chegar a um acordo".
"É preciso muita cautela"
À DW África, o sociólogo Mamadu Alimo Djaló diz que não há motivos para satisfação."É verdade que temos que dar algum crédito a organizações internacionais, mas com organizações como a CEDEAO é preciso ter muita cautela", afirma.
"Nós, enquanto guineenses, se não formos capazes de pensar pelas nossas próprias cabeças e andar com os nossos próprios pés, acabamos por sofrer humilhação desse género, que é trazer pessoas de outras quadrantes para resolver os nossos problemas internos", acrescenta o analista.
Para o jurista Fodé Mané, a intenção da CEDEAO não está clara no comunicado. "Quando tivermos a lista da composição desta eventual missão, quem vai chefiá-la, quais são os seus antecedentes, a forma de estar [da missão] e a agenda do trabalho, com quem a missão se vai encontrar e qual será a forma de dialogar com as diferentes partes, só partir daí é que poderemos avaliar a real intenção da CEDEAO", frisa.
Fodé Mane critica a "passividade" da organização da África Ocidental em relação aos problemas da Guiné-Bissau e volta a dar exemplo do último comunicado da organização para sustentar a sua posição.
"Encorajar a continuidade do diálogo em curso. Qual é o diálogo que temos? Há auscultações [promovidas pelo Presidente da República] que não passam 10 minutos. Isso pode ser chamado de diálogo? E sobre a procura de consenso sobre as datas das eleições [legislativas e presidenciais], sabemos que a nossa legislação é clara sobre [a data] da realização das eleições", afirma.
Adiamento 'sine die'
As eleições legislativas antecipadas foram adiadas em novembro passado 'sine die'. Sobre a data das presidenciais, ainda nada se sabe.
Os opositores de Sissoco Embaló defendem a eleição de um novo Presidente, tendo em conta o fim do seu mandato em fevereiro. No entanto, o Chefe de Estado diz que a votação para a escolha do seu sucessor só será em novembro de 2025, porque o seu mandato só termina em setembro do próximo ano.
O sociólogo Mamadu Alimo Djaló insiste na solução interna para os problemas do país: "Com as nossas capacidades, podemos de forma muito clara chegar ao consenso, porque temos um documento-mãe que espelha na prática todos os caminhos que nós devíamos seguir, sem criar conflitos".