CEDEAO discute golpe de Estado no Níger no domingo
gcs | com agências
28 de julho de 2023
Líderes da África Ocidental reúnem no domingo para discutir a situação no Níger. ONU diz que Presidente deposto "está bem". Abdourahmane Tchiani apresentou-se hoje como novo chefe de Estado.
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De farda militar, boina castanha e com a bandeira do Níger ao fundo, Abdourahmane Tchiani explicou hoje na televisão porque é que os militares do autointitulado Conselho Nacional para a Salvaguarda da Pátria (CNSP) se rebelaram.
"As ações do CNSP foram motivadas unicamente pelo desejo de preservar a nossa pátria amada face ao agravamento da situação de segurança no país e sem qualquer solução efetiva para a crise", afirmou.
A junta militar golpista suspendeu a Constituição. "Enquanto se aguarda o regresso à ordem constitucional normal, o CNSP exerce todos os poderes legislativos e executivos", lê-se na "Ordem 2023-01 de 28 de julho", a primeira emitida pela junta militar golpista.
Abdourahmane Tchiani autoproclamou-se como chefe de Estado.
O Presidente Mohamed Bazoum continua detido. Segundo Nicole Kouassi, representante no Níger do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, "aparentemente, o Presidente está em casa e está bem".
"Mas queremos reiterar o apelo do secretário-geral da ONU [António Guterres] para a necessidade de libertar Mohamed Bazoum o mais depressa possível", acrescentou.
Comunidade internacional reprova
Os líderes da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) encontram-se no domingo na capital da Nigéria, Abuja, para discutir a situação no Níger.
"Na sequência do golpe de Estado na República do Níger, que derrubou o regime político constitucional neste país da África Ocidental, [...] o Presidente [da Nigéria] Bola Tinubu acolherá uma reunião especial dos líderes da região no domingo, 30 de julho, em Abuja", declarou o porta-voz da Presidência nigeriana, Dele Alake, em comunicado.
Já as Nações Unidas anunciaram a suspensão das operações humanitárias "enquanto o país enfrenta uma situação humanitária complexa relacionada com o aumento da violência, os desafios socioeconómicos e as alterações climáticas", declarou o Gabinete para a Coordenação dos Assuntos Humanitários (OCHA).
A CEDEAO, a União Africana e a União Europeia condenaram o golpe de Estado. O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, ameaçou que "qualquer rutura da ordem institucional terá consequências na cooperação" com o Níger, "incluindo a suspensão imediata de todo o apoio orçamental".
Golpes de Estado em África: Um mal endémico
Em menos de um ano, o continente africano viveu oito golpes e tentativas de golpe de Estado. A maior parte aconteceu na África Ocidental, região do continente mais fértil para as intentonas. Não há fator surpresa.
Foto: Radio Television Guineenne/AP Photo/picture alliance
Níger: Tentativa de golpe fracassada
A tentativa de golpe de Estado aconteceu a 31 de março de 2021, dois dias antes da tomada de posse do Presidente Mohamed Bazoum. Na capital, Niamey, foram detidos alguns membros do Exército por detrás da tentativa. O suposto líder do golpe é um oficial da Força Aérea encarregado da segurança na base aérea de Niamey. O Níger já sofreu 4 golpes de Estado: o último, em 2010, derrubou Mamadou Tandja.
Foto: Bernd von Jutrczenka/dpa/picture alliance
Chade: Uma sucessão com sabor a golpe de Estado
Pouco depois do marechal Idriss Déby ter vencido as presidenciais, morreu em combate contra rebeldes. A 21 de abril de 2021, o seu filho, o general Mahamat Déby, assumiu a liderança do país, sem eleições, nomeando 15 generais para o Conselho Militar de Transição, entre eles familiares seus. Idriss governou o Chade por mais de 30 anos com mão de ferro e o filho dá sinais de lhe seguir os passos.
Foto: Christophe Petit Tesson/REUTERS
Mali: Um golpe entre promessas de eleições
O coronel Assimi Goita foi quem derrubou Bah Ndaw da Presidência do Mali a 24 de maio de 2021. Justifica que assim procedeu porque tentava "sabotar" a transição no país. Mas Goita prometeu eleições para 2022 e falou em "compromisso infalível" das Forças Armadas na defesa da segurança do país. Pouco depois, o Tribunal Constitucional declarou o coronel Presidente da transição.
Foto: Xinhua/imago images
Tunísia: Um golpe de Estado sem recurso a armas
No dia 25 de julho de 2021, Kais Saied demitiu o primeiro ministro, seu rival, Hichem Mechichi, e suspendeu o Parlamento por 30 dias, o que foi considerado golpe de Estado pela oposição, que convocou manifestações em nome da democracia. Saied também levantou a imunidade dos parlamentares e garantiu que as decisões foram tomadas dentro da lei. Nas ruas de Tunes, teve o apoio da população.
Foto: Fethi Belaid/AFP/Getty Images
Guiné-Conacri: Um golpista da confiança do Presidente
O dia 5 de setembro de 2021 começou com tiros em Conacri, uma capital que foi dominada por militares. O Presidente Alpha Condé foi deposto e preso pelo coronel Mamady Doumbouya - que dissolveu a Constituição e as instituições. O golpista traiu Condé, que o tinha em grande estima e confiança. Doumboya tinha demasiado poder e não se entendia com a liderança da ala castrense.
Foto: Radio Television Guineenne via AP/picture alliance
Sudão: Golpe compromete transição governativa
A 25 de outubro de 2021, os golpistas começaram por prender o primeiro ministro, Abdalla Hamdok, e outros altos quadros do Governo para depois fazerem a clássica tomada da principal emissora. No comando estava o general Abdel Fattah al-Burhan, que dissolveu o Conselho Soberano. Desde então, o Sudão vive manifestações violentas, com a polícia a ser acusada de uso excessivo de força.
Foto: Mahmoud Hjaj/AA/picture alliance
Burkina Faso: Golpe de Estado festejado
A turbulência marcou o começo do ano, mas a intentona foi celebrada em grande nas ruas da capital, Ouagadougou. A 23 de janeiro de 2022, o tenente-coronel Paul Damiba liderou o golpe de Estado ao lado do Exército. Ao Presidente Roch Kaboré não restou outra alternativa se não demitir-se. Tal como os golpistas de outros países, comprometem-se a voltar à ordem constitucional após consultas.
Foto: Facebook/Präsidentschaft von Burkina Faso
Guiné-Bissau: Intentona ou "inventona"?
Tiros, alvoroço, mortos e feridos no Palácio do Governo marcaram o dia 1 de fevereiro de 2022 em Bissau. O Presidente Umaro Sissoco Embaló diz que os golpistas queriam matá-lo e ao primeiro ministro, Nuno Nabiam. Houve algumas detenções, mas até hoje não se conhece o líder golpista. No país, acredita-se que tudo não passou de um "teatro" orquestrado pelo próprio Presidente, amplamente contestado.